Viagem de Jesus ao país dos Reis Magos e ao Egito

Revelações História

Viagem de Jesus ao país dos Reis Magos e ao Egito

De acordo con as revelações da Ven. Ana Catarina Emmerick

CLEMENS BRENTAN, BERNARD E. E WILLIAM WESENER

AS VISÕES E REVELAÇÕES DA VENERÁVEL

ANA CATARINA EMMERICK

TOMO IX

A VIDA DE JESUS CRISTO E DE SUA SANTÍSSIMA MÃE

Viagem de Jesus ao país dos Reis Magos e ao Egito

De acordo con as revelações da Ven. Ana Catarina Emmerick

Jesus vai de Misael, a cidade levítica, através de Tanach, Naim, Azanot e Damna até Cafarnaum

A chegada dos apóstolos e discípulos a Cafarnaum

Jesus ensina os novos discípulos sobre a oração e as Oito Bem-aventuranças

Jesus em Betabará e Jericó. Zaqueu, o publicano

 

Jesus a caminho de Betânia. A ressurreição de Lázaro

Jesus começa a viagem para a terra dos Três Reis Magos

Jesus em Cedro

Jesus vai a Sicar-Cedro e ensina sobre o mistério do casamento

 

Jesus ressuscita um homem morto

Jesus Chega à Primeira Cidade de Tendas dos Adoradores da Estrela

Celebração Noturna dos Adoradores das Estrelas

Jesus encontra uma tribo pastoral

 

Um maravilhoso globo

Abolição da adoração a idolos

Jesus continua sua viagem à cidade das tendas dos Reis

Jesus é cerimoniosamente escoltado pelo Mensor ao seu castelo de tendas

 

Jesus no Templo dos Reis. Festa da Aparição da Estrela.

Chegada do chefe de uma tribo estranha

Jesus deixa a cidade das tendas dos Reis, e vai visitar Azarias, o sobrinho de Mensor, no assentamento de Atom

A cura maravilhosa de duas mulheres doentes

 

Jesus vai a Sicdor, Mozian e Ur

Jesus vai ao Egito, ensina em Heliópolis e volta à Judéia pelo deserto

Jesus vai de Misael, a cidade levítica, através de Tanach, Naim, Azanot e Damna até Cafarnaum

Ao norte do subúrbio e em uma descida a meio caminho da parte alta, encontrava-se o belo jardim de lazer de Misael, com uma magnífica vista do golfo. Mais alto na colina, podia-se ver o lago, ou pântano, de Cendevia e Libnath, a "Cidade das Águas", que ficava a uma hora e meia de distância. Era mais perto do mar, que ali fazia uma curva na terra, do que Misael, que ficava a duas horas do mar. Debasete ficava cinco horas a leste do Cison, e Nazaré, cerca de sete. Jesus andou no jardim com Seus discípulos e contou a parábola de um pescador que saiu para o mar para pescar, e pegou quinhentos e setenta peixes. Ele lhes disse que um pescador experiente colocaria em água pura os peixes bons e ruins encontrados, que, como Elias, purificaria as fontes e os poços, que removeria os peixes bons da água ruim, onde os peixes de rapina os devorariam, e que faria para eles novos lagos de desova em água melhor. Jesus introduziu na parábola também o acidente que tinha acontecido no banco de areia, com aqueles que, por vontade própria, não haviam seguido o dono dos vasos. Os cipriotas que haviam seguido a Jesus não puderam conter as lágrimas quando O ouviram falar sobre a tarefa laboriosa de transportar peixes de água ruim para água boa. Jesus mencionou claramente e precisamente o número de "quinhentos e setenta bons peixes" que haviam sido salvos, e disse que isso era realmente suficiente para pagar o trabalho. Ele falou de Chipre aos levitas, que se regozijaram de que judeus daquele país iam para lá. Muitos vinham também de Ptolomeu, e passavam por ali. Tratava-se de medidas a tomar. Jesus falou do perigo que os ameaçava ali, e os levitas perguntaram ansiosamente se os pagãos de seu país alguma vez se tornariam tão poderosos a ponto de se revelarem perigosos. Jesus respondeu com uma alusão ao julgamento que cairia sobre todo o país, ao perigo que o ameaçava e ao castigo que atingiria Jerusalém. Seus ouvintes não conseguiam compreender como Ele poderia voltar a Jerusalém. Mas Ele disse que ainda tinha muito a fazer antes da consumação de Seus trabalhos. A siro-fenícia de Ornitópolis enviou ali por alguns dos discípulos pequenas barras de ouro e placas do mesmo metal acorrentadas juntas. Ela desejava enviar um de seus barcos para Chipre, a fim de facilitar a fuga de Mercuria da ilha.
A convite dos levitas, Jesus os acompanhou a Misael, uma cidade muito antiga, cercada por muralhas e torres, na última das quais habitavam alguns pagãos. Isabel tinha por muito tempo peregrinado ali com seu pai, que exercia as funções de um levita, e Zacarias também foi uma vez a Misael. Isabel nasceu numa casa de campo isolada a duas horas de Misael, na planície de Esdrelon. A propriedade pertencia a seus pais, e ela depois a herdou. No seu quinto ano ela entrou no Templo. Quando ela o deixou, voltou por algum tempo a Misael e, depois de passar outro período na casa em que ela nasceu, foi para a casa de Zacarias na Judéia. Jesus falou dela e de João. Ele insistiu em termos tão significativos sobre o ofício de João como precursor do Messias, que era fácil adivinhar quem era Ele mesmo.
Enquanto estava na cidade, Jesus foi com os levitas, para visitar e curar os doentes de várias famílias. Alguns dos inválidos eram crianças, e vários dos adultos eram aleijados. Estenderam a Jesus as mãos envoltas em faixas de linho. Jesus visitou também a casa de Simeão, e depois passou para a sinagoga, onde Ele encerrou os exercícios do sábado. Ali, as mulheres ficavam em uma espécie de tribuna alta, não muito longe da cadeira do professor. O ensino de Jesus focava-se no sacrifício pelo pecado e em Sansão. Ele ensaiou os principais feitos deste último, e falou dele como de um santo cuja vida era profética. Sansão, disse Jesus, não perdeu toda a sua força, pois conservara o suficiente para fazer penitência. Sua derrubada do templo pagão sobre si mesmo se deu por causa de uma inspiração especial de Deus.
Judas, que gostava de executar missões comerciais, e Tomé, cuja família possuía balsas no porto e que era bem conhecido ali, foram com vários discípulos a Hefa para fazer arranjos para os esperados cipriotas.
Enquanto isso, Jesus, com cerca de dez de Seus discípulos, entre eles Saturnin, foram para a cidade levítica de Tanach, onde foram recebidos pelos anciãos da sinagoga. Os fariseus ali, embora não fossem inimigos declarados de Jesus, ainda assim eram astutos e estavam atentos para prendê-Lo em Seu discurso. Vi isso pela sua própria linguagem equívoca. Disseram que Ele, sem dúvida, visitaria os seus doentes, e perguntaram-Lhe se Ele faria a mesma caridade a um homem que havia estado em Cafarnaum, e que agora estava em estado de grande sofrimento. Pensavam que Jesus recusaria ver este último, que se havia mostrado um dos Seus mais acérrimos opositores em Cafarnaum. Sua doença atual, uma muito singular de fato, eles supunham ser uma punição por sua conduta naquela ocasião. Ele soluçava e vomitava continuamente, a parte superior do seu corpo estava constantemente convulsionado, e ele estava visivelmente ansioso. Ele era um homem entre trinta e quarenta anos, e tinha esposa e filhos. Quando Jesus foi ter com ele, perguntou-lhe se acreditava que podia curá-lo. O pobre homem, bastante abatido e envergonhado de sua conduta anterior, respondeu: Sim, Senhor! Eu acredito! Então Jesus pôs uma mão sobre a cabeça dele e a outra sobre o peito dele, orou sobre ele e ordenou que se levantasse e tomasse alguma comida. O homem levantou-se e, com lágrimas, agradeceu a Jesus, assim como a esposa e os filhos. Jesus dirigiu-lhes algumas palavras graciosas e consoladoras, mas não fez a menor alusão ao procedimento do homem contra Ele. Naquela noite, quando os fariseus viram o homem curado aparecer na sinagoga, renunciaram completamente a todo desejo de contradizer Jesus em Seu discurso. Ele ensinou sobre o cumprimento das profecias; de João Batista, o Precursor do Messias, e do próprio Messias. Suas palavras eram tão significativas que seus ouvintes puderam concluir prontamente que ele estava aludindo a si mesmo.
De Tanac, Jesus foi a uma oficina de carpinteiro, onde José havia trabalhado pela primeira vez depois de fugir de Belém. Era um edifício em que uma dúzia de pessoas estavam envolvidos totalmente na fabricação de artigos de madeira. Eles moravam em pequenas casas ao redor do recinto. A loja em que José havia trabalhado estava agora ocupada pelos descendentes de seu patrão. Eles já não trabalhavam no negócio, mas empregavam pessoas pobres para esse fim. As mercadorias, que consistiam em tábuas finas, varas, telas raladas e treliças, e eram exportadas principalmente em barcos. O relato ainda era corrente naquele lugar de que o pai do Profeta já havia trabalhado ali, mas eles não sabiam mais distintamente se era José de Nazaré ou não. Naquela ocasião, pensei: 'Se essas pessoas, depois de tão curto período de tempo, sabem tão pouco sobre essas coisas, certamente não é surpreendente que nós também saibamos tão pouco.' Jesus deu uma catequese no pátio adjacente à oficina, tomando por tema o amor ao trabalho e a sede de ganho.
De Thanach, Jesus foi para Sião, um lugar antigo e horrível a duas horas a oeste de Tabor. Com sua antiga cidadela e sinagoga, perto da qual moravam alguns fariseus, ela ficava um pouco alta. Abaixo e muito atrás de algumas muralhas nas margens do Cison, havia um grupo de casas cuja localidade não era muito saudável. As muralhas eram tão altas que não se podia ver por cima delas. Os ocupantes dessas casas pareciam depender daqueles acima deles, pelos quais eram oprimidos e atormentados. Jesus, em Sua catequese dada na sinagoga, censurou os fariseus que impunham sobre os outros pesados fardos em que eles mesmos não tocavam, a opressão do próximo e a sede de poder. Ele falou também do Messias que, disse Ele, seria muito diferente do que eles esperavam. Jesus tinha ido a Sião a fim de consolar as pessoas pobres e oprimidas. Ele visitou seu bairro baixo, estreito e obscuro da cidade, e curou vários pobres doentes em suas cabanas, a maioria deles de gota e paralisias. Os fariseus baniram todos os doentes para aquele lugar miserável, no qual mal podiam respirar ar fresco. Jesus e os discípulos deram aos pobres presentes de linho e tiras de outros materiais.
Jesus e os discípulos partiram de lá para Naim em cerca de uma hora e meia. Vários discípulos e o jovem de Naim, a quem Jesus havia ressuscitado dentre os mortos, vieram ao encontro d'Ele junto ao poço fora da cidade, de modo que Jesus tinha com Ele agora cerca de doze discípulos, embora não houvessem apóstolos. Os discípulos pertencentes a Jerusalém haviam vindo da Cidade Santa com algumas das santas mulheres, ao passo que outros, tendo celebrado a Festa de Pentecostes com Maria em Nazaré, esperavam em Naim, na viagem de volta, a vinda de Jesus. Ele se hospedou numa pousada preparada para Ele em Naim, numa das casas pertencentes à viúva, a quem foi ver pouco depois de Sua chegada. A parte feminina da família saiu velada ao Seu encontro no pórtico do pátio interno, e prostrou-se aos Seus pés. Jesus os saudou graciosamente e os acompanhou até a sala de recepção. Havia cinco mulheres presentes, além da própria viúva; a saber, Marta, Madalena, Verônica, Joana Chusa e a sufanita. Elas, as mulheres santas, sentavam-se separadamente no fim do corredor, numa espécie de ponte levantada como um longo e baixo sofá. Eles se sentavam de pernas cruzadas em almofadas e tapetes. O assento que ocupavam estava elevado o suficiente para mostrar os pés sobre os quais repousavam. As mulheres ficaram em silêncio até que Jesus se dirigiu a elas, e então cada uma falou por sua vez. Relataram-lhe o que acontecia em Jerusalém, e contaram a Jesus as armadilhas que Herodes havia posto contra Ele. Tornaram-se tão animados em sua narração que Jesus levantou o dedo e os censurou por sua preocupação mundana e seu julgamento dos outros. Então, ele lhes contou tudo sobre Chipre, sobre os que havia ganho para a verdade, e falou em palavras de amor ao governador romano em Salamina. Quando as mulheres expressaram como sua opinião que seria bom ele também deixar a ilha, Jesus respondeu: Não. Ele deve ficar lá e prestar serviço a muitas almas até que a Minha própria obra seja consumada. Depois, outro o sucederá, e ele também se mostrará amigo da Comunidade.
A Madalena e a Suphanita não estavam tão bonitas como eram. Estavam pálidas e magras, e seus olhos estavam vermelhos de choro. Martha era muito enérgica, e em assuntos de negócios muito falante. Johanna Chusa era uma mulher alta, pálida, vigorosa, de modos graves, mas ao mesmo tempo ativa. Verônica tinha em seu comportamento algo muito parecido com Santa Catarina, era franca, decidida e corajosa. Quando as santas mulheres estavam assim reunidas, costumavam trabalhar diligentemente, costurando e preparando para a comunidade todo tipo de coisas, que eram distribuídas entre suas pousadas particulares ou guardadas nos depósitos.
Destes últimos, os apóstolos e os discípulos supriram as suas próprias necessidades, bem como as dos pobres. Quando não havia trabalho especial desse tipo a ser feito, as santas mulheres passavam o tempo costurando para as sinagogas pobres. Eles geralmente tinham com eles suas servas, que os precediam ou os seguiam em suas viagens, e carregavam os vários materiais, às vezes em bolsas de couro, às vezes presos ao cinto sob o manto. Essas empregadas vestiam trajes e túnicas curtas que se ajustavam bem. Quando as santas mulheres ficavam por algum tempo em qualquer lugar, suas empregadas voltavam e esperavam sua chegada em algumas das pousadas ao longo da rota. A empregada da Verónica esteve com ela durante muito tempo. Ela permaneceu em seu serviço mesmo depois da morte de Jesus.
Quando, no sábado, Jesus voltou a entrar na sinagoga, não entrou na cadeira dos mestres, mas ficou com seus discípulos no lugar em que os mestres viajantes costumavam ficar. Mas, depois de dar-lhe as boas-vindas e de se fazer a oração, os rabinos o obrigaram a tomar o seu lugar diante dos rolos abertos do Livro e a lê-los. A Lição do Sábado tratou dos levitas, da murmuração do povo, das codornizes enviadas por Deus e do castigo que caiu sobre Miriã; (Números 8-12) e do profeta Zacarias, algumas passagens referentes à vocação dos gentios e ao Messias. (Zach. 2:10; 4:8). As palavras de Jesus eram severas. Ele disse que os pagãos ocupariam os lugares dos judeus obstinados no Reino messiânico. Sobre o Messias, Ele disse que não O reconheceriam como tal, porque Ele seria totalmente diferente do que esperavam. Entre os fariseus havia três mais insolentes do que os outros; eles haviam estado na comissão em Cafarnaum. A cura do fariseu em Tanac os havia afligido muito, e disseram que Jesus a havia efetuado apenas para que os fariseus daquele lugar pudessem conivência em Seus atos. Eles o aconselharam a ficar quieto e a não violar o sábado com as suas curas. Eles disseram: "É como se Ele voltasse para onde veio e deixasse de criar qualquer agitação". Jesus respondeu que cumpriria os deveres de Sua missão, viajando e ensinando até que Sua hora chegasse. Os fariseus não deram entretenimento a Jesus em Naim. Estavam cheios de rancor contra Ele, porque Sua doutrina e caridade atraíam para Ele todos os pobres, os miseráveis e os simples de coração, que a severidade deles os afastava.
A estação, por volta dessa época, em Naim era indescritivelmente agradável. Jesus fez a viagem do dia de sábado com os discípulos, a quem Ele revelou, em palavras muito sérias e confidenciais, Seu próprio futuro.
Exortou-os a permanecerem fiéis, pois muitos sofrimentos e perseguições os aguardavam. Eles não deveriam, disse Ele, escandalizar-se com Ele. Ele não os abandonaria, nem eles deveriam abandoná-Lo, embora o tratamento que Ele iria receber colocaria à prova a fé deles. Os discípulos ficaram comovidos até as lágrimas. Eles foram para o jardim de Maroni, a viúva, onde também foram as mulheres santas. Jesus falou-lhes sobre a reconciliação que havia ocorrido entre os casais em Mallep, e referiu-se especialmente à reconciliação entre o casal com o qual Ele uma vez havia tomado uma refeição, e que havia resolvido se mudar para a Palestina. Ele também falou de Mercuria, dizendo que ela se juntaria primeiro à siro-fenícia, que também estava se preparando para deixar Ornitópolis. Eles iriam primeiro para Gessur e de lá prosseguiriam. Muitas pessoas já haviam deixado Chipre, e certo número em breve desembarcariam em Jope.
Quando Jesus saiu do jardim com os discípulos, a fim de fechar o sábado na sinagoga, encontrou no caminho vários doentes que haviam sido levados ali em camas. Eles estenderam as mãos para ele, implorando por sua ajuda, e ele os curou. E assim ele chegou à sinagoga onde também alguns outros tinham-se transportado em suas camas. Havia entre eles um homem doente de gota e terrivelmente inchado, e havia outros que, na Sua última viagem, Jesus recusara curar, porque não tinham fé pura. Ele os havia permitido continuar em seus sofrimentos para que pudessem finalmente ser levados a implorar sua cura com mais humildade. E agora os fariseus, estavam muito indignados com Jesus por curar esses enfermos, porque tinham espalhado a notícia de que Ele não podia fazer isso. Eles criaram um grande clamor e gritaram sobre o que chamaram de Sua profanação do sábado. Mas Jesus continuou com as curas até que sete foram concluídas.
Jesus respondeu aos fariseus enfurecidos com severidade, perguntando-lhes se era proibido fazer o bem no sábado; se eles não se alimentavam, cuidavam de si mesmos, no dia de sábado; se a cura desses doentes não era em si mesma uma santificação do dia de sábado; se eles não deveriam consolar os aflitos no dia de sábado; se deveriam reter na posse de bens injustamente adquiridos no dia de sábado; se, no dia de sábado, deveriam deixar em sua aflição as viúvas, os órfãos e os pobres, a quem haviam oprimido e atormentado durante toda a semana; e Ele os repreendeu profundamente por sua hipocrisia e opressão dos pobres. Ele lhes disse abertamente que, sob o pretexto de prover para a sinagoga, que já tinha um excedente de tudo o que era necessário, eles extorquiam os bens dos pobres, e naquela mesma sinagoga tornavam a Lei para eles um fardo pesado; mas, não contentes com isso, agora os impediam de receber a graça de Deus no sábado, impedindo que recebessem a saúde no sábado, enquanto eles mesmos, no sábado, festejavam e bebiam o que impiedosamente lhes haviam arrancado. Com estas palavras, Jesus silenciou os fariseus, e todos entraram na sinagoga. Os fariseus colocaram diante de Jesus os rolos da Escritura e convidaram-no a ensinar. Eles diziam isso para que pudessem prendê-lo e acusá-lo. Quando, então, Jesus aludiu à era do Messias e disse que muitos pagãos se juntariam ao povo de Deus naquele tempo, perguntaram-Lhe zombando se Ele mesmo não teria ido a Chipre, a fim de trazer os pagãos de volta com Ele. Jesus falou igualmente dos dízimos, da imposição de fardos aos outros e de não carregá-los eles mesmos, e da opressão dos órfãos e das viúvas, pois desde o Pentecostes até a Festa dos Tabernáculos os dízimos eram trazidos ao Templo. Mas, em lugares distantes de Jerusalém, como era o caso, os levitas os recolhiam. E era ali que surgiam os abusos, pois os fariseus extorquiam os dízimos do povo e os convertiam para seu próprio uso. Foi contra isso que Jesus acusou. Os fariseus ficaram muito indignados e, ao sair da sinagoga, deram vazão ao seu baço.
De Naim, Jesus subiu com alguns dos discípulos ao alto do outro lado do Cison. Em direção ao nordeste, chegaram a Rimom, onde havia uma escola sob a responsabilidade de alguns levitas. Estes agora vieram à escola para encontrar Jesus, que ensinou aos jovens e meninos pequenos numa praça aberta em frente à escola. Ali também se ajuntavam muitas pessoas que já haviam ouvido os ensinamentos de Jesus em Naim. Explicou às crianças os deveres gerais impostos pela Lei mosaica, mas não se alargou diante delas sobre os perigos do tempo presente, como costumava fazer perante Seu público mais idoso. Rimom consistia numa longa fileira de casas numa encosta da montanha. Os habitantes eram na sua maioria jardineiros e vinhateiros que despejavam seus frutos em Naim e trabalhavam também nos jardins daquele lugar. De Rimom, Jesus subiu pelo lado leste do monte Tabor. Ele foi acompanhado por boa parte do caminho pelos levitas que haviam recolhido as ofertas do dízimo em Rimom. Depois de uma viagem de cerca de três horas, Ele chegou a Belém, um lugar em ruínas a leste da cidade de Dabereth. Compunha apenas uma fileira de casas ocupadas por camponeses pobres, a quem Jesus visitava em suas casas, encorajando-os em suas misérias e curando os doentes.
Saindo de Belém, ele viajou por cerca de quatro horas pelo vale em que havia o poço de Cafarnaum, e, ao anoitecer, chegou a Azanoth, onde tinha uma pousada particular. Ali Ele encontrou alguns amigos de Cafarnaum esperando por Ele: Jairo e sua filha; o homem cego de Cafarnaum a quem Ele havia restaurado a visão; as parentes do sexo feminino de Enue, a mulher curada do fluxo sanguíneo; e Lea, a mulher que havia clamado a Ele: "Bendito o ventre que te gerou". As mulheres, com os véus abaixados, ajoelharam-se diante de Jesus, e Ele as abençoou. Eles derramaram lágrimas de alegria ao vê-Lo novamente, a filha de Jairo estava bem e cheia de vida, e também bastante mudada, pois agora era devota e modesta. Jesus ensinou até tarde da noite. No dia seguinte, Ele foi para Damma, onde Ele tinha fora da cidade uma hospedaria privada, administrada por um parente da família de José. Lázaro e dois discípulos de Jerusalém estavam esperando por Ele. De fato, Lázaro já tinha estado oito dias nessas partes cuidando dos imóveis em terras e casas da propriedade Magdalum, onde apenas os bens domésticos e coisas semelhantes pertencentes a Madalena ainda tinha sido removidos. Jesus abraçou Lázaro, um favor que Ele estava acostumado a fazer apenas a ele e aos Apóstolos e discípulos mais velhos; aos outros, Ele apenas estendeu Suas mãos. Jesus falou dos cipriotas, daqueles que O acompanharam e daqueles que mais tarde seguiriam, e fez alguns comentários sobre como deveriam ser sustentados. Ouvi nessa ocasião que Tiago, o Menor, e Tadeu deveriam prosseguir para Gessur, a fim de receber e acompanhar os sete filósofos pagãos que deveriam chegar lá. Jesus tratou Lázaro com notável confiança. Nesta ocasião, eles caminharam sozinhos juntos por um longo tempo. Lázaro era um homem alto, grave e gentil e muito auto-possuído de maneira. Moderado em todas as coisas, até mesmo suas relações familiares com os outros eram marcadas por algo que carregava um ar de distinção. Seu cabelo era preto e ele tinha alguma semelhança com José, embora seus traços fossem mais rígidos e mais marcantes. O cabelo de José era amarelo, e havia algo incomumente terno, gentil e prestativo em todo o seu comportamento.
De Damma Jesus com Lázaro, os discípulos, o mordomo da estalagem, juntamente com seu filho, que logo seria admitido no número dos discípulos, foram quase duas horas para leste, à aldeia pertencente ao centurião Zorobabel de Cafarnaum. Estava situada no lado sul de uma colina rochosa que se fechava no vale de Cafarnaum, ao sul, e sobre a qual se encontravam os jardins e vinhas do centurião. Ali Jesus ensinou os servos e os trabalhadores do campo. Ele tomou por Seu texto o Messias e a iminente vinda de Seu Reino, anunciou-lhes os sinais enumerados pelos Profetas e mostrou como todos eles se cumpriram, advertiu-os e implorou-lhes para corrigir suas vidas, e lhes assegurou que o Messias não apareceria sob a forma esperada pelos judeus, conseqüentemente, somente o pequeno número dos humildes e contritos O reconheceria. Disse-lhes também que o Messias tornaria conhecidas Suas doutrinas pelos lábios de mais de um, assim como Ele havia falado anteriormente pela boca de muitos profetas. Trouxeram a Jesus alguns mudos melancólicos e possuídos. Ele colocou Seu dedo molhado com saliva sob suas línguas, e ordenou a Satanás que se afastasse, e então vi alguns deles cair inconscientes e depois se levantarem curados, enquanto outros caíram em convulsões por um curto período, após o que também foram restaurados à perfeita saúde. Todos louvavam a Deus e agradeciam por sua cura. Depois disso, Jesus, tomando um caminho solitário, foi a casa de Sua Mãe, no vale a leste de Cafarnaum, a uma distância de cerca de três quartos de hora.
As santas mulheres já estavam com a Santíssima Virgem, que, havia vindo de Naim pela estrada direta. Elas não sairam da casa para receberem Jesus, nem Maria correu para encontrar seu Filho. Depois de lavar-se e vestir o manto, Jesus entrou no grande apartamento, no qual vários pequenos nichos estavam isolados por cortinas. Maria, com a cabeça coberta, baixa e humilde, estendeu a mão para Ele quando Ele pronunciou a Sua primeira palavra, e Ele a cumprimentou gentilmente, mas ainda assim, gravemente. As demais mulheres estavam veladas, formando um semicírculo nas costas. Eu vi Jesus quando estava com Maria, para consolando-a e fortalecendo-a, apertando-a ao Seu peito enquanto conversava com ela. Mas a própria Maria, desde que Ele saiu para ensinar, tratou-O como alguém trataria um santo, um Profeta; ou como uma mãe trataria seu filho se ele fosse um Papa, um Bispo ou um Rei. Ainda assim, havia algo muito mais nobre, mais santo no comportamento de Maria, embora marcado ao mesmo tempo com indescritível simplicidade. Ela agora nunca O abraçava, mas apenas estendia a mão quando Ele oferecia a Sua.
Algum tempo depois, vi Jesus e Maria comendo juntos, sozinhos. Uma pequena mesa baixa ficava entre eles. Jesus reclinou-se de um lado, e Maria sentou-se do outro. Na mesa havia um peixe, pão, mel, bolos e dois jarros pequenos. As outras mulheres santas estavam nas pequenas repartições cortinadas em grupos de duas ou três, ou em um salão lateral servindo o jantar dos discípulos, entre os quais haviam vários parentes. Jesus falou a Sua Mãe sobre Chipre e as almas que Ele havia ganhado ali. Ela expressou sua alegria calmamente, mas fez poucas perguntas. Suas palavras eram principalmente de solicitude materna sobre os perigos que O esperavam. Jesus respondeu gentilmente que cumpriria Sua missão até chegar a hora de Ele voltar para Seu Pai.

A chegada dos apóstolos e discípulos a Cafarnaum

Pouco depois de Jesus voltar a Cafarnaum, havia cerca de trinta discípulos reunidos ao seu redor. Alguns vieram da Judéia com a notícia da chegada a Jope de barcos trazendo duzentos judeus cipriotas, que estavam ali para serem recebidos por Barnabé, Mnason e seu irmão. João, que ainda estava em Hebrom com os parentes de Zacarias, foi encarregado de providenciar alojamentos adequados para esses emigrantes. Os essênios também se ocupavam com os mesmos cuidados. Por algum tempo, os cipriotas foram alojados nas grutas até que pudessem ser designados destinos apropriados. Lázaro e a siro-fenícia providenciaram assentamentos perto de Ramote-Gileade para os judeus emigrantes da região de Ornitópolis. Os discípulos que recentemente chegaram a Cafarnaum se hospedaram, alguns em casa de Pedro, fora da cidade, outros em Betsaida, e outros na escola da própria cidade. Tiago, o Menor, e Tadeu vieram de Gessur com três dos filósofos pagãos - jovens finos e bonitos que haviam recebido a circuncisão. André e Simão também vieram com vários outros discípulos, e a recepção que receberam foi muito comovente. Jesus, de acordo com o Seu costume, apresentou o recém-convertido à Sua Mãe. Havia um entendimento tácito, um acordo interior entre Jesus e Maria, de que ela deveria tomar os discípulos em seu coração, em suas orações, em suas bênçãos e, até certo ponto, em seu próprio ser, como seus próprios filhos e irmãos de Jesus, de que ela deveria ser sua Mãe espiritual, como era Sua Mãe por natureza. Maria fez isso com singular seriedade, ao passo que Jesus, em tais ocasiões, a tratava com grande solenidade. Havia nessa cerimônia de adoção algo tão sagrado, algo tão interior, que eu sou incapaz de expressar. Maria era a videira, o ouvido, parte da carne e do sangue de Jesus.
Os discípulos relataram onde estioveram e tudo o que lhes tinha acontecido. Em alguns lugares, haviam sido atirados pedras contra eles, mas não os atingiram; de outros, foram obrigados a fugir, mas em toda a parte; estavam maravilhosamente protegidos. Também haviam encontrado pessoas boas, curado, batizado e ensinado, tendo Jesus mandado que fossem somente às ovelhas perdidas de Israel. Também haviam procurado os judeus nas cidades pagãs, embora sem se intrometerem com os gentios, exceto com os que eram servos dos judeus. Em Gazora, a nordeste de Jabes de Gileade, André e os discípulos que o acompanhavam haviam resgatado escravos judeus da escravidão, sacrificando para este fim tudo o que possuíam. Perguntaram a Jesus se haviam feito bem, e Ele respondeu afirmativamente. Jesus não ouviu tudo o que alguns deles tinham a dizer. Muitos deles, ao relatarem com entusiasmo e de certa maneira com calor suas labores missionárias, Jesus interrompeu com palavras algo como estas: Eu já sabia disso. A outros, que falavam de modo simples e humilde, Ele ouviu por um longo período de tempo, e chamou os silenciosos a relatarem o que lhes tinha acontecido. Quando os que Ele interrompia perguntaram por que Ele não ouvia a sua parte, Jesus respondia mostrando-lhes a diferença entre a sua própria fala e a dos seus irmãos.
Frequentemente também interrompia suas narrativas com parábolas; por exemplo, a do joio semeado entre a boa semente e que, depois de crescer, devia ser queimado no tempo da colheita. Ele disse que todo o que havia sido semeado não cresceria.
Falou de vários que se haviam afastado dos discípulos, e exortou os presentes a não colocarem demasiada segurança em suas boas obras, pois ainda teriam de passar por grandes tentações. Ele contou a parábola do senhor indo longe para tomar posse de um reino estrangeiro. Confiou aos seus servos que ficaram para trás um certo número de talentos, dos quais, mais tarde, exigiria contas. Esta parábola se referia à viagem de Jesus a Chipre e ao relato que Ele agora exigia dos discípulos sobre a atividade deles durante Sua ausência. Enquanto falava, freqüentemente se voltava primeiro para um e depois para outro, cujos pensamentos ele adivinhava, com as palavras: "Por que estás pensando pensamentos inúteis?" ou, "Não pense assim!" ou, "Os teus pensamentos estão a tomar uma direção errada". Pensa desta maneira, e não daquela! Ele lia os pensamentos de Seus ouvintes e os repreendia de acordo com eles.
Quando a hora do começo do sábado soou, Jesus entrou com os discípulos na sinagoga, onde encontrou os fariseus já de pé à volta da sala de ensino. Mas Jesus caminhou direto até ela, e imediatamente fizeram lugar para ele. A catequese era sobre Raabe e os espiões enviados por Josué a Jericó. (Núm. 13, 14; Jos. 2). Os fariseus ficaram furiosos com o que chamaram de audácia de Jesus, e disseram uns aos outros: "Deixai-o agora falar. Esta noite, ou quando o Sábado acabar, faremos um conselho e em breve encontraremos meios para fechar os Seus lábios. Jesus, conhecendo a maldade deles, observou que eram espiões de um tipo muito peculiar, pois não tinham vindo para descobrir a verdade, mas para trair a Ele e a Seus seguidores. Sua linguagem contra eles foi muito severa, e Ele falou igualmente da destruição de Jerusalém, e do julgamento reservado para os do povo que não se arrependeriam e nem reconheceriam o reinado do Messias. Ele introduziu em Seu discurso também a parábola do rei cujo filho foi morto na vinha pelos servos infiéis. Os fariseus não ousavam interrompê-Lo. Todas as santas mulheres estavam presentes na sinagoga, onde tinham lugares reservados para elas.
Naquela tarde, Jesus, a pedido fervoroso dos pais de algumas crianças doentes, foi com alguns dos discípulos a cerca de vinte casas de Cafarnaum, tanto dos ricos como dos pobres, e curou muitas crianças, meninos e meninas de três a oito anos de idade. A doença devia ter sido uma espécie de epidemia, pois todos foram afetados da mesma maneira. A cor dos pequenos doentes era bastante amarela, com a garganta, as bochechas e as mãos inchadas. A sua condição era semelhante à daquele criado com muitas outras doenças, a escarlatina, por exemplo. Jesus não os curou todos da mesma maneira. Em alguns Ele pôs Suas mãos sobre as partes afetadas, em outros Ele ungiu com cuspe, e em outros Ele soprou. Muitos deles se levantaram de uma só vez. Jesus os abençoou e os entregou aos pais deles com algumas palavras de exortação. Para outros, Ele ordenou a oração e um certo tipo de tratamento. Isto era para o bem maior tanto das crianças como dos pais. A praça de Cafarnaum ficava numa elevação, e quatro ruas iam até ela. Jesus visitou esta parte da cidade e entrou na casa de Inácio, a quem curou. O rapaz era uma criança adorável de cerca de quatro anos. Os pais dele eram ricos. Estavam empenhados na venda de vasos de latão ou bronze, pois vi muitos deles em pé em longos corredores. Por alguns dias, os pais de Inácio haviam implorado a Jesus que os visitasse, pois Ele acabara de curar o filho de seu vizinho, o comerciante de tapetes. O mercado era cercado por arcadas, nas quais os produtos dos vários comerciantes estavam expostos à venda. No centro, havia uma fonte, e em cada extremidade erguiam-se dois grandes edifícios.
Os fariseus estavam cheios de ira por causa dessas curas. Três deles foram para o pátio diante da casa de Pedro, nos pórticos dos quais jaziam os doentes que haviam sido transportados para lá, e que Jesus estava agora curando. Forçaram-se a atravessar a multidão até estarem diante dele. Então se dirigiram a ele, sugerindo que ele não curasse, que não provocasse uma perturbação no sábado, e expressaram o desejo de entrar em discussão com ele. Mas Jesus se afastou deles, dizendo que não tinha nada a ver com eles, que não podia curá-los, visto que eram incuráveis.
Na sessão de encerramento do sábado, naquela noite, Jesus novamente ensinou na sinagoga. Falou da murmuração dos israelitas sobre as notícias trazidas pelos espiões enviados para ver a Terra Prometida, da maldição que caiu sobre eles, em conseqüência da qual pereceram no deserto, e somente a seus filhos foi permitido ver a Terra Prometida. Ele deu ênfase especial à maldição e à bênção, das quais falou em termos muito enérgicos. Daí, passou a falar dos que falsificam as coisas relativas ao Reino de Deus, dos que nunca entrarão nele, do não reconhecimento do Messias e do castigo que ameaçava Jerusalém e todo o país. E agora, dois dos fariseus, subindo à tribuna do professor, começaram a comentar algumas passagens da Lição do Dia, na qual estava registrado que Deus havia ordenado a Moisés no deserto que fizesse com que certo homem fosse apedrejado por todo o povo por ter recolhido lenha no dia de sábado.
Este fato foi citado pelos fariseus como argumento contra as curas realizadas no sábado. Jesus respondeu perguntando se a saúde dos pobres e necessitados, era como a lenha, destinada ao fogo; que na hipocrisia, sem vida e inflexível, havia muito mais da natureza da madeira, e promover escândalo na cura dos pobres, não era a caridade criticadora de quem tinha trave nos próprios olhos Não era um não - reuoniam-se, porém, para preparar alimentos para si mesmos, para classificá-los como pedras de tropeço no caminho da verdade, para usá-los como combustível para destilar o veneno da discórdia e da perseguição. Não era permitido receber no sábado aquilo pelo qual oramos no sábado, e também dar a outros no mesmo dia, se o tivermos? Então Jesus explicou-lhe as passagens da Lei que se referem ao trabalho manual. Ele disse que era proibido apenas no sábado deixar o homem livre para realizar exercícios espirituais. Como poderia o sábado impedir a cura dos enfermos, visto que tais curas santificavam o sábado? Desta forma Jesus refutou os fariseus e os confundiu tanto que eles não tinham mais nada a dizer. Alguns de seus ouvintes ficaram comovidos com suas palavras. Eles refletiam silenciosamente sobre o que tinham ouvido, enquanto outros juntavam as cabeças, dizendo: "Sim! Ele é! Ele é o Messias! Nenhum homem, nenhum profeta poderia ensinar dessa maneira!" Olhares significativos foram trocados entre a multidão em geral, pois o povo se alegrou com a humilhação dos fariseus, e alguns, porém, teimosos, tornaram-se ainda mais endurecidos, como os fariseus.
Depois que cerca de quinze discípulos se reuniram em Cafarnaum, Jesus levou-os consigo ao monte perto de Betsaida, onde ele havia ensinado sobre comer a sua carne e beber o seu sangue. Nesta ocasião, Seu ensino se voltou para sua própria missão e trabalho, e o fruto que deveriam produzir. As mulheres santas estavam presentes. Nesta instrução, Jesus contou a parábola dos trabalhadores na vinha. Ele elogiou e encorajou os discípulos e os abençoou em um corpo, estendendo as mãos sobre suas cabeças, e eles novamente se encheram de força e coragem.
Na tarde daquele dia, Pedro, Tiago, o Maior, e Mateus, juntamente com alguns dos antigos discípulos de João, foram saudar Jesus em casa de Sua Mãe. Pedro derramou lágrimas de alegria. Durante a refeição que tomaram juntos, Jesus novamente contou a parábola do pescador, os quinhentos e setenta peixes e seu transporte para a água boa, a mesma sobre a qual Ele havia ensinado em Misael, também em Cafarnaum diante das santas mulheres e dos discípulos. Da mesma forma, todas as outras parábolas eram muitas vezes repetidas e explicadas de várias maneiras por ele. No dia seguinte, ele desceu com os apóstolos e os discípulos para os barcos. O grande barco de Pedro e o de Jesus estavam amarrados juntos a certa distância da costa. Deixaram-nos flutuar sobre a água sem remo ou leme, pois Jesus queria conversar com os discípulos sem ser perturbado pela multidão. Era um dia lindo. Eles tinham estendido as velas acima de cabeça para a sombra, e eles não voltaram até a noite. Pedro estava muito ansioso para falar, e relatou com certa complacência o quanto de bem haviam feito. Jesus virou-se para ele, e mandou-o ficar calado. Pedro, que tanto amava o seu Senhor, imediatamente manteve a sua calma, e viu com pesar que tinha sido novamente muito ardente. Judas desejava veementemente o louvor, embora não tivesse a franqueza de deixá-lo aparecer. Ele estava mais atento, porém, de não ser envergonhado do que de não pecar.
Quando considero a vida de Jesus e Sua viagem com Seus Apóstolos e discípulos, a certa convicção muitas vezes se impõe sobre mim de que, se Ele viesse agora entre nós, Ele encontraria dificuldades ainda maiores do que em Seu próprio dia. Quão livremente Ele e Seus seguidores poderiam então andar por aí ensinando e curando! Com exceção dos fariseus, completamente endurecidos e vaidosos como eram, ninguém colocava obstáculos em Seu caminho. Até mesmo os próprios fariseus não sabiam em que fundamento estavam com ele. Deveras, sabiam que havia chegado o tempo da Promessa, no qual as profecias deveriam ser cumpridas, e viam nEle algo irresistível, algo santo e maravilhoso. Quantas vezes os vi sentados consultando os Profetas e os antigos comentários sobre eles! Mas, jamais concordariam com o que liam, pois esperavam um Messias muito diferente de Jesus. Pensavam que Ele seria seu amigo, um de sua própria seita, e ainda assim não se atreveram a decidir sobre Jesus. Até mesmo muitos dos discípulos pensavam que Ele certamente possuía algum poder secreto, uma conexão com alguma nação ou rei. Imaginavam que Ele um dia assentaria no trono de Jerusalém, o santo rei de um povo santo, e que então eles mesmos ocupariam posições desejáveis em Seu Reino e também se tornariam santos e sábios. Jesus permitia que pensassem isso por algum tempo. Outros olharam para o assunto num sentido mais espiritual, embora não fossem tão longe quanto a humilhação da Crucificação. Mas, muito poucos agiram por meio de amor santo e inspirado pelo Espírito Santo.
Quando finalmente todos os Apóstolos retornaram de suas missões, os últimos a chegarem sendo Tomé, João e Bartolomeu, Jesus foi com eles a Caná, onde também vieram os setenta discípulos e as santas mulheres de Cafarnaum. Numa elevação no centro da cidade havia uma cadeira de professor, da qual Jesus ensinava, tomando como assunto Sua própria missão e sua realização. Ele disse que Ele não tinha vindo a este mundo para desfrutar dos confortos e prazeres da vida, e que era tolice exigir dEle qualquer outra coisa além do cumprimento da vontade de Seu Pai. Ele disse em termos mais significativos do que nunca que Ele mesmo era Aquele tão esperado, mas que seria recebido apenas por poucos, e que, quando Sua obra estivesse terminada, retornaria a Seu Pai. Ele falou com advertência e súplica, implorando aos seus ouvintes com toda a sinceridade para não rejeitarem a salvação e o momento de graça. Ele novamente apontou o cumprimento das Profecias. Seu ensino era tão maravilhoso, tão impressionante, que os habitantes de Caná disseram uns aos outros: "Ele é mais do que um profeta! Nunca ninguém falou assim em Israel!
Na casa do pai da Noiva de Caná, foi dado um banquete, no qual os pobres do lugar foram alimentados e lhes foram concedidos presentes. Jesus e os Apóstolos serviam. No fim da festa, Jesus contou a parábola das virgens sábias e das tolas, explicou-a aos Seus ouvintes e falou muito sobre a próxima vinda do Noivo. Era uma espécie de festa comemorativa do casamento em Caná, pois agora, como então, todos os Apóstolos, discípulos e amigos estavam novamente reunidos. A casa estava decorada com flores, e as urnas de água do primeiro milagre estavam novamente em uso. Crianças, carregando grinaldas e pirâmides de flores, entraram no salão festivo tocando instrumentos musicais. Bartolomeu, Natanael Chased, e alguns dos discípulos fizeram alguns belos lemas relativos aos casamentos espirituais da alma com Deus.
De Caná, Jesus foi com todos os apóstolos e discípulos ao monte da instrução, perto de Gabara. Caminhavam devagar em grupos e freqüentemente paravam em volta de Jesus para ouvir Suas palavras. Ele era muito afetuoso com eles e muitas vezes os dirigia com as palavras: Meus amados filhos! Mandou-lhes que relatassem sua experiência, que contassem como as coisas tinham sido com eles. Os apóstolos falaram primeiro. Eles haviam relatado nos dias anteriores algumas de suas experiências, embora não todas. Agora, cada um devia ouvir o que os outros haviam feito e tudo o que lhes tinha acontecido. Jesus disse-lhes tão docemente: "Meus queridos filhinhos, agora se verá quem Me amou e em Mim Meu Pai Celestial; quem publicou a palavra da salvação e operou curas para fazer a Minha vontade, não a sua própria, ou não por causa da vazia fama". Então começaram a relatar sua experiência: primeiro, um Apóstolo, e depois dele, o discípulo que o acompanhara. Isto ocorreu principalmente numa colina que ficava a cerca de duas horas do monte de instrução e a mesma distância de Caná. As pessoas costumavam subir por causa da vista, que por aquelas partes era um pouco limitada.
Pedro começou a contar com entusiasmo sobre os diferentes tipos de possuídos que haviam caído em seu caminho, sua maneira de tratá-los, e como Satanás se havia retirado diante dele quando ordenado em nome de Jesus. Em seu entusiasmo, ele havia novamente esquecido a repreensão recebida a bordo do barco. Mais uma vez, ele estava cheio de fogo e zelo. Ele disse que, na terra dos gergeseus, encontrara um casal de possuídos que vários outros não conseguiram libertar do demônio. Ali ele nomeou os discípulos que não tiveram êxito, entre os quais estavam os dois gergeseus, que já haviam sido possuídos. Mas ele, Pedro, expulsara facilmente os demônios; eles imediatamente se submeteram a ele. Jesus silenciou-o com um olhar. Então, levantando os olhos para o céu, enquanto todos olhavam em expectativa sem fôlego, ele disse: "Eu vi Satanás caindo do céu como um relâmpago". E no mesmo momento, vi uma luz sinistra a girar e a disparar pelo ar. Jesus repreendeu a Pedro por seu calor excessivo, bem como a todos os outros que, quer em pensamento, quer em palavras, haviam cedido a um espírito de jactância. Deveriam, disse Ele, agir e trabalhar em Seu Nome e por Ele, com humildade e fé, nunca alimentando o pensamento de que alguém poderia fazer mais do que outro. Ele disse: "Eis que eu vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada vos fará mal. Contudo, não vos alegreis nisto, que os espíritos vos estão sujeitos, mas alegreis-vos nisto, que os vossos nomes estão escritos nos céus. Várias vezes Ele se dirigiu a eles com bondade e amor com as palavras: "Filhinhos amados", e ouviu o relato dado por muitos deles. Tomé e Natanael receberam repreensão por alguma negligência da qual haviam sido culpados, mas foram dadas com grande amor e sinceridade.
Enquanto estava de pé no monte, Jesus parecia ser penetrado pela alegria, grave e celestial, e Ele segurou Suas mãos levantadas para o Céu. Vi-O rodeado de esplendor que caiu sobre Ele como uma nuvem transparente de luz. Ele estava perfeitamente enraizado e, em um transporte de alegria, exclamou: "Confesso-te, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e prudentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi bom aos teus olhos. Todas as coisas me foram entregues pelo meu Pai, e ninguém sabe quem é o Filho senão o Pai, e quem é o Pai senão o Filho, e a quem o Filho o quer revelar. E então, voltando-se para os discípulos, disse: "Bem-aventurados os olhos que veem as coisas que vós vedes! Porque eu vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver as coisas que vós vedes, mas não as viram; e ouvir as coisas que vós ouvis, mas não as ouviram.
Chegando ao monte além de Gabara, Jesus deu instruções detalhadas sobre tudo o que os apóstolos lhe haviam relatado. Ele lhes ensinou muitas coisas que eles não conheciam antes, e lhes mostrou onde eles estavam errados ou apenas agiram com pouca determinação. Ele os esclareceu sobre os diferentes tipos de possessão e lhes ensinou como o demônio devia ser expulso. Ele falou de tudo o que estava reservado para eles, de Sua própria missão e de sua próxima realização, e disse-lhes que em breve os permitiria voltar para seus lares para descansar por algum tempo, depois do qual deveriam novamente trabalhar, ensinar e espalhar amplamente o Reino de Deus. Agradeceu-lhes por sua diligência e obediência, e então voltou com eles a Cafarnaum, onde chegaram ao cair da noite. Havia muitos outros no monte, além dos apóstolos e discípulos.
No sábado seguinte, Jesus ensinou na sinagoga de Cafarnaum, após a renúncia de Samuel do cargo de juiz. Suas palavras eram graves e contundentes. Os fariseus sentiram-se atacados por todos os lados, mas, como não podiam detectar nada de falso na doutrina de Jesus, de que O pudessem acusar, eles O censuraram com as imperfeições insignificantes que haviam descoberto nas ações de Seus discípulos. Disseram que Seus discípulos não observavam o jejum rigorosamente, que até arrancavam as espigas de milho no sábado, e recolhiam frutas à beira da estrada e as comiam, que eram ásperos e impuros em suas roupas, que entravam nas sinagogas com as roupas cobertas de poeira da viagem e sem as terem deixado decentemente, e que não eram fiéis quanto a lavar-se antes das refeições. Em seguida, Jesus proferiu um discurso cheio de censura severa contra os fariseus, no qual descreveu a sua conduta e ações, chamando-os de raça de víboras, que impunham sobre os outros fardos que de modo algum eles mesmos assumiam. Fez alusão aos seus passeios de sábado, à sua opressão aos pobres, à sua desonestidade no que dizia respeito aos dízimos, à sua hipocrisia. Eles culpavam, continuou ele, o cisco no olho de seu vizinho, ao passo que negligenciaram a trave em seu próprio olho, e ele terminou declarando que continuaria suas viagens, seus ensinamentos e suas curas, até o tempo de sua partida desta terra. Enquanto Jesus estava proferindo esta severa pregação, um jovem entre os fariseus, levantando-se subitamente e aproximando-se mais Dele, levantou as mãos para o Céu e clamou em alta voz: "Certamente, este é o Filho de Deus, o Santo de Israel! Ele é mais do que um profeta! E assim ele continuou a cantar louvores a Jesus numa melodia inspirada. Este incidente causou grande excitação em toda a sinagoga. Dois velhos fariseus agarraram o jovem pelo braço e o arrastaram para fora, ele proclamando o louvor de Jesus, que entretanto continuou com Seu discurso. Quando fora da sinagoga, o jovem declarou em voz alta e veementemente aos que lá se encontravam que havia se separado dos fariseus. Quando Jesus saiu da sinagoga, ajoelhou-se aos pés de Jesus e suplicou-lhe com fervor que fosse admitido entre os discípulos. Jesus concordou com a condição de deixar pai e mãe, dar tudo o que tinha aos pobres, tomar sua cruz e segui-Lo. Então, alguns dos discípulos, entre os quais estava Mnason, levaram o jovem com eles.
Naquela noite, Jesus encerrou os exercícios do sábado na sinagoga. Ele havia-se preparado para lá com os apóstolos e discípulos algum tempo antes da hora habitual, para que todos pudessem ouvir o que Ele tinha a dizer aos Seus seguidores e assim entenderem que Ele não tinha necessidade de ensinar em segredo. Neste ensinamento, Ele os advertiu contra os fariseus e os falsos profetas, ordenou-lhes que estivessem vigilantes, explicou a parábola dos servos bons e vigilantes e a contrastou com a do preguiçoso. Quando Pedro, durante o discurso, perguntou se Suas palavras se destinavam a todos os seus ouvintes ou apenas aos discípulos, Jesus agora se dirigiu a ele. Ele falou com ele como se fosse o dono da casa, o supervisor dos servos. Ele elogiou o bom hospedeiro, e ao mesmo tempo condenou severamente o negligente que não cumpriu seu dever.
Jesus continuou a ensinar até que os fariseus vieram para fechar o sábado, e quando Ele quis dar lugar a eles, eles muito educadamente se dirigiram a Ele com, "Rabi, explica a Lição", e colocaram o rolo das Escrituras diante Dele. Aí Jesus ensinou, de maneira muito impressionante, sobre a abdicação de Samuel do cargo judicial. Citou as palavras usadas por ele naquela ocasião: "Estou velho e de cabelos grisalhos" (1 Reis 12:2) e explicou-as de modo que os fariseus pudessem ver claramente que Ele as estava aplicando a Si mesmo. Ele disse algo parecido com isto: "Vocês têm Me tido tanto tempo entre vocês, e estão cansados de Mim. Vocês estão constantemente renovando vossas acusações, mas eu sou sempre o mesmo.
As perguntas de Samuel ao povo, "Cometi esta ou aquela injustiça contra vós? Roubei bois ou burros a alguém? Eu oprimi alguém? Jesus os citou como sendo de Deus e o Enviado de Deus, e a explicação que Ele deu deles apontou mais claramente para os doutores e fariseus que não se atreveram a fazer perguntas semelhantes às pessoas. O clamor dos israelitas por um rei pelo qual, como as nações pagãs, quisessem ser governados, e sua rejeição aos Juízes, significava, disse Jesus, sua expectativa perversa de um reino mundano, de um rei e de um Messias cercado de magnificência, com quem poderiam passar suas vidas em esplendor e prazer; um Messias que, em vez de expiar seus pecados e desordens por Seus próprios trabalhos, sofrimentos, penitência e satisfação, os envolveria junto com sua sujeira e vícios em seu rico manto de realeza, e até mesmo os recompensaria por seus crimes.
Que Samuel não cessou de orar pela nação e que com sua oração ele causou trovões e relâmpagos no céu acima deles, Jesus explicou como um efeito da compaixão de Deus pelos bons; e Ele lhes assegurou que o Enviado de Deus, a quem, em vez de receber, eles rejeitariam, também imploraria a misericórdia de Seu Pai por eles até o fim. A chuva e o trovão concedidos à oração, Jesus explicou como os sinais e maravilhas que deveriam assistir ao Enviado de Deus para despertar e converter os bons. Eles e seu rei, conforme Samuel havia dito, encontrariam favor perante Deus se andassem perante Aquele que não os rejeitaria. Então Jesus declarou-lhes que os justos receberão justiça e a graça do conhecimento, mas contra os ímpios, Samuel se levantará no julgamento. Jesus depois se referiu a Davi e a sua unção como rei em oposição a Saul, à separação do bom do mau e à destruição de Saul e de sua família.
Os fariseus tomavam cuidado em não contradizer a Jesus na sinagoga, para não serem envergonhados diante do povo (como era sempre o caso em tais ocasiões). Eles, porém, haviam resolvido de antemão atacá-Lo no entretenimento ao qual O haviam convidado, juntamente com os apóstolos e uma parte dos discípulos. Foi proferida numa sala aberta da casa do Diretor da sinagoga, e estavam presentes pelo menos vinte fariseus. Antes de tomarem seus lugares à mesa, um deles colocou diante de Jesus um grande lavatório, perguntando se Ele não queria lavar-se, e continuou a falar dos antigos e santos costumes e mandamentos dos israelitas, e convidou Jesus e Seus seguidores a observá-los. Mas Jesus o rejeitou. Ele disse-lhe que tinha percebido o seu truque, e não queria água dele. Enquanto estavam à mesa, começaram a discutir com ele sobre o discurso que ele havia pronunciado naquele dia. Mas Ele os condenou e confundiu de tal maneira que muitos deles se tornaram perfeitamente furiosos, e vários outros ficaram tão assustados e comovidos que durante a disputa, que continuaram a andar para cima e para baixo, doze deles se retiraram de seus colegas obstinados. Assim, diminuiu o número dos inimigos de Jesus.
Um dos jovens de Nazaré que tantas vezes, mas em vão, havia pedido para ser recebido entre os discípulos, apresentou-se novamente diante de Jesus com a pergunta: "Mestre, o que devo fazer para possuir a vida eterna?" Seguiu-se então a cena registrada no Evangelho (Lucas 10:25-37), e Jesus contou a história do samaritano compassivo. Enquanto isso, os fariseus censuraram Jesus por não receber o jovem entre Seus discípulos. Foi, disseram, porque o jovem era bem instruído, e Jesus sabia que não poderia silenciá-lo tão facilmente como os outros. Acusaram novamente os discípulos de conduta irregular, de impureza, de arrancarem as espigas de trigo no sábado, de colherem frutos à beira do caminho, de comerem fora do tempo, de terem sido mal criados, e de muitas outras coisas semelhantes. Eles censuraram Pedro em particular por ser um teimoso e brigão como seu pai. Jesus defendeu os discípulos. Deveras, poderiam alegrar-se, disse ele, enquanto o noivo estivesse com eles. Depois destas palavras, retirou-se, passando pelo belo cemitério perto da sinagoga, que ficava na direção da casa de Jairo, e dali pela estrada terrestre para Betsaida. Ele orou sozinho até depois da meia-noite, quando se retirou para a sua mãe. Os fariseus haviam contratado a multidão para atirar pedras contra os discípulos, mas Deus os protegeu. Eles não sabiam para onde Jesus tinha ido.
Os judeus que haviam emigrado de Chipre para a Palestina viviam primeiro em cavernas, mas gradualmente seu assentamento tornou-se uma cidade, que recebeu o nome de Eleutherópolis. Ficava a oeste de Hebrom e não muito longe do poço de Sansão. Mais de uma vez os judeus tentaram destruir a pequena colônia, mas depois de cada ataque desse tipo, os habitantes voltavam novamente. As cavernas ficavam debaixo da cidade, de modo que, em tempos de perseguição, os habitantes poderiam refugiar-se nelas. No primeiro ataque, que foi feito na época do apedrejamento de Santo Estevão, quando a colónia entre Ophel e Bethania foi destruída, e Mercuria perdeu a vida. O povo desta colônia freqüentemente ia ao Cenáculo e à igreja na Piscina de Betsaida, para levar lá suas ofertas e contribuições, e na destruição de Ophel eles fugiram para Eleutheropolis. José Barsabás, filho de Maria Cléofas e seu segundo marido Sabas, tornou-se o primeiro Bispo daquela cidade, e lá durante uma perseguição ele foi crucificado em uma árvore.

Jesus ensina os novos discípulos sobre a oração e as Oito Bem-aventuranças

No início do dia seguinte, Jesus deixou a casa de Maria com os discípulos mais recentes recebidos e ainda não bem instruídos, e, atravessando a estrada entre Cafarnaum e Betsaida, foi para aquele monte de instrução de onde Ele havia enviado os Apóstolos em suas respectivas missões. Era cerca de três horas de Cafarnaum. No caminho, Ele encontrou Manassom e alguns outros discípulos, junto com o fariseu convertido de Tanac, perto de Naim. Este último havia sido muito tocado pela cura de um fariseu em Tanach, e ainda mais profundamente impressionado pelo último discurso de Jesus no monte, além de Gabara. No Monte da Missão Apostólica, havia um lugar bem arrumado e sombreado para ensinar. No sopé da montanha havia uma longa cabana na qual jaziam dez pobres paralíticos pertencentes ao país vizinho, com os membros terrivelmente contorcidos. Eles eram cuidados pelos pastores do distrito. Jesus os curou e os ensinou.
Ali, na solidão do monte, os discípulos rogaram a Jesus que os ensinasse novamente a orar.
Ele fez isso, repetindo-lhes o Pai-Nosso, demorando-se por longo tempo em cada petição separada, e explicando-a com os mesmos exemplos que Ele havia usado numa ocasião anterior: o do homem que procura pão e bate persistentemente à porta de seu amigo até obter o que deseja; o da criança que pede um ovo ao seu pai, que certamente não lhe daria um escorpião; e, em suma, todas os outros exemplos que Ele já havia apresentado para mostrar os efeitos da oração perseverante e as relações paternas que existiam entre Deus e o homem. Ele ensinou a todos os Seus discípulos da mesma maneira, repetindo e repetindo a mesma instrução com comovente paciência e incansáveis dores, para que eles pudessem, por sua vez, repetir em toda a parte em suas missões exatamente as mesmas coisas. Dirigiu estas instruções aos discípulos assim como se faria entre crianças, questionando-as separadamente sobre as explicações que Ele havia dado, corrigindo-as e novamente explicando o que não tinham entendido.
Por fim, ele passou por toda a oração e deu a interpretação da palavra Amém, como tinha feito anteriormente em Chipre, dizendo que esta palavra contém tudo em si mesma, que é o começo e o fim da oração. Algumas outras pessoas e dois fariseus de Betsaida-Júlio chegaram enquanto Jesus falava, e também ouviram parte de Sua instrução. Um destes o convidou para jantar em sua casa em Betsaida-Julias, convite que Jesus aceitou.
Quando Ele e os discípulos partiram para Betsaida, dirigiram seus passos para o sul da ponte do Jordão. No caminho, chegaram a uma hospedaria, do outro lado de Betsaida, onde a Sua mãe, a viúva de Naim, Lea, e outras duas mulheres estavam à espera de despedir-se dele, pois Ele agora ia ensinar do outro lado do Jordão. Maria estava muito aflita. Ela teve um momento a sós com Jesus, na qual derramou abundantes lágrimas e rogou-lhe que não fosse a Jerusalém para a Festa da Dedicação do Templo. Ela falou tão suplicantemente e de uma maneira tão amorosa que eu senti que ela certamente deve adivinhar o santo destino de seu Filho. Jesus apoiou-a em Seu peito e a consolou gentil e amorosamente. Disse-lhe que tinha de cumprir a missão para a qual Seu Pai O tinha enviado e para a qual também Ela se tinha tornado Sua Mãe, e que ela devia continuar forte e corajosa, a fim de fortalecer e edificar os outros. Então, ele saudou as outras mulheres, e abençoou-as, e voltaram para Cafarnaum, enquanto ele e os discípulos foram para Betsaida-Julias, onde foi recebido pelos fariseus. Além dos da cidade, estavam presentes alguns outros de Paneas, pois era uma espécie de dia de festa em comemoração da queima dum mau livro escrito pelos saduceus. Os fariseus apresentaram suas antigas queixas contra Jesus. Quando estava prestes a tomar o Seu lugar à mesa, um deles puxou-O pelo braço, dizendo que estava admirado de que um homem que podia ensinar tão bem como Ele, fosse tão pouco atento às sagradas observâncias, a ponto de comer sem lavar-se. Jesus respondeu que os fariseus limpavam o exterior do copo e do prato, mas que dentro deles estavam cheios de maldade. A isso, o fariseu respondeu perguntando como Ele conhecia o estado de seu íntimo. Jesus respondeu que Deus, que formou o exterior, fez também o interior, e que Seu olho podia examiná-lo claramente. Os discípulos levaram Jesus para um lado e rogaram-lhe que não falasse com muito calor, pois poderiam ser expulsos, mas Ele os repreendeu por sua covardia.
Naquela noite, Jesus ensinou na sinagoga, mas não operou nenhuma cura, pois os fariseus haviam intimidado o povo. Eles eram muito orgulhosos, e tinham ali uma espécie de escola secundária.
De Betsaida-Julias, Jesus tomou uma direção nordeste em direção ao monte onde ocorreu a multiplicação dos pães. Ficava a cerca de uma hora e meia de Betsaida. Ali encontrou reunidos todos os apóstolos e discípulos, com muitas pessoas de Cafarnaum, de Cesaréia de Filipe e de outros lugares. Ele ensinou sobre a Oitava Bem-aventurança, "Bem-aventurados vós quando os homens vos odiarem e vos perseguirem por causa do Filho do Homem", também sobre a passagem "Ai dos ricos, para aqueles que estão cheios dos bens deste mundo, pois neles já têm sua recompensa; mas quanto a vocês, regozijem-se porque ainda está reservado para vocês. " Ele falou igualmente do sal da terra, da cidade na montanha, da luz no candelabro, do cumprimento da Lei, do oculto das boas obras, da oração feita na privacidade de um quarto e do jejum. A respeito da última mencionado, Jesus disse que elea devia ser praticado com alegria, com a unção da cabeça, e não ser transformado em um desfile de piedade pretensiosa. Passou a falar sobre a acumulação de tesouros no Céu, a liberdade da solicitude mundana, a impossibilidade de um homem servir a dois senhores, o portão estreito, a estrada larga, a árvore má com seu fruto mau, o homem sábio que edificou sobre um fundamento sólido, e o tolo que edificou sobre a areia. Este discurso durou mais de três horas. Durante ele, o público desceu uma vez ao pé da montanha para obter algo para comer. Jesus continuou a instruir os apóstolos e discípulos, exortando-os sobre todos os pontos sobre os quais havia falado quando os enviou para missões anteriores. Ele os animou a crer, a ter confiança e a perseverar. No dia seguinte, tendo o número de Seus ouvintes aumentado para vários milhares, Jesus ensinou novamente no monte. Por causa das caravanas que atravessavam essas partes, havia pessoas presentes de todas as partes do país, também muitos doentes e possuídos. Os fariseus presentes não haviam vindo para discutir, embora tivessem recebido alguns corretivos bastante severos durante o discurso. Os milagres de Jesus eram muito evidentes e as pessoas muito entusiasmadas com Ele, para lhes permitir uma palavra. O povo tinha comida com eles, e sentaram-se no chão para participar dela. Entre os curados estava um homem cego de Jericó, que também havia sido coxo. Um dos discípulos o havia curado de coxo, mas não lhe havia restaurado a visão. Ele era primo de Manaém. Este o levou até Jesus, que lhe restaurou a visão.
Os novos discípulos, a quem durante estes últimos dias Ele havia ensinado com admirável paciência, como crianças, por meio de perguntas e respostas, Jesus agora os enviava de dois em dois com as palavras: "Eu vos envio como ovelhas entre lobos". Um dos sobrinhos de José, de Arimatéia, chegou de Jerusalém com a notícia de que Lázaro estava doente.
Jesus manteve consigo somente os apóstolos Pedro, Tiago, João, Mateus e alguns dos discípulos, com os quais Ele foi ao escritório do porto de Mateus e de lá por mar até Dalmanuta. Eu o vi depois na cidade de Edrai, onde Ele ensinou no sábado, depois na cidade levítica de Bosra, e finalmente em Noba.
Em Noba, fora do bairro pagão da cidade, morava uma colônia de sinceros recabitas. Ao retornarem do cativeiro babilônico, encontraram sua cidade na posse dos pagãos, mas a retomaram e novamente se estabeleceram nela. Eles nutriam um ódio extraordinário contra os fariseus e os saduceus, a quem evitavam o máximo possível. Eles eram criadores de gado, e levavam uma vida muito rígida. Eles não bebiam vinho, exceto em certos dias de festa, e tenazmente seguiam a letra da Escritura. Jesus os admoestou sobre este ponto, e deu-lhes uma instrução sobre o espírito da carta. Eram muito humildes, e aceitavam boa parte de tudo o que Ele dizia. Muitos foram batizados, entre eles alguns pagãos, e muitos possuídos por demônios foram libertados do Maligno. Havia um hospital cheio destas pobres criaturas em Nobah. Pedro, Tiago e João curaram e ensinaram também. Jesus não encontrou oposição neste lugar, e efetuou uma maravilhosa quantidade de bem. Ele ficou na pousada perto da sinagoga. Noba era uma cidade livre que, embora pertencesse à Decápolis, governava a si mesma.
De Noba, Jesus viajou cinco horas para o sudoeste até a extremamente bela aldeia pastoril chamada de "Campo da Paz de Jacó". Recebeu esse nome do fato de que foi ali que ele acampou pela primeira vez, quando retornou à Palestina e foi perseguido por Labão. A cordilheira de Gileade (Gên. 31:25) surgia ali. Os pastores daquele lugar eram descendentes daquele Eleazar, servo de Abraão, que trouxera Rebeca para o filho de seu amo, Isaque. Entre eles também estavam alguns da posteridade daqueles povos que Melquisedeque havia libertado da tirania de Semiramis e estabelecido naquelas regiões. Eles se casaram depois com os descendentes de Eleazar. Havia três poços lindos neste lugar. Ficavam ao pé de uma linda colina em torno da qual, como se construídas em uma muralha verdejante, havia moradias frescas de pastores. De longe, poderia-se ter tomado por um terraço de montanha. O mais velho e mais honrado entre os proprietários de gado morava na colina, sobre a qual havia também um lugar para instrução. Longe de lá havia pastagens fechadas para camelos, jumentos e ovelhas, cada espécie tendo a sua própria, e perto das fontes havia reservatórios para abastecê-las. Os pastores moravam na vizinhança das fontes, sob tendas que repousavam em fundamentos sólidos. Havia longas fileiras de morangos, mas a visão mais bonita de todos era uma longa caminhada com paliçadas em ambos os lados sobre o qual havia uma videira, muitas vezes a uma distância de duzentos passos, carregado com frutas algo como calabresa. Essa caminhada levava da colina a Selcha e formava, por assim dizer, um arbor continuado. Alguns dias antes, os habitantes haviam celebrado uma festa comemorativa da libertação de seus antepassados da escravidão de Semiramis. Freqüentavam a sinagoga de Selcha, e de lá também vinham os instrutores para ensiná-los. Esta pequena aldeia era respeitada em todo o país e era vista como um monumento à memória de Jacó. Ali, a hospitalidade era exercida livremente. Por uma trivialidade, as caravanas árabes e todos os outros estrangeiros eram hospedados e cuidados pelos pastores.
Por volta do meio-dia, Jesus e três dos Apóstolos chegaram a uma das fontes, onde o mais velho dos pastores lavou Seus pés e ofereceu-Lhe frutas, mel e pão. A vinda de Jesus era esperada, de modo que muitos doentes tinham sido levados à grande casa na colina. Jesus os curou. Cerca de quatrocentos pastores, juntamente com mulheres e crianças, haviam-se reunido para cumprimentá-Lo. Os vestidos das mulheres eram mais curtos do que os usados na Palestina em geral. Jesus ensinou-os no monte, falando-lhes com a maior simplicidade e confiança. Ele lembrou-lhes a caravana dos Três Reis que, trinta e dois anos antes, tinha descansado naquele lugar. Daí falou da estrela que devia nascer de Jacó e da qual Balaão profetizara, do Menino recém-nascido que os magos haviam procurado, de João, de seu ensino e de seu testemunho, e concluiu dizendo que o prometido Messias, o Consolador, o Salvador, estava então no meio dos israelitas, mas que eles não O reconheceriam. Jesus contou-lhes também as parábolas do bom pastor, da semente semeada na terra e da colheita, pois nesta região havia uma colheita de frutas, bem como de trigo, cujas espigas eram extraordinariamente grandes. Contou-lhes também sobre os pastores perto de Belém, de terem encontrado o Menino até mesmo perante os Reis, e do anúncio que lhes foi feito a respeito por anjos. As pessoas apaixonaram-se por Jesus, e muitos deles queriam deixar tudo e segui-lo, apenas pelo prazer de ouvi-lo sempre. Mas, aconselhou-os a ficarem em casa e a praticarem o que lhes havia ensinado. De Selcha, que ficava a quase uma hora ao norte daquele lugar, chegaram mensageiros com um convite a Jesus para visitar sua cidade. Ele fez isso com os discípulos. Ele foi solenemente recebido na porta da cidade pelos professores e crianças em procissão, e ensinou na sinagoga, tomando como tema de Seu discurso o testemunho prestado por João. Muitos dos seus ouvintes foram batizados e curados. As crianças receberam a Sua bênção.
De Selca, Jesus foi com Seus discípulos por cerca de uma hora e meia, pela chamada Estrada de Davi, que, seguindo as voltas do vale, descia ao Jordão. Esta estrada era profunda, uma espécie de buraco, no qual a água às vezes fluía. Corria pelos desertos das montanhas, e em vários pontos ao longo dela se encontravam lugares providos de bebedouros e depósitos de forragem para os camelos, também anéis para prendê-los. Ao viajar por aquele país, Abraão viu uma luz sobrenatural naquela estrada e teve uma visão, e quando Davi, seguindo o conselho de Jonatã, procurou segurança para seus pais na região de Mispa, (1Reis 22:3), ele ficou escondido ali com trezentos homens, da qual circunstância recebeu o nome de "Caminho de Davi". Davi recebeu ali de Deus uma visão profética, na qual viu a caravana dos Três Reis e ouviu, como que dos céus abertos acima dele, melodiosos cânticos proclamando os louvores do prometido Consolador de Israel. Malachias também, sendo obrigado a fugir depois de uma batalha, seguiu uma luz misteriosa que o levou a aquela região onde, também, ele esteve escondido por um tempo; e os Três Reis Magos, dando rédea aos seus camelos ao deixar os limites de Selcha e entrar naquela estrada, desceu por ela cantando hinos doces de agradecimento. Em seguida, prosseguiram pela costa até chegarem ao ponto oposto da Coréia, onde atravessaram o Jordão e chegaram a Jerusalém através do deserto, além de Anatot. Entraram na Cidade Santa pelo mesmo portão pelo qual Maria tinha passado quando subiu de Belém para a sua purificação.
Do "Caminho de Davi", Jesus se voltou para o pequeno lugar chamado Tântia, onde foi imediatamente à sinagoga e ensinou, sendo seus assuntos Balaão, a Estrela de Jacó, algumas passagens de Miqueias e Belém Efrata. (Núm. 22:2, 25:10; Miq. 5:7, 6:9). Em seguida, ele visitou muitos doentes em suas próprias casas. Ele os curou, juntamente com vários outros que os discípulos não tinham conseguido curar. Não havia nenhum cuidado organizado dos doentes e dos pobres em Tântia. Os discípulos, de fato, haviam se esforçado para estabelecer algo desse tipo, mas foi o próprio Jesus quem efetuou a mudança desejada. Muitos do povo foram batizados pelos discípulos.
Tanto o povo como os rabinos de Tântia eram piedosos. Eles tinham o hábito de fazer peregrinações ao "Caminho de Davi", e lá, em jejum e oração, clamavam ao Céu pela vinda do Messias. Cederam-se à esperança de ter ali visões e aparições do Messias, que, pensavam, até mesmo lhes viria por esse caminho. Enquanto Jesus estava pregando, disseram mais de uma vez um ao outro: "Ele fala como se fosse o próprio Messias! Mas não, isso não é possível! Visto que tinham a impressão de que o Messias viria invisível, como um anjo, a Israel, e pensavam que Jesus poderia ser Seu arauto e precursor, Jesus disse-lhes que talvez reconheceriam o Messias quando fosse tarde demais. Vi que muitos de Thantia, antes e depois da Crucificação, aderiram à Comunidade. De Tântia, Jesus viajou quatro horas para o leste até a ruína da cidadela de Datemã. Perto dela estava a montanha que a filha de Jefté havia escolhido para chorar com suas doze jovens companheiras. Nela haviam profetas e eremitas, algo como os essênios. Foi neste mesmo monte que Balaão estava demorando em solidão e meditação, quando foi convocado pelo rei moabita para comparecer perante ele. (Núm. 22:5). Ele era de origem nobre, sua família era muito rica. Desde a juventude, ele tinha sido cheio do espírito de profecia, e ele pertencia àquela nação que estava sempre à procura da estrela prometida, entre os quais estavam os antepassados dos Três Reis Magos. Embora fosse um réprobo, Balaão não era feiticeiro. Ele serviu apenas ao verdadeiro Deus, como os iluminados de outras nações, mas de modo imperfeito, misturando muitos erros com a verdade. Ele era muito jovem quando ele se retirou para a solidão das montanhas, e sobre este em particular ele morou por um longo tempo. Acho que ele tinha outros profetas ou discípulos à sua volta. Quando voltou do rei moabita, Balaque, desejava instalar-se naquela montanha, mas foi impedido pela intervenção divina. Por seu escandaloso conselho aos moabitas, (Núm. 31:16), ele caiu em desgraça, e agora vagava desesperado pelo deserto, no qual finalmente pereceu miseravelmente.
As pessoas daquela região acreditavam firmemente no caráter sagrado do "Caminho de Davi". Eles disseram a Jesus que não ficariam no país do outro lado do Jordão, onde não ousavam mencionar tudo o que haviam visto anteriormente, tudo o que havia acontecido no "Caminho de Davi".

Jesus em Betabará e Jericó. Zaqueu, o publicano

Quando Jesus e os apóstolos se aproximaram de Betabará, no Jordão, encontraram ali já reunida uma multidão incontável de pessoas. O país inteiro estava cheio, e eles estavam acampados sob barracas e árvores. Numerosas mães com multidões de crianças de todas as idades, até mesmo bebês nos braços, vinham em procissão. Ao subir a rua larga para encontrar Jesus, os discípulos que o antecediaeram quizeram, por causa de Sua grande fadiga (pois Ele já havia abençoado muitos), afastar as mulheres e as crianças, e isso até mesmo um pouco rudemente. Mas Jesus os deteve, e mandou-lhes trazer a multidão à ordem. De um lado da rua estavam em cinco longas fileiras de crianças de todas as idades, um atrás do outro, os meninos e meninas separados, sendo o último de longe o mais numeroso. As mães com os bebês nos braços foram colocadas atrás da quinta fileira. Do outro lado da rua estava o resto das pessoas, que passaram por turnos da última fila para a primeira. Jesus desceu agora pela primeira fileira de crianças, impôs as mãos sobre a cabeça delas e as abençoou. Ele colocou a mão sobre a cabeça de alguns, sobre o peito de outros; alguns Ele agarrou ao Seu peito, e alguns Ele levantou como modelos para os outros. Ele os instruiu, exortou, encorajou e os abençoou. Depois de passar assim por uma fileira de crianças, atravessou para o lado oposto da rua e subiu ao meio das pessoas adultas, exortando-as e instruindo-as, e até mesmo apresentando-lhes o exemplo de algumas das crianças. Então Ele desceu a próxima fila de crianças e subiu, como antes, entre os adultos cujas fileiras de frente haviam sido substituídas por aquelas de trás. E assim continuou, até que até mesmo os bebês na última fila receberam uma carícia amorosa e uma bênção. Todas as crianças abençoadas por Jesus receberam uma graça interior, e mais tarde se tornaram cristãs. Jesus deve ter abençoado plenamente mil crianças nesta ocasião, pois o fluxo de pessoas continuou por vários dias. Ele trabalhou constantemente, sempre grave, suave e gentil, com uma certa tristeza secreta em Sua maneira muito tocante de ver. Ele ensinava às vezes na rua, às vezes em uma casa em que o arrastavam pela sua túnica. Relatou muitas parábolas, pelas quais instruía tanto os sábios como os ignorantes, e inculcou aos primeiros a obrigação de retornarem a Deus, com gratidão, tudo o que haviam recebido dEle, como Ele mesmo o fazia.
Das santas mulheres, Verônica, Marta, Madalena e Maria Salomé tinham ido a Jerusalém. Vi Maria Salomé com seus filhos, João e Tiago, o Menor, chegando a Jesus e pedindo que lhes fosse permitido sentar-se, um à Sua direita e o outro à Sua esquerda. Mensageiros haviam sido enviados por fariseus em Jerusalém, mas muitos deles, tendo-se convertido, permaneceram; ao passo que outros, voltando com raiva a Jerusalém, se arrependeram no caminho e mais tarde se tornaram seguidores de Jesus.
Jesus saiu de Betabara com os apóstolos, e, no caminho, foi suplicado que visitasse uma casa em que havia dez leprosos. Os apóstolos, temendo o contato com o leproso, seguiram em direção ao sul, com a intenção de esperar por Jesus debaixo de uma árvore. Os leprosos, envoltos em seus mantos e cheios de feridas, jaziam-se numa parte isolada da casa. Jesus ordenou-lhes que fizessem alguma coisa, e parece-me que Ele tocou num deles e depois os deixou. Os leprosos foram levados, um a um, por dois homens, a uma pequena piscina perto da casa, e foram lavados nas banheiras, depois do que os quais podiam apresentar-se aos sacerdotes como curados.
Jesus passou então por outro edifício que tinha um pátio quadrangular. De ambos os lados deste último havia um arco coberto, em um dos quais jaziam homens, doentes e aleijados, e no outro, mulheres afligidas. As camas foram colocadas em fileiras de lugares ocos, escavados no chão para recebê-los. Outro caminho coberto na mesma linha cortava o meio da casa e conduzia a um espaço em que se cozinhava e lavava. Entre este passeio médio e aqueles em que os doentes deitaram, foram parcelas de grama. Jesus novamente curou vários ali. Enquanto prosseguiu o seu caminho, vi um dos leprosos recentemente curados a segui-Lo, proclamando o Seu louvor. Jesus olhou ao redor, e o homem caiu de rosto em terra, dando graças. Mais adiante, Jesus abençoou muitas crianças que suas mães haviam trazido para encontrá-lo.
A estrada percorrida por Jesus e os Apóstolos ao sair de Betabara passava por Macaerus e pela cidade de Midiã. Aproximaram-se novamente do Jordão, fizeram um circuito em torno de Bet-Habará, e seguiram por caminhos circulares através de uma região desértica em direção a Jericó. Ao prosseguirem em sua viagem, os discípulos que haviam sido enviados em missão voltaram a Jesus, um a um, e relataram-lhe tudo o que haviam feito. Ele instruiu-os em parábolas, mas eu me lembro apenas dessas palavras de Seu discurso: Aqueles que dizem que são castos, mas que comem e bebem apenas o que agrada seu apetite, são como aqueles que tentam apagar o fogo com madeira seca.  Outra parábola referia-se ao futuro dos Doze Apóstolos. Jesus disse: "Agora vocês se apegam a mim, porque vocês estão bem"; mas eles não entenderam que, por estas palavras, ele se referia à paz e às belas instruções de que então desfrutavam. "Na hora da necessidade", continuou ele, "você vai agir de outra forma". Mesmo aqueles que eu carrego comigo com um manto de amor, vão jogar esse manto fora e fugirem. Estas palavras se referiam a João no jardim do Getsêmani. Numa pequena cidade perto do Jordão, vi uma mulher implorando a Jesus que curasse sua filha, que estava coberta de úlceras. Jesus disse-lhe que enviaria um dos discípulos para ela. Mas ela queria que Ele fosse, o que, porém, Ele não fez. Quando ele se aproximava de Jericó, a mulher voltou a se aproximar e suplicou-lhe ajuda. Ela insistiu que agora tinha renunciado a tudo o que Ele lhe havia ordenado. Jesus, porém, ainda a rejeitou. O filho dela era fruto do pecado, e Jesus a censurou por causa de uma falha (que parecia ser apenas uma pequena) à qual ela já se agarrava por vários anos. Disse-lhe que não voltasse a Ele até que se tivesse libertado disso. Vi então a mulher apressar-se a passar os apóstolos e os discípulos em direção a Jericó.
Quando ele se aproximava da cidade, vieram quatro fariseus enviados por seus colegas de Jerusalém, e advertiram a Jesus que não entrasse, para que Herodes não o matasse. Fizeram isso, porém, não porque se importavam com ele, mas porque tinham ouvido falar dos seus muitos milagres, e tinham medo dele. Jesus respondeu que eles deveriam dizer a Herodes, a raposa, apenas estas palavras: "Eis que eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã, e no terceiro dia serei consumado". (Lucas 13:32) Dois desses fariseus foram convertidos e seguiram a Jesus, mas os outros dois voltaram com fúria a Jerusalém.
Daí, vieram a Jesus dois irmãos que pertenciam a Jericó. Eles não podiam concordar sobre o assunto de seu patrimônio; um queria ficar, o outro desejava ir embora. Um deles propôs que Jesus, tão renomado em todos os lugares, dividisse o patrimônio entre eles, e, em conseqüência, vieram ao Seu encontro. Mas Ele recusou, dizendo que não era da Sua conta. E quando até mesmo João lhe disse que era uma boa obra, e Pedro apoiou a palavra, Jesus respondeu que Ele não veio para distribuir bens terrestres, mas apenas celestiais. Depois disso, aproveitou a ocasião para dar uma longa exortação perante a multidão que crescia rapidamente. Mas os discípulos nem sempre o compreendiam corretamente. Eles ainda não haviam recebido o Espírito Santo, e por isso continuaram a esperar um reino terrestre.
Jesus foi novamente recebido por multidões de mulheres com seus filhos, pelos quais imploraram uma bênção. Os discípulos, perturbados pelas recentes ameaças dos fariseus e desejando evitar tal excitação, tentaram expulsar as mulheres, pois lhes foi confiado o dever de manter a ordem. Mas Jesus ordenou que permitissem que as crianças se apresentassem. Necessitavam de Sua bênção, disse Ele, a fim de que também pudessem tornar-se Seus discípulos. Então Ele abençoou muitos dos bebês no peito e as crianças de dez e onze anos. Alguns não foram abençoados por Ele, mas mais tarde apresentaram-se novamente.
Logo fora da cidade, que estava cercada por jardins, parques e vilas, Jesus e Seus seguidores encontraram uma multidão densa composta de pessoas de todas as partes do país ao redor. Tinham-se reunido com os seus doentes, que jaziam em camas debaixo de galpões e de tendas. Estavam à espera de Jesus, e agora o cercavam de todos os lados, ele e seus discípulos. Zaqueu, um dos principais publicanos, que morava fora da cidade, havia ficado parado na estrada pela qual Jesus devia passar. Como era de baixa estatura, subiu a uma figueira para poder ver melhor a Jesus na multidão. Jesus olhou para a árvore e disse: "Zaqueu, desce depressa, porque hoje tenho de ficar na tua casa". Zaqueu desceu apressadamente, inclinou-se humildemente perante Jesus e, muito comovido, voltou para casa para fazer os preparativos para receber seu convidado de honra. Quando Jesus disse que devia entrar naquele dia na casa de Zaqueu, quis dizer no coração dele, pois naquele dia ele foi para a própria Jericó, e não para a casa de Zaqueu. Ao chegar à porta da cidade, Jesus não encontrou ninguém reunido para recebê-Lo, pois, por temor aos fariseus, permaneciam em silêncio em suas casas. A multidão, reunida a alguma distância da cidade, eram todos estranhos que vieram implorar a Jesus ajuda para suas várias necessidades. Ele curou um cego e um surdo mudo, mas alguns outros Ele mandou embora. Ele abençoou as crianças, especialmente os bebês no peito, e disse aos Apóstolos que os homens devem ser assim acostumados a dedicar seus filhos desde a mais tenra juventude a Ele, e que todos os assim abençoados O seguiriam. Entre os enviados havia uma mulher afligida por um fluxo de sangue. Ela tinha vindo alguns dias antes com a firme determinação de implorar a Jesus que a curasse. Ouvi Jesus dizer aos discípulos que quem não persevera na oração não é sincero e não tem fé.
Ao começar o sábado, Jesus entrou com Seus apóstolos e discípulos na sinagoga da cidade e, depois, na pousada. Ele e os apóstolos jantavam no refeitório aberto, os discípulos no arco. A refeição consistia em pequenos pãezinhos, mel e frutas. Comiam em pé, enquanto Jesus ensinava e relatava parábolas. Cada um dos três apóstolos bebia de um copo, mas Jesus tinha um para si mesmo. A mulher que já havia sido repelida duas vezes voltou a Jesus implorando ajuda para sua filha, mas sem maior sucesso do que antes, porque não era sincera. Ela havia perguntado entre os fariseus de Jericó sobre o que se dizia de Jesus em Jerusalém.
Ali também Zaqueu apresentou-se a Jesus. Os novos discípulos, fora da cidade, já tinham se indignado com o fato de Jesus ter abordado o publicano de má fama e até mesmo querer estar com ele, pois Zaqueu em particular era um escândalo para eles. Alguns eram parentes dele, e envergonhavam-se de ele ter permanecido um publicano por tanto tempo e até o presente não convertido. Zaqueu aproximou-se do salão em que os discípulos estavam jantando, mas ninguém queria ter nada a ver com ele, ninguém o convidava a comer. Daí, Jesus saiu para o salão, fez sinal para Zaqueu entrar e ofereceu-lhe comida e bebida.
No dia seguinte, quando Jesus entrou novamente na sinagoga e disse aos fariseus que lhe dessem lugar, pois ele pretendia ler e explicar a Lição do Sábado, eles levantaram uma grande disputa, mas não prevaleceram. Ele censurou a avareza, e curou um doente que fora levado numa maca à porta da sinagoga. Passado o sábado, Jesus foi com Seus apóstolos à morada de Zaqueu, fora de Jericó. Nenhum dos discípulos o acompanhou. A mulher, tão desejosa de ajudar a sua filha, seguiu novamente a Jesus no caminho de Zaqueu. Ele impôs Sua mão sobre ela para libertá-la de sua própria má disposição, e disse-lhe que voltasse para casa, pois sua filha estava curada. Durante a refeição, que consistia em mel, frutas e um cordeiro, Zaqueu servia à mesa, mas sempre que Jesus falava, ele ouvia devotamente.
Jesus contou a parábola da figueira na vinha que por três anos não deu fruto, e pela qual o vinhateiro implorou mais um ano de indulgência. Ao proferir esta parábola, Jesus se dirigiu aos apóstolos como a vinha; falou de si mesmo como do dono; e de Zaqueu como da figueira. Passaram-se agora três anos desde que os parentes do último nomeado abandonaram seu chamado desonroso e seguiram a Jesus, enquanto ele, durante todo esse tempo, ainda tinha feito o mesmo negócio, motivo pelo qual era visto com especial desprezo pelos discípulos. Mas Jesus lançara sobre ele um olhar de misericórdia quando o chamou para descer da árvore. Jesus falou também das árvores estéreis que produzem muitas folhas, mas nenhum fruto. As folhas, Ele disse, são obras exteriores. Fazem um grande barulho, mas logo morrem sem deixar nenhuma semente de bem. Mas os frutos são essa realidade interior e eficaz na fé e na ação, com sua capacidade de reprodução, e o prolongamento da vida da árvore armazenada no núcleo. Parece-me que Jesus, ao chamar Zaqueu para descer da árvore, fez o mesmo que para convencê-lo a renunciar ao barulho e à agitação da multidão, pois Zaqueu era como o fruto maduro que agora se desprendeu da árvore que por três anos permanecera infrutífera na vinha. Jesus falou, da mesma forma, dos servos fiéis que estavam atentos à vinda de seu amo, e que não sofreram nenhum ruído que pudesse impedi-los de ouvir sua batida.
Parecia como se Jesus estivesse agora em Jericó pela última vez, e como se quisesse derramar sobre ela a plenitude de Seu amor. Enviou os apóstolos e os discípulos a dois a dois para os distritos vizinhos, para os quais ele próprio não iria mais sair.
Na própria Jericó, ele ia de casa em casa, ensinando na sinagoga, nas ruas e em toda parte, para uma grande multidão de pessoas. Os pecadores e os publicanos o cercaram de todos os lados, e nas estradas por onde ele passava, os doentes suspiravam e imploravam ajuda. Ele ensinou e curou sem interrupção, e era tão sincero, tão gentil, e tão tranquilo. Os discípulos, ao contrário, estavam ansiosos e insatisfeitos por causa de Jesus se expor tão despreocupadamente às armadilhas que os fariseus enfurecidos, dos quais quase cem estavam reunidos ali de diferentes partes do país, preparando-se para ele.
Enviaram mensageiros a Jerusalém para consultar como poderiam prendê-lo. Os apóstolos também estavam num certo temor, como se pensassem que Jesus se expôs ao perigo e tratou com as pessoas de modo imprudente. Certa vez, vi Jesus cercado por uma grande multidão que procurava sua ajuda, e entre eles havia alguns doentes que se deixaram levar a ele. Os discípulos, entretanto, mantiveram-se à distância. A mulher paralítica, com fluxo de sangue, a quem Ele já havia mandado embora mais de uma vez, tinha-se feito levar ao banho de purificação, ou expiação, com o qual estava ligado o perdão dos pecados. Ela se aproximou furtivamente de Jesus e tocou na orla da sua veste. Imediatamente ficou imóvel, olhou para ela e a curou. A mulher levantou-se, agradeceu ao seu Beneficente e voltou curada para sua casa na cidade. Jesus então ensinou sobre a oração perseverante e repetida. Ele disse que nunca se deve desistir das suas súplicas. Eu estava pensando, entretanto, da grande caridade das pessoas boas que tinham trazido a mulher de tão longa distância, carregando-a aqui e ali após o Senhor, e implorando aos discípulos para informá-los onde Ele estava indo em seguida, para que eles pudessem obter para ela um bom lugar. Devido à natureza de sua doença, que era considerada impura, ela não podia descansar em lugar algum. Ela teve de pedir a cura durante oito dias.
Antes da partida de Jesus de Jericó, mensageiros de Betânia trouxeram aos discípulos a notícia de quão ardentemente Marta e Madalena ansiavam por Sua vinda, pois Lázaro estava muito doente. Jesus, porém, não foi a Betânia, mas a uma pequena aldeia ao norte de Jericó. Também ali se havia reunido uma multidão, e muitos doentes, cegos e aleijados esperavam a sua chegada. Dois cegos, cada um com dois guias, estavam sentados à beira da estrada, e quando Jesus passou, eles gritaram atrás dele, implorando que fossem curados. As pessoas tentaram silenciá-los com ameaças, mas elas seguiram Jesus, clamando: "Ó Filho de Davi! Tenha piedade de nós! Então Jesus se virou e mandou que os levassem até Ele. Eles viram e o seguiram. Surgiu um grande tumulto por causa da cura destes cegos, bem como dos que Jesus havia restaurado a vista quando Ele entrava em Jericó. Os fariseus instituíram uma investigação sobre o caso, e interrogaram o pai de um dos curados, bem como a ele mesmo. Os discípulos, entretanto, desejavam muito que Jesus fosse a casa de Lázaro, em Betânia, pois ali estariam em maior paz e menos molestados. Na verdade, estavam um pouco descontentes, mas Jesus continuou a curar numerosos. As palavras não podem expressar quão suave e tolerante Ele era diante de tais acusações, ataques e perseguições, e quão doce e gravemente Ele sorria quando os discípulos queriam desviá-Lo de Seu propósito. Em seguida, foi na direção de Samaria. Não muito longe de uma das pequenas aldeias ao longo da estrada, a cerca de cem passos de um lado, havia uma tenda na qual dez leprosos estavam deitados em camas. Quando Jesus passou, os leprosos saíram e pediram-lhe ajuda. Jesus ficou parado, mas os discípulos seguiram em frente. Os leprosos, totalmente envoltos em seus mantos, aproximaram-se - alguns rapidamente, outros lentamente, conforme sua força permitia - e fizeram um círculo em torno de Jesus. Ele tocou em cada um separadamente, mandou que se apresentassem aos sacerdotes, e seguiu seu caminho. Um dos leprosos, um samaritano e o mais ativo dos dez, foi pela mesma estrada com dois dos discípulos, mas os outros tomaram caminhos diferentes. Estes não foram curados de uma só vez; embora pudessem andar, não ficaram perfeitamente limpos até cerca de uma hora depois.
Pouco depois deste último encontro, um pai duma aldeia de pastores, a um quarto de hora à direita da estrada, veio ao encontro de Jesus e rogou-Lhe que voltasse com ele à aldeia, pois sua filhinha estava deitada morta. Jesus foi com ele imediatamente, e no caminho foi alcançado pelo samaritano curado, que, tocado pela sua cura perfeita, apressou-se a voltar para agradecer ao seu Beneficente. Ele se lançou aos pés de Jesus, que disse: "Não foram dez os que foram purificados? E onde estão os outros nove? Não se achou nenhum que voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? Levanta-te e vai! A tua fé curou-te! Este homem mais tarde tornou-se discípulo. Pedro, João e Tiago, o Maior, estavam com Jesus naquele momento. A menina, que tinha cerca de sete anos, já estava morta há quatro dias. Jesus pôs uma mão na cabeça dela, a outra no peito dela, e levantando os olhos para o céu orou, e a criança levantou-se viva. Daí, Jesus disse aos apóstolos que também deviam fazer isso em Seu nome. O pai da menina tinha uma fé forte, e cheio de confiança ele tinha esperado a vinda de Jesus. Sua esposa queria que mandasse uma mensagem a Jesus, mas ele estava cheio de esperança e esperou até que Ele viesse. Pouco depois, ele entregou seu negócio a outro e, quando sua esposa morreu depois da morte de Jesus, ele se tornou discípulo e adquiriu um nome distinto. A menina que foi restaurada à vida também se tornou muito piedosa.
Jesus, em seguida, visitou as cabanas de pastores que estavam espalhadas ao redor, e curou muitos dos enfermos nelas. Ele foi de cabana em cabana ao longo de toda a região montanhosa na direção de Hebrom. Eu o vi sozinho com Pedro em uma dessas moradas, onde um casamento estava sendo celebrado. O casal de noivas voltou da cerimônia nupcial, que foi realizada na escola, escoltado por seus amigos e caminhando sob uma espécie de dossel. Um grupo de garotinhas adornadas com grinaldas de lã colorida liderava o caminho tocando na flauta, e meninos alegremente vestidos com instrumentos semelhantes acompanhavam a retaguarda da procissão. Estava presente um sacerdote de Jericó. Quando o grupo entrou na casa, ambos ficaram surpresos e encantados de ver Jesus, que lhes ordenou que não interrompessem as festividades do casamento para que alguns não ficassem irritados com isso. Os convidados então bebiam em copos pequenos. A noiva retirou-se com as mulheres, e as crianças brincavam e dançavam diante dela. Então eu vi o noivo e a noiva irem a Jesus em uma sala separada, onde Ele novamente juntou as mãos deles com a Sua mão direita e abençoou suas mãos juntas, e ensinou-lhes sobre a indissolubilidade do casamento e o mérito da continência. Depois disso, reclinou-se à mesa com Pedro e o sacerdote, enquanto o noivo os servia. O sacerdote, porém, ficou irado porque os lugares mais honrados haviam sido dados aos convidados estranhos, Jesus e Seus Apóstolos, e logo se retirou do entretenimento. Vi também que ele perseguiu alguns dos fariseus, que mais tarde inesperadamente atacaram o Senhor e O chamaram a prestar contas. No calor da discussão, um deles puxou o manto de Jesus do ombro, mas Jesus permaneceu calmo. Porém, quando viram que não podiam prejudicá-lo nem vencê-lo, retiraram-se.
Jesus, com mais do que o amor e a bondade comuns, ficou por algum tempo nesta morada de pastores. Os pais da noiva e alguns outros dos pastores idosos que se apresentaram perante Ele, pertenciam àqueles que O visitaram no Presépio na noite em que Ele nasceu. Começaram imediatamente, em termos tocantes, a contar tudo sobre aquela noite e a honrar a Jesus, e os mais jovens relatavam o que tinham ouvido a respeito de seus falecidos pais. Levaram a Jesus alguns idosos doentes que, por causa da fraqueza da idade, já não podiam andar, também algumas crianças doentes, e Jesus curou a todos. Ele disse ao jovem casal para ir, depois de Sua morte, a Seus Apóstolos, para serem batizados e ensinados, e se tornarem Seus seguidores. Durante toda a viagem, nunca vi Jesus tão brilhante e alegre como Ele estava entre estas pessoas simples. Vi que todos os que o honraram na infância receberam a graça de se tornarem cristãos.
A partir daquele lugar, Jesus tomou uma direção mais ao sul, para o distrito montanhoso em direção a Iuta. Os convidados do casamento formaram a sua comitiva. Ele tinha consigo agora seis Apóstolos, incluindo André. No caminho, Ele curou muitas crianças doentes que estavam muito inchadas e incapazes de andar. As pessoas daquela região não eram muito boas. Quando Jesus chegou a uma pequena aldeia entre os montes, ele entrou diretamente na sinagoga para ensinar. Os sacerdotes o proibiram e foram pedir ajuda, mas foram obrigados a entregar a cadeira do professor a Jesus, a quem o povo ouvia com alegria. Os discípulos estavam ansiosos para que Jesus voltasse agora a Nazaré, Sua cidade natal, visto que Ele sempre fazia alusão ao Seu fim iminente. Mas Ele desejava que os bons entre as pessoas ali aproveitassem do tempo que lhe restava, e por isso não foi a Nazaré. Ele ensinou com base nas palavras: "Nenhum homem pode servir a dois senhores". Ele disse também que tinha vindo trazer a espada sobre a terra, isto é, a separação de tudo o que é mau. Foi assim que Ele explicou esta palavra aos discípulos.

Jesus a caminho de Betânia. A ressurreição de Lázaro

Enquanto Jesus estava demorando em um pequeno lugar perto de Samaria, onde também a Virgem Santíssima e Maria Cléofas tinham ido passar o sábado, receberam a notícia da morte de Lázaro. Após este acontecimento em Betânia, suas irmãs deixaram aquele lugar e foram para sua casa de campo perto de Gináea, com a intenção de encontrar Jesus e a Santíssima Virgem. Os restos mortais de Lázaro foram embalsamados e envolvidos em faixas de linho, segundo o costume judaico, e então colocados num caixão de varas tecidas com uma tampa convexa. Todos os apóstolos estavam novamente unidos em torno de Jesus. Foram em vários grupos a Gináea, onde Jesus ensinava na sinagoga e, depois dos exercícios finais do sábado, saíram para a casa de campo de Lázaro. Ali encontraram a Virgem Santíssima, que tinha ido antes. Madalena veio ao encontro de Jesus e para lhe contar a morte de seu irmão, acrescentando as palavras: "Senhor, se tivesses estado lá, meu irmão não teria morrido!" Jesus respondeu que sua hora ainda não havia chegado e que era bom que ele tivesse morrido. Contudo, Ele disse às duas irmãs que permitissem que todos os pertences de seu irmão permanecessem em Betânia, pois Ele mesmo iria para lá em breve. As santas mulheres, portanto, partiram para Betânia, enquanto Jesus e os Apóstolos retornaram a Gináea, de onde foram para a pousada a uma hora de distância de Betânia. Ali, outro mensageiro veio a Ele, levando o pedido fervoroso das irmãs de que Ele fosse a Betânia, mas Ele ainda demorava em ir. Ele repreendeu os discípulos por murmurarem e por serem impacientes por Ele ter demorado tanto tempo a ir a Betânia. Ele sempre foi como alguém que não podia exclarecer Seus motivos e ações a eles, porque eles não O entendiam. Em Suas catequeses a eles, Ele estava sempre mais desejoso de descobrir-lhes os seus próprios pensamentos e, por causa de sua mentalidade terrena, de despertar neles desconfiança de si mesmos, do que de informá-los das razões das coisas que não podiam compreender. Ele ainda ensinava sobre os trabalhadores na vinha, e quando a mãe de Tiago e João O ouviram falar do próximo cumprimento de Sua missão, pensaram que era apropriado que só Seus próprios parentes tivessem cargos honrosos em Seu Reino. Consequentemente, ela se aproximou Dele com um pedido nesse sentido, mas Ele a repreendeu severamente.
Por fim, Jesus voltou os passos até Betânia, continuando ao longo de todo o caminho os ensinamentos dados aos Apóstolos. A propriedade de Lázaro ficava em parte dentro das muralhas que circundavam os arredores da cidade, e em parte - isto é, uma parte do jardim e do pátio - fora dessas muralhas, que agora estavam prestes a serem destruídas.
Lázaro estava morto há oito dias. Eles haviam guardado o corpo por quatro dias, na esperança de que Jesus viesse e o ressuscitasse. Suas irmãs, como já disse, foram à casa de campo perto de Ginéia, para encontrar Jesus; mas, ao descobrirem que Ele ainda estava determinado a não voltar com elas, voltaram a Betânia e enterraram seu irmão. Seus amigos, homens e mulheres da cidade e de Jerusalém, estavam agora reunidos à sua volta, lamentando os mortos, conforme o costume. Pareceu-me que era perto do anoitecer quando Maria Zebedeu entrou em casa de Marta, que estava sentada entre as mulheres, e disse-lhe em voz baixa que o Senhor estava vindo. Marta levantou-se e saiu com ela para o jardim atrás da casa. Lá em uma árvore estava Madalena sentada sozinha. Marta disse-lhe que Jesus estava perto, pois, por amor a Madalena, queria que ela fosse a primeira a encontrar-se com o Senhor. Mas eu não vi Madalena ir a Jesus, pois quando Ele estava sozinho com os Apóstolos e discípulos, Ele não permitia que as mulheres tivessem acesso fácil a Ele. Já estava escurecendo quando Madalena voltou às mulheres e tomou o lugar de Marta, que então saiu ao encontro de Jesus. Ele estava de pé com os Apóstolos e alguns outros no limite de seu jardim, diante de uma árvore aberta. Marta falou com Jesus e então voltou-se para Madalena, que também já havia subido. Ela atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: "Se tivesses estado aqui, ele não teria morrido!" Todos os presentes estavam em lágrimas. Jesus também lamentou e chorou, e proferiu um longo discurso sobre a morte. Muitos da plateia, que aumentava constantemente fora do pátio, sussurravam uns aos outros e murmuravam sua insatisfação com Jesus por não ter deixado Lázaro vivo.
Pareceu-me que era muito cedo de manhã quando Jesus foi com os Apóstolos ao túmulo. Maria, as irmãs de Lázaro, e outras, no total cerca de sete mulheres, estavam ali, assim como também uma multidão de pessoas que estava constantemente aumentando. De fato, a multidão apresentava um pouco a aparência de um tumulto, como no dia da Crucificação de Cristo. Prosseguiram ao longo de uma estrada em ambos os lados da qual havia uma espessa cerca verde, depois passaram por um portão, depois do qual, a cerca de um quarto de hora de distância, os trouxeram ao cemitério murado de Betânia. Do portão do cemitério, uma estrada levava à direita e à esquerda ao redor de uma colina através da qual havia uma abóbada. Esta última era dividida por grades em compartimentos, e a abertura na extremidade era fechada por uma grade. Podia-se, a partir da entrada, ver através de todo o comprimento da abóbada e os ramos verdes das árvores ondulando fora do extremo oposto. A luz era admitida por aberturas acima.
O túmulo de Lázaro era o primeiro à direita da entrada do túmulo, em que alguns degraus conduziam. Era uma caverna quadrangular, com cerca de um metro de profundidade, e coberta com uma pedra plana. Nele estava o cadáver num caixão levemente tecido, e ao redor dele, no túmulo, havia espaço para andar. Jesus com alguns dos Apóstolos desceram ao túmulo, enquanto as santas mulheres, Madalena, e Marta permaneceram em pé na porta. Mas a multidão se aglomerou, de modo que muitas pessoas subiram ao telhado do túmulo e às paredes do cemitério para ver. Jesus ordenou aos apóstolos que removessem a pedra do túmulo. Eles o fizeram, apoiaram-na contra a parede, e depois removeram uma tampa ou porta de luz que fechava o túmulo abaixo daquela pedra. Foi neste ponto do processo que Marta disse: "Senhor, já deve estar cheirando mal, pois já faz quatro dias". Depois disso, tiraram a cobertura levemente tecida do caixão e revelaram o cadáver deitado em seu lençol. Naquele instante, Jesus ergueu os olhos para o Céu, orou em voz alta, e clamou em voz forte: "Lázaro, vem para fora!" A este grito, o cadáver levantou-se para uma postura sentada. A multidão agora pressionou com tanta violência que Jesus ordenou que fossem levados para fora dos muros do cemitério. Os apóstolos, que estavam no túmulo junto ao caixão, retiraram o lenço do rosto de Lázaro, desamarraram as mãos e os pés dele e tiraram o pano envolvente. Lázaro, como se estivesse acordando da letargia, levantou-se do caixão e saiu do túmulo, vacilando e parecendo um fantasma. Os apóstolos jogaram um manto em volta dele. Como um caminhar no sono, ele se aproximou da porta, passou o Senhor e saiu para onde suas irmãs e as outras mulheres tinham recuado de medo como diante de um fantasma. Sem se atreverem a tocá-lo, caíram prostrados no chão. No mesmo instante, Jesus saiu do túmulo atrás dele e agarrou-o por ambas as mãos, com todo o Seu modo cheio de seriedade amorosa.
E então todos avançaram em direção à casa de Lázaro. A multidão era grande. Mas prevaleceu certo temor entre o povo; conseqüentemente, a procissão formada por Lázaro e seus amigos não foi impedida em seus movimentos pela multidão que seguia. Lázaro movia-se mais como um que flutuava do que como um que andava, e ainda tinha toda a aparência de um cadáver. Jesus caminhou ao lado dele, e o resto do grupo seguiu chorando e chorando em volta deles em silêncio, assustados e espantados. Eles chegaram ao portão antigo, e foi ao longo da estrada delimitada por cercas verdes para a avenida de árvores a partir do qual eles tinham chegado. O Senhor entrou com Lázaro e seus discípulos, enquanto a multidão se aglomerava lá fora, clamando e gritando.
Neste momento, Lázaro lançou-se prostrado na terra diante de Jesus, como alguém prestes a ser recebido em uma Ordem Religiosa. Jesus falou algumas palavras, e então eles foram para a casa, a cerca de cem passos de distância.
Jesus, os Apóstolos e Lázaro estavam sozinhos na sala de refeições. Os apóstolos formaram um círculo em torno de Jesus e de Lázaro, que estava ajoelhado diante do Senhor. Jesus pôs Sua mão direita sobre a cabeça dele e soprou sobre ele sete vezes. O sopro do Senhor era luminoso. Vi um vapor escuro retirando-se como se fosse de Lázaro, e o diabo sob a forma de uma figura alada negra, impotente e irada, deixando o círculo livre na parte de trás e montando-o no alto. Por meio desta cerimônia, Jesus consagrou Lázaro ao Seu serviço, purificou-o de toda conexão com o mundo e o pecado, e o fortaleceu com os dons do Espírito Santo. Ele fez-lhe um longo discurso, no qual lhe disse que o havia ressuscitado para que o servisse, e que teria de suportar grande perseguição por parte dos judeus.
Até então, Lázaro estava com suas roupas de sepultura, mas agora retirou-se para colocá-las de lado e vestir suas próprias roupas. Foi nesse momento que suas irmãs e amigos abraçaram-no pela primeira vez, pois antes disso havia algo tão cadavérico sobre ele que inspirava terror. Eu vi, entretanto, que a alma de Lázaro, durante o tempo de sua separação de seu corpo, estava em um lugar pacífico e indolor, iluminada apenas por um crepúsculo brilhante, e que enquanto estava lá ele contou aos justos, José, Joaquim, Ana, Zacarias, João, etc., como as coisas estavam indo com o Redentor na terra.
Pelo sopro do Salvador sobre ele, Lázaro recebeu os sete dons do Espírito Santo e foi perfeitamente libertado da conexão com as coisas terrenas. Ele recebeu esses dons antes dos Apóstolos, pois com a sua morte ele se familiarizou com grandes mistérios, contemplou outro mundo. Na verdade, ele tinha morrido, e agora tinha nascido de novo. Ele podia, portanto, receber essas dádivas. Lázaro compreendia em si mesmo um profundo significado e um profundo mistério.
E agora uma refeição estava pronta, e todos se recostaram à mesa sobre a qual havia muitos pratos e jarros pequenos. Um homem servindo. Depois da refeição, as mulheres entraram, mas ficaram no fim mais baixo do salão, para ouvir os ensinamentos de Jesus. Lázaro estava sentado ao lado dele. Havia um barulho assustador ao redor da casa, pois muitos haviam saído de Jerusalém, até mesmo os guardas, e estavam agora cercando a casa. Mas Jesus mandou os Apóstolos embora, para expulsar tanto as pessoas como os guardas. Jesus continuou a Sua instrução até que a luz da lâmpada se acendeu, e disse aos discípulos que Ele ia com dois apóstolos a Jerusalém na manhã seguinte. Quando colocaram diante d'Ele o perigo de atender a tal passo, Ele respondeu que não seria reconhecido, que não iria publicamente. Eu os vi depois de cochilar um pouco, encostado à parede.
Antes do amanhecer, Jesus, acompanhado de João e Mateus, que haviam amarrado suas vestes de modo um pouco diferente do seu costume habitual, partiu de Betânia para Jerusalém. Eles percorreram a cidade e, tomando as estradas, chegaram à casa em que mais tarde foi celebrada a Última Ceia. Permaneceram ali em silêncio o dia inteiro e a noite seguinte, Jesus ensinando e confirmando Seus amigos da cidade. Vi a Mara Marcus e a Veronica na casa, e uma dúzia de homens. Nicodemos, a quem pertencia a casa, mas que de bom grado a havia entregue para uso dos amigos de Jesus, não estava ali. Ele tinha ido naquele mesmo dia a Betânia para ver Lázaro.
Vi também uma reunião dos fariseus e dos sumos sacerdotes, que se reuniram para discutir Jesus e Lázaro. Entre outras coisas, ouvi-os dizer que temiam que Jesus ressuscitasse todos os mortos, e que confusão se seguiria!
Ao meio-dia daquele dia, surgiu um grande tumulto em Betânia. Se Jesus estivesse lá, teriam apedrejado-O. Lázaro foi obrigado a esconder-se, e os Apóstolos, a fugir em direções diferentes. Todos os outros amigos de Jesus em Betânia também foram forçados a se esconder. As mentes ficaram calmas, porém, quando as pessoas consideraram que não tinham o direito de agir contra Lázaro.
Jesus passou a noite inteira até o início da manhã seguinte na casa no monte Sião. Antes do dia, Ele deixou Jerusalém com Mateus e João e fugiu para o outro lado do Jordão, não pelo caminho que anteriormente tomara ao lado de Betabara, mas por outro para o nordeste. Pode ter sido por volta do meio-dia quando Ele chegou à margem oposta do Jordão. Naquela tarde, os apóstolos de Betânia juntaram-se a ele e passaram a noite debaixo duma grande árvore.
De manhã, eles partiram para uma pequena aldeia na vizinhança, e, no caminho, encontraram um homem cego deitado à beira da estrada. Ele estava encarregado de dois meninos, que, no entanto, não eram parentes dele. Era um pastor da região de Jericó. Ele tinha ouvido dos Apóstolos que o Senhor vinha por aquele caminho, e agora clamava a Ele por cura. Jesus pôs as mãos sobre a cabeça do homem, e ele recuperou a visão. Então, ele despojou-se de seus trapos velhos e, em sua roupa interior, seguiu a Jesus até a aldeia, onde, num salão, Jesus ensinou a segui-Lo. Ele disse que os que queriam fazê-lo tinham de, como o cego fez com seus trapos, deixar tudo, para segui-lo com pleno uso de sua visão. Um manto foi dado ao homem curado da cegueira. Ele queria juntar-se a Jesus imediatamente, mas foi adiado até que ele provasse sua constância. Jesus ensinou ali até quase o anoitecer. Havia cerca de oito apóstolos com Ele.
Depois disso, quando se aproximava da pequena cidade, Jesus sentiu fome. Não pude deixar de sorrir ao pensar que Ele estava com fome, pois a fome de Jesus era muito diferente da dos outros. Ele estava com fome de almas. Do último lugar que Ele visitou, algumas pessoas que não tinham a disposição correta foram com Ele. Ao lado da estrada havia uma figueira que não dava frutos. Jesus subiu à árvore e amaldiçoou-a. Ela secou instantaneamente, suas folhas ficaram amareladas e o tronco tornou-se torto. Jesus ensinou na escola sobre a figueira estéril.
Haviam alguns escribas, doutores e fariseus mal intencionados, que lhe disseram para voltar pelo caminho por onde viera. Um riacho corria ali e tinha uma ponte em um lugar chamado Betharan.  A escola era construída sobre uma elevação. Jesus e o seu grupo passaram a noite numa hospedagem.

Jesus começa a viagem para a terra dos Três Reis Magos

No dia seguinte, quando Jesus e Seus companheiros deixaram aquele último lugar, tomaram a direção nordeste, pela terra da tribo de Gad. Ouvi Jesus dizer para onde estava prestes a viajar. Ele disse aos apóstolos e discípulos que deviam separar-se Dele, designando-lhes onde deviam e onde não deviam ensinar, e onde deviam juntar-se novamente a Ele. Ele estava agora, disse Ele, prestes a fazer uma viagem extraordinária. Ele passaria o próximo sábado em Grande Corozain, depois iria a Betsaida e, de lá, para o sul, para a região de Macareus e Midiã. Daí, Ele prosseguiria até o lugar onde Agar havia exposto Ismael, e Jacó havia colocado a pedra. (Gên. 46:1, 4; 26-23, 24). Daí, Ele viajaria para o leste, ao redor do Mar Morto, e para o lugar onde Melquisedeque havia oferecido sacrifício diante de Abraão. Naquele local, atualmente, havia uma capela, na qual às vezes era celebrado o Serviço Divino. Era construída de pedra vermelha, e coberta de musgo. Jesus declarou Sua intenção de ir igualmente a Heliópolis, no Egito, onde Ele habitou em sua infância. Haviam lá algumas pessoas boas que como crianças brincavam com Ele, e que não O tinham esquecido completamente. Estavam constantemente perguntando o que havia acontecido com ele, mas não podiam crer que Aquele de quem tanto tinham ouvido falar era o Menino de sua memória. Ele retornaria do outro lado através de Hebrom e do vale de Josafá, passando pelo lugar em que fora batizado por João, e pelo deserto em que fora tentado. Ele anunciou que Sua ausência seria por cerca de três meses, e que Seus seguidores certamente O encontrariam no final desse tempo no poço de Jacó, perto de Sicar, embora pudessem encontrá-Lo antes disso, quando Ele retornasse pela Judéia. Deu-lhes instruções minuciosas num longo discurso, sobretudo quanto a como deveriam se comportar, durante a Sua ausência, em seus deveres missionários. Lembro-me destas palavras, que onde quer que não fossem bem recebidos, eles deveriam sacudir a poeira dos sapatos. Mateus voltou para casa por um tempo. Era um homem casado. Sua esposa era uma pessoa muito virtuosa e, desde a vocação de Mateus, eles viviam em perfeita continência. Ele devia ensinar em sua própria casa, e silenciosamente suportar o desprezo de seus antigos companheiros. Na Grande Corozain, Jesus ensinou no sábado na sinagoga. Pedro, André e Filipe estavam com Ele. Por volta do meio-dia, um homem de Cafarnaum, que esperava por Jesus, aproximou-se dele, dizendo: "Meu filho está doente até a morte", e suplicou ao Senhor que fosse com ele e o curasse. Mas Jesus mandou-o voltar para casa, pois seu filho já havia sido restaurado à saúde. Havia muitas outras pessoas reunidas em volta de Jesus, algumas pertencentes à cidade e outras vindas de longe. Alguns estavam doentes e procuravam cura, outros procuravam consolo. Satisfez imediatamente a alguns, mas a outros prometeu ajuda futura.
Na noite daquele sábado, Jesus despediu-se dos habitantes do lado de fora da sinagoga, e prosseguiu com vários dos apóstolos até onde o Jordão deságua no mar, a fim de atravessar para o outro lado. O porto estava mais alto, e isso fez a viagem muito mais longa. Ali eles cruzavam em uma espécie de jangada formada por vigas sobrepostas umas sobre as outras como uma grade. No centro, em uma plataforma elevada, havia um cubículo, ou pequena meia-banheira, em que a água não podia penetrar, e ali era depositada a bagagem dos passageiros. A jangada era impulsionada por longos mastros. A costa do Jordão não era muito alta naquele lugar, e pareceu-me que havia algumas pequenas ilhas por alí naqoela parte do rio. Vi o Senhor e os três apóstolos viajando à luz da lua. Fora de Betsaida, como era costume na entrada das cidades da Palestina, ficava um longo galpão sob o qual os viajantes costumavam desatar suas vestes e limpar o pó da viagem antes de entrar na cidade; em geral, algumas pessoas eram encontradas ali para lavar os pés. Este foi o caso na chegada do Senhor e dos Apóstolos, após o qual eles foram para a casa de André, onde participaram de uma refeição de mel, pães e uvas. André era casado, e sua casa não era pequena. Tinha um pátio, era cercado por muralhas e estava situado num dos lados da cidade. Pedro e Filipe acompanharam o Senhor, mas André foi à frente. Havia no total doze homens presentes à refeição, e no fim dela, seis mulheres vieram ouvir o ensino de Jesus. No dia seguinte, ao sair de Betsaida com os três apóstolos, Ele parou por algum tempo numa casa fora da cidade, na qual havia todo tipo de bens e móveis peculiares à pesca. Uma grande multidão estava reunida ali, e Jesus ensinou-lhes. Por fim, ele partiu, subiu a margem do Jordão, atravessou a ponte bem acima da balsa já mencionada e prosseguiu pela Galileia oriental até a terra de Basã.
Eu vi numa região além do Jordão, um distrito coberto de areia branca e pequenas pedras brancas, vários discípulos num celeiro aberto à espera da vinda do Senhor. Tinham trazido com eles três jovens, altos e magros. Enquanto esperavam por Jesus, os discípulos haviam colhido bagas amarelas e verdes tão grandes quanto figos, também pequenas maçãs amarelas que cresciam algumas em arbustos, outras em árvores, das quais as derrubavam com varas. A estrada pela qual Jesus e os três apóstolos vieram parecia não ser muito frequentada, pois era coberta com longas ervas, e estendia-se sob uma avenida de árvores frutíferas espalhando cujos ramos entrelaçados estavam sobrecargados. Os apóstolos colheram alguns dos frutos e os puseram nos bolsos, mas Jesus não pegou nenhum. Ele tinha viajado a noite toda através de distritos montanhosos. Os discípulos que esperavam a sua chegada agora saíram para o encontrar. Eles aproximaram-se dele com palavras de saudação, mas sem abrir as mãos. Em frente ao celeiro havia um tronco longo, largo e quadrangular, em torno do qual Jesus e os outros se lançaram em uma postura reclinada como à mesa, e diante de cada um foi colocada uma porção do fruto recém-colhido. Também tinham trazido consigo jarrinhos contendo algum tipo de bebida. À distância havia uma cidade e atrás dela se erguia uma cadeia de montanhas. Acho que esta região estava na terra dos amorreus. A partir daquele lugar, a estrada voltava a tomar uma direção de descida. Vi Jesus e Seus companheiros viajando o dia todo e, à noite, chegando a uma pequena aldeia dispersa. À beira da estrada havia uma pousada. Os viajantes entraram e logo foram cercados por uma multidão de pessoas curiosas. Não tinham ouvido muito sobre Jesus, mas, na sua maioria, eram bons e de coração simples. Jesus contou-lhes a parábola do bom pastor, e então viajou a uma curta distância para outra hospedaria, onde Ele e Seus seguidores comeram e dormiram. O Senhor disse a este último que Ele pretendia ir sozinho com os três jovens através da Caldeia e da terra de Ur, o lugar de nascimento de Abraão, e daí através da Arábia para o Egito. Os discípulos deveriam espalhar-se por todo o distrito e instruir os habitantes; quanto a si mesmo, acrescentou, ensinaria onde quer que fosse. Por fim, Ele novamente lhes disse que, no fim de três meses, eles se encontrariam no Poço de Jacó, perto de Sicar. Vi Simeão, Cléofas e Saturnino entre os discípulos.
Ao amanhecer, Jesus despediu-se dos apóstolos e discípulos, estendendo a mão a cada um deles. Eles ficaram muito perturbados por Ele ter levado com Ele apenas os três jovens. Esses jovens tinham de dezesseis a dezoito anos de idade e eram muito diferentes dos judeus. Eles eram mais magros e ativos, e usavam roupas longas. Eram como crianças para Jesus, a quem esperavam com muito afeto. Sempre que chegavam a água, lavavam-lhe os pés. Eles corriaam pela estrada aqui e ali, e voltavam com pequenas hastes, flores, frutas e bagas. Jesus ensinou-os com muito amor e explicou-lhes em parábolas tudo o que havia acontecido até aquele tempo. Os pais desses jovens pertenciam à família de Mensor. Eles tinham vindo à Palestina com a caravana dos Três Reis e, na partida dos mesmos para casa, haviam ficado para trás entre os pastores no Vale dos Pastores. Tornaram-se judeus, casaram-se com as filhas dos pastores e tomaram posse das pradas entre Samaria e Jericó. O mais jovem dos jovens chamava-se Eremenzear e mais tarde foi chamado de Hermas. Ele era o menino que Jesus, pela oração de sua mãe, curou na região de Sicar, depois de Sua entrevista com a samaritana no poço de Jacó. O próximo era Sela, ou Silas; e o mais velho, Eliud, recebeu no Batismo o nome de Siricius. Também foram chamados de discípulos secretos, e, mais tarde, foram associados a Tomé, João e Paulo. Eremenzear escreveu um relato desta viagem.
Nesta viagem, Jesus usava uma túnica castanha, de malha ou tecida, que caía em volta Dele em dobras longas e cheias; sobre ela, Ele tinha uma longa veste de lã fina branca com mangas largas. Ficava presa à cintura por um cinto do mesmo material que o lenço que Ele enrolava em volta de Sua cabeça quando dormia. Jesus era mais alto que os apóstolos. Caminhando ou de pé, o seu rosto belo e grave erguia-se acima deles. O seu passo era firme, a sua postura ereta. Ele não era magro nem robusto, mas nobre de forma, com uma aparência de perfeita saúde. Seus ombros eram largos, e Seu peito bem desenvolvido. O exercício e as viagens haviam fortalecido Seus músculos, embora não apresentassem sinais de trabalho duro.
A estrada tomada por Jesus e os jovens, depois de se separarem dos Apóstolos, era uma subida acentuada na direção do Oriente, sobre um solo branco e arenoso e através de cedros e tamareiras. Em frente, erguiam-se os montes de Gileade. Jesus queria passar o próximo sábado na última cidade judaica reunida naquela direção. Acho que se chamava Cedar. Jesus e os jovens comiam no caminho dos frutos das árvores e das bagas. Os jovens carregavam bolsas cheias de pequenos rolinhos, jarras contendo algum tipo de bebida e varas. O Senhor às vezes quebrava um cajado para si mesmo de uma árvore no caminho, e depois o deixava. Seus pés, normalmente nus, eram protegidos por sandálias. À noite, eles foram a uma casa solitária ocupada por pessoas rudes e simples, e ali dormiram durante a noite. Jesus em nenhum lugar se fez conhecido, embora em toda parte ensinasse com belas parábolas de todos os tipos, mas principalmente com aquelas relacionadas com o bom pastor. As pessoas perguntaram-lhe sobre Jesus de Nazaré, mas ele não disse que era ele. Ele, por sua vez, fez-lhes perguntas a respeito de seu trabalho, de seus negócios, de modo que concluíram que Ele era um pastor itinerante procurando por boas pastagens, como era frequentemente o caso nos países judaicos. Não o vi fazer nenhuma cura nem fazer nenhum milagre naquelas partes. Na manhã seguinte, Ele continuou a viagem. Ele talvez ainda estivesse a alguns quilômetros de Cedar, que era construída em terreno elevado, com a cadeia de montanhas atrás dela. A pátria de Abraão ficava nesta direção, mas bem longe, em direção ao nordeste; a terra dos Três Reis ficava em direção ao sudeste.
Alguns dos discípulos haviam voltado para suas casas, enquanto outros haviam se espalhado pelo país ensinando. Zaqueu, de Jericó, acompanhou-os por algum tempo, após o que ele voltou para casa, desistiu de seu negócio, vendeu tudo o que tinha, deu a soma aos pobres e se mudou com sua esposa (com a qual, a partir de então, viveu em continência) para outro lugar. O Senhor disse aos discípulos que nove semanas seriam passadas antes que eles se juntassem a Ele novamente.
A excitação em Jerusalém por causa de Lázaro foi muito grande. Jesus se ausentou durante ela, para que as pessoas pudessem perdê-Lo de vista, ao passo que a convicção da verdade deste milagre inclinou muitos à conversão. Quando Jesus voltou, estava muito magro. Não há relato escrito desta viagem, visto que nenhum apóstolo acompanhou o Senhor nela; talvez também os apóstolos nem sequer soubessem de todos os lugares em que Ele esteve. Se bem me lembro, foi então que vi esta estrada pela primeira vez.
Jesus viajou com Seus três jovens companheiros para o sudeste, tomando caminhos mais freqüentes, e passou a noite, como a anterior entre os pastores, em uma casa solitária. As pessoas daquelas partes eram boas e sem arte. Eles olharam para Jesus com admiração, e imediatamente o amaram. Ele contou-lhes muitas das parábolas que ele costumava usar na Judéia, e eles ouviam-no com prazer. Mas Ele não curou nem abençoou. Quando lhe perguntaram sobre Jesus, o Nazareno, ele lhes respondeu falando-lhes sobre os que haviam deixado tudo para segui-lo, e então passou a contar-lhes parábolas que explicavam o que ele havia dito. As pessoas pensavam que era um pastor à procura de rebanhos ou prados.

Jesus em Cedro

Jesus e os jovens chegaram a Cedar antes do sábado. Eles não tinham viajado pela estrada principal, mas por caminhos circulares. Visto que já era tarde demais para entrar na cidade, passaram a noite numa grande pousada pública onde outros viajantes haviam procurado abrigo. Haviam galpões abertos com acomodações para dormir no recinto, e o todo era cercado por um pátio. Um homem, o que supervisionava o estabelecimento, abriu a pousada, depois de que ele voltou para a cidade. Na manhã seguinte, ele saiu novamente para a pousada, e, em seguida, recebeu uma pequena soma por seus serviços. Os viajantes seguiram vários caminhos, mas o superintendente levou Jesus e Seus companheiros de volta com ele à sua própria casa na cidade. O cedro estava situado ao pé de uma montanha, num vale através do qual passava um rio. Consistia numa cidade antiga e numa nova, separadas pelo pequeno rio que fluía do leste em direção à Palestina. A costa era muito íngreme, e o rio era atravessado por dois arcos muito solidamente construídos. Neste lado, o lugar era pobre e insignificante, e habitado principalmente por pastores judeus que também se dedicavam à fabricação de cabanas leves, utensílios para pastores e estábulos. Do lado oposto, o cedro apresentava uma aparência mais opulenta. Não havia judeus lá, mas apenas pagãos. O traje judaico era um pouco modificado ali, pois algumas das pessoas usavam um boné pontiagudo. Na cidade daquele lado do rio, havia uma sinagoga, e em uma praça cercada por campos de grama e passeios de areia branca limpa, jorrava uma fonte. Era o lugar mais bonito da cidade.
O Senhor e os meninos foram com o seu exército à sinagoga, e celebraram o sábado em silêncio. No fim das orações, Jesus perguntou se podia aventurar-se a contar-lhes alguma coisa, e quando as boas pessoas mostraram sua disposição de ouvir, relatou a parábola do filho pródigo. Escutaram-no com atenção, admirando-o grandemente, mas não o reconheceram. Ele chamou a si mesmo de um pastor que procurava as ovelhas perdidas para levá-las a um bom pasto. Eles o consideravam um profeta e, durante o resto do dia, o levavam para suas casas, onde ele também ensinava. No dia seguinte ensinou na fonte. Os homens e as mulheres sentaram-se aos Seus pés, e Ele abraçou as crianças ao Seus seios. Ele lhes contou sobre Zaqueu subindo na figueira, de como ele deixou tudo e o seguiu; sobre aquele que no Templo havia dito: "Agradeço a Deus por não ser como o publicano"; e, por último, sobre aquele outro que, batendo no peito, disse: "Senhor, tem misericórdia de mim, pobre pecador!" Os habitantes de Cedar tornaram-se muito afetuosos com Jesus e não pensaram em fazer-Lhe mal. Pediram-lhe que ficasse com eles até o próximo sábado e, então, ensinasse novamente em sua escola, e, quando lhe fizeram perguntas a respeito de Jesus de Nazaré, ele lhes contou muitas coisas sobre ele e seu ensino.
Ao deixar aquele lugar, Jesus e Seus companheiros de viagem prosseguiram para o leste, de Cedar, para um país de belos prados e palmeiras, e dali para Edom. No caminho, Ele visitou uma casa que se destacava por si só, e na qual tanto o pai como a mãe da família haviam estado acamados por muito tempo com doenças incuráveis. Várias crianças iam e vinham pela casa. Todos eram bons. Ali também lhe perguntaram sobre Jesus de Nazaré, de quem haviam ouvido várias informações. Jesus respondeu-lhes com uma bela parábola sobre um rei e seu filho, na qual falou daquele de quem eles perguntavam. Ele lhes disse que seria perseguido e que voltaria ao Reino de Seu Pai, que compartilharia com todos os que O seguissem. Enquanto Jesus falava, eu tive uma visão de Sua Paixão, Sua Ascensão, Seu trono cercado por todos os anjos e colocado ao lado de Seu Pai, significando Seu domínio sobre o mundo; e, por último, vi a recompensa distribuída a Seus seguidores. Vi também a visão do Seu Reino e toda a parábola que relatava às pessoas, e vi também que imprimia em seus corações uma imagem duradoura dele. Quando ele perguntou se eles acreditavam em tudo o que ele lhes disse e se eles seguiriam o bom rei, e eles negaram sua crença e disposição, ele prometeu aos dois idosos que Deus os recompensaria curando-os e permitindo que eles o seguissem até Edon. E, de repente, recuperaram a saúde e, para espanto dos espectadores, conseguiram realmente seguir Jesus até Edom. O nome do homem era Benjamim, e ele era descendente direto de Rute. Acho que Titus era filho ou parente deste casal que foi curado. Ele tinha naquela época entre quatorze e dezesseis anos de idade. Ele foi a Cedar e a todos os outros lugares da região em que Jesus ensinava, a fim de ouvi-Lo e ouvir os outros falarem sobre Ele. Marcos, cuja terra natal era mais próxima da Judéia, conhecia esta família, assim como Silas.
Jesus e os três jovens, ao deixarem aquela casa, foram para Edom, passando por campos e prados encantadores, à sombra de palmeiras. Jesus carregava uma vara de pastor na mão direita. Na casa do banquete público, numa grande praça aberta à esquerda da entrada da cidade, estava sendo celebrado um casamento. A casa continha um grande salão, no fim do qual estava a cozinha. Em volta dele havia apartamentos para dormir, em cada um dos quais havia três camas que podiam ser separadas umas das outras por uma cortina ornamentada. Embora fosse claro dia, uma lâmpada estava acesa no salão. Os convidados, homens e mulheres, assim como a noiva e o noivo, adornados com grinaldas de flores, estavam todos reunidos no mesmo apartamento. Os meninos cantavam e tocavam flautas e outros instrumentos. Essas pessoas piedosas esperavam por Jesus, a quem consideravam como profeta. Eles tinham ouvido o Seu ensino e as parábolas em Cedar e no distrito circunvinho, e, em conseqüência, O haviam convidado para o seu casamento. Receberam-no com alegria e reverência, lavaram-lhe os pés e aos de seus jovens companheiros, e os enxugaram com suas próprias vestes. Tiraram de Jesus o bastão, puseram-no num canto e prepararam-lhe uma mesa. Nela estavam alguns pequenos rolos, um favo de mel com quase um pé de comprimento, e algumas bagas vermelhas do topo do qual eles se separaram antes de comer um pequeno círculo de folhas pretas com ponta branca. Havia também pequenos jarros de barro e copos sobre a mesa e alguns pratos pequenos. O último mencionado parecia ser de barro esmaltado, do qual com pequenas colheres eles colocaram algo em sua bebida. Os convidados recostaram-se à mesa em pequenos bancos inclinados, e a Jesus foi dado o lugar entre o noivo e a noiva. As mulheres sentavam-se na parte inferior. Jesus abençoou a comida e a bebida, das quais todos então participaram.
Durante a refeição, Jesus ensinou. Ele contou aos convidados sobre o homem da Judéia que, em Caná da Galiléia, transformou a água em vinho num casamento. Quando o casal, que os convidados conheciam há tanto tempo como doente, mas que havia recuperado a saúde, apareceu, a surpresa foi grande. Relataram tudo o que o Senhor lhes tinha dito sobre o Rei e Seu Reino, declararam sua crença nele e disseram que tinham tanta certeza de ter parte nesse mesmo Reino quanto tinham agora consciência do fato de terem sido curados. Jesus repetiu-lhes a parábola e disse-lhes em palavras claras que ainda havia um muro entre eles e os domínios desse Rei, mas que poderiam forçar seu caminho através dele se se superassem a si mesmos. Era de manhã, quando os participantes foram para a cama.
O Senhor e os rapazes dormiam atrás da sala de jantar. Antes de deitar-se, porém, retirou-se e, ajoelhando-se, orou com as mãos erguidas a Seu Pai Celestial. Eu vi fluxos de luz saindo de Sua boca, e outro fluxo de luz, ou uma forma angélica, descendo em direção a Ele. Isto acontecia muitas vezes, mesmo em plena luz do dia, quando Jesus, a qualquer hora, se retirava para um lugar solitário para orar. Eu sabia disso sobre Ele mesmo na minha infância, e quando o via orando assim sozinho, tentava imitá-Lo. Eu vi a Santíssima Virgem, até a concepção do Salvador, geralmente em pé em oração, com as mãos cruzadas em seu peito, e seus olhos abaixados; mas depois da mais santa Encarnação, ela geralmente se ajoelhva, seu rosto erguido para o Céu, e suas mãos levantadas.
Na manhã seguinte, por causa da grande afluência de pessoas, Jesus ensinava ao ar livre. Ele resolveu muitos assuntos matrimoniais, pois o povo daquele lugar havia perdido a verdadeira concepção da Lei sobre esse assunto. Queriam casar-se com dois parentes de sangue em sucessão, e questionaram Jesus sobre o assunto. Explicou-lhes que isso não era permitido pela Lei mosaica, e eles prometeram abster-se de tais uniões. Foi dito a Jesus também que, num dos lugares vizinhos, certo homem estava prestes a casar-se pela sexta vez, sendo suas cinco esposas falecidas irmãs da atual noiva. Jesus disse que iria visitar aquele lugar. Ele voltou para Cedar para o sábado, e ensinou o dia inteiro na escola. Decidiu muitas questões e dúvidas sobre a Lei e o casamento, e reconciliou alguns casais que estavam em desacordo.

Jesus vai a Sicar-Cedro e ensina sobre o mistério do casamento

De Cedar, Jesus, com uma numerosa escolta, dirigiu-Se para o norte, tendo o país por toda a parte um aspecto mais plano. Vi-os chegarem a uma aldeia de pastores, fora da qual havia abrigos abertos, longas fileiras de árvores com galhos entrelaçados, e cabanas formadas de galhos e folhas verdes. Sob um dos galpões, todos comiam figos, uvas e tâmaras. Eles ainda estavam lá, a noite era suave e adorável, quando as estrelas brilhavam no céu e as gotas de orvalho brilhavam candidamente abaixo.
Quando o resto do grupo se dispersou para suas casas, Jesus, com os três jovens, percorreu o distrito ensinando, e chegaram, por volta da tarde do dia seguinte, à pequena cidade de Sicar-Cedar, construída na encosta de uma cadeia de montanhas. Algumas pessoas saíram ao seu encontro. Levaram-no à casa pública da cidade, que era como a de Caná, na Galiléia, e ali encontrou uma multidão reunida. Alguns jovens casados haviam perdido seus pais por uma morte súbita, e agora estavam recebendo naquela casa todos os que haviam seguido os restos até o túmulo. Na frente da casa havia um pátio cercado por um corrimão, e nele uma árvore de folhagem habilmente tecida. Em cada um dos quatro cantos havia uma cisterna de pedra cheia de água, da qual cresciam plantas rasteiras. Eram cultivadas em palanges e, em seguida, eram direcionadas em arcos até o centro do pátio, onde uma coluna de mármore esculpida sustentava o telhado verdejante assim formado. As plantas, como juncos ou juncos, mantinham seu frescor por muito tempo. Esta decoração, bem como todas as guirlandas que adornavam a casa, era de extraordinária beleza. Em um salão próximo do pátio, Jesus e Seus companheiros foram lavados os pés, e os refrescos habituais foram oferecidos. Daí, foram a outro apartamento, onde havia uma refeição pronta. Jesus insistiu em servir à mesa. Ele entregou a todos os convidados pão, frutas e grandes pedaços de favo de mel, e derramou de jarros no copo de beber de cada um três tipos de bebida: um era um suco verde; outro, algum tipo de bebida amarela; e o terceiro, um fluido perfeitamente branco. Jesus ensinava o tempo todo. Sicar-Cedar era o lugar de que Jesus fora informado, na festa de casamento, que muitos moravam ali em relações matrimoniais ilegais.
Apenas o marido do casal de luto estava presente no banquete fúnebre. Chamava-se Eliud. Ele havia estado na festa de casamento em Edom, e ao voltar para casa, descobriu que seus sogros haviam deixado esta vida. Eles haviam morrido repentinamente, vencidos pela tristeza ao descobrir que sua filha, a esposa de Eliud, era adúltera. O próprio Eliud não tinha nenhuma insinuação do fato, nem, consequentemente, da causa da morte súbita de seus sogros. Quando terminou a refeição mencionada acima, Jesus permitiu que Ele fosse conduzido por Eliud a sua casa. Os jovens não foram com Ele. Jesus falou com a mulher em particular. Ela estava muito triste. Ela caiu aos pés de Jesus em lágrimas, e confessou o seu pecado. Quando Jesus a deixou, Eliud levou-O ao seu aposento. Vi o Senhor dizer-lhe algumas palavras graves e comoventes e, quando Eliud O deixou, Ele orou um pouco e depois foi descansar. Na madrugada seguinte, Eliud, com um lavatório e um galho verde, foi ter com Jesus, que ainda estava deitado na cama, apoiado em Seu braço. Ele se levantou; Eliud lavou Seus pés e os enxugou com suas próprias vestes. Então, o Senhor lhe disse para levá-lo ao seu quarto, pois Ele queria, por sua vez, lavar-lhe os pés. O Eliud não queria saber disto. Mas Jesus disse-lhe seriamente que, se ele não cedesse, deixaria imediatamente sua casa, que era preciso, que, se quisesse segui-Lo, não recusasse obedecer. Ao ouvir estas palavras, Eliud levou Jesus ao seu aposento e trouxe-Lhe uma bacia de água. Jesus agarrou-o pelas mãos, olhou-o amorosamente nos olhos, disse algumas palavras sobre o assunto da lavagem dos pés, e então informou-o de que sua esposa era adúltera, mas penitente, e que ele devia perdoá-la. Ao receber esta informação, Eliud caiu prostrado no chão, contorcendo-se e chorando em um excesso de agonia mental. Jesus afastou-se dele e orou. Depois de algum tempo, tendo terminado a primeira luta amarga, Jesus foi ter com ele, levantou-o do chão, falou-lhe palavras de consolo e lavou-lhe os pés. Quando Eliud se acalmou, Jesus ordenou que ele chamasse sua esposa. Ele fez isso, e ela entrou na sala velada. Jesus pegou a mão dela, colocou-a na de Eliud, abençoou a ambos, consolou-os e levantou o véu da mulher. Então, ele os despediu com instruções de que enviassem seus filhos a ele, e quando eles vieram, ele os abençoou e os devolveu a seus pais. De então em diante, Eliud e sua esposa permaneceram fiéis um ao outro, e ambos fizeram um voto de continença. Naquele mesmo dia, Jesus visitou muitos outros lares, a fim de conduzir os seus ocupantes do erro de seus caminhos. Vi-O ir de casa em casa, conversando com as pessoas sobre seus diversos assuntos e assim ganhando sua confiança.
Na montanha próxima a este lugar, Sicar-Cedar, havia fileiras inteiras de colmeias. A encosta da montanha era em socalcos, e nos socalcos, encostados à montanha, havia numerosas colmeias quadradas de topo achatado, com cerca de dois metros de altura, os topos adornados com botões. Elas eram colocadas em várias fileiras, uma em cima da outra. Elas não eram presas na parte de trás, mas pontiagudos como um telhado, e podiam ser abertas de cima para baixo na lateral da prateleira. O conjunto apiário era cercado por uma treliça de juncos finos. Entre essas pilhas de colmeias haviam degraus que levavam aos terraços e grades de cada lado, com flores brancas e frutos silvestres. Podia ser montado de terraço em terraço, em cada um dos quais havia um sistema semelhante para abelhas.
Quando as pessoas perguntavam a Jesus de onde ele vinha, ele invariavelmente respondia por parábolas, às quais as pessoas simples de coração acreditavam. Sob o alpendre da casa pública, Ele deu uma catequese, na qual contou a parábola do filho do rei que veio para liberar todas as dívidas de seus súditos. Seus ouvintes entenderam a parábola no sentido literal e se regozijaram grandemente com o que ela prometeu. Jesus então voltou-se para a parábola do devedor que, depois de ter obtido um adiamento para o pagamento de sua própria grande dívida, insistiu em trazer perante o juiz o homem que lhe devia uma insignificância. Disse-lhes também que Seu Pai lhe havia dado uma vinha que tinha de ser cultivada e podada, e que Ele procurava trabalhadores para substituir os servos inúteis e preguiçosos, que Ele ia expulsar, e que eram imagens dos ramos que eles tinham negligenciado de podar. Então Ele lhes explicou o corte da vinha, falou da quantidade de madeira e folhagem inúteis, e do pequeno número de uvas. Com isso comparou os elementos prejudiciais que, por meio do pecado, entraram no homem. Estas, disse Ele, devem ser cortadas e destruídas pelo exercício da mortificação, a fim de que possam produzir fruto. Isto levou a algumas palavras sobre o casamento e seus preceitos, bem como sobre a modéstia e a propriedade a serem observadas nele, após o que voltou à vinha e disse ao povo que também deveriam cultivá-la. Responderam-lhe, de forma bastante inocente, que o país não estava adaptado à cultura da vinha. Mas Jesus respondeu que deveriam plantá-la naquele lado do monte ocupado pelas colmeias, pois era uma excelente exposição para ela, e então contou uma parábola que tratava das abelhas. O povo expressou sua disposição de trabalhar em Sua vinha, se Ele lhes permitisse. Mas Ele lhes disse que tinha de ir e absolver as dívidas, que tinha de fazer com que a verdadeira videira fosse posta no lagar, a fim de produzir um vinho que dá vida, e ensinar a outros a cultivar e preparar o mesmo. As pessoas de coração simples ficaram perturbadas com a idéia de que Ele se fosse embora, e imploraram a Ele que permanecesse com elas. Mas, consolou-os, dizendo que, se cressem nele, enviaria-lhes alguém que os empregaria em sua vinha. Vi que os habitantes daquele pequeno lugar foram depois batizados por Tadeu, e que todos emigraram durante uma perseguição.
Jesus não se lembrou de nenhuma das profecias, não fez milagres naquele lugar. Apesar de seus distúrbios morais, essas pessoas eram simples e infantis. Os casais casados que viviam separados foram novamente unidos por Jesus, e Ele explicou ao homem que, depois de ter se casado com cinco irmãs, estava agora prestes a casar-se com a sexta, que tais uniões eram ilegais.
Jesus deu outra catequese sobre o casamento. Ilustrou Seu assunto por meio de semelhanças profundamente significativas tiradas do cultivo da videira, do cuidado da vinha e do poda dos ramos supérfluos. Fiquei particularmente impressionada com Suas palavras notáveis e claramente convincentes a este respeito, de que sempre que reinava discórdia no estado de casados e sempre que o casamento falhava em produzir bons frutos puros, a culpa era principalmente do lado da esposa. Cabe a ela suportar e sofrer, cabe a ela formar, preservar, o fruto do casamento. Por seus labores espirituais e vitórias sobre o eu, ela pode aperfeiçoar sua própria alma e o fruto de seu ventre, pode erradicar qualquer mal que possa haver nele, visto que toda a sua conduta, todas as suas ações, resultam na bênção ou na ruína de sua descendência. No casamento não deve haver questão de gratificação sensual, mas apenas de penitência e mortificação, de constante temor, de constante guerra contra o pecado e os desejos pecaminosos, e esta guerra é melhor conduzida pela oração e pela autoconquista. Tais lutas contra o eu, tais vitórias sobre o eu por parte da mãe, asseguram vitórias semelhantes aos seus filhos. Toda este ensino foi dado pelo Senhor em palavras tão maravilhosas por seu significado como por sua simplicidade. Ele disse muitas outras coisas, claras e precisas, sobre o mesmo assunto. Fiquei tão impressionado com a verdade do que Ele disse e com a grande necessidade disso, que o pensamento fluiu impetuosamente à minha mente: Por que não se põe tudo isto por escrito? Por que não há nenhum discípulo presente que pudesse escrever tudo isso, para que as pessoas, em toda parte, pudessem conhecê-lo? Pois, em toda esta visão, eu estava, por assim dizer, presente entre a audiência de Jesus, e o seguia aqui e ali. Enquanto eu tão fervorosamente refletia sobre esse pensamento, meu Noivo Celestial virou-se e me dirigiu com as seguintes palavras: "Eu suscito a caridade, cultivo a vinha onde quer que ela dê melhor fruto. Se estas coisas fossem escritas, sofreriam o destino de tantos outros escritos, cairiam no esquecimento, ou seriam mal interpretadas, ou totalmente condenadas. As palavras que acabo de dizer, assim como inúmeras outras que nunca foram escritas, tornar-se-ão mais produtivas em efeitos do que o que foi preservado por escrito. Não é a Lei escrita que é obedecida; mas aqueles que crêem, esperam e amam, têm tudo escrito em seus corações. O modo como Jesus ensinou tudo isso, o uso constante de parábolas pelas quais Ele ilustrou a partir da natureza da videira tudo o que Ele disse sobre o casamento e, por outro lado, o empréstimo de ilustrações apropriadas do casamento sobre o cultivo da videira, tudo foi inexprimivelmente belo e convincente. O povo perguntou ao Senhor com muita simplicidade, e Ele lhes deu respostas que mostravam ainda mais claramente quão perfeitamente Seus exemplos explicavam Sua doutrina.
Ao meio-dia, a cerimônia nupcial de um jovem casal pobre ocorreu em frente à sinagoga, e Jesus assistiu a ela. Ambos eram bons e inocentes, por isso o Senhor era muito bondoso com eles. A procissão nupcial para a sinagoga era liderada por meninos de seis anos de idade com grinaldas na cabeça e flautas nas mãos, donzelas vestidas de branco carregando pequenas cestas de flores que esparramavam no chão, e jovens tocando harpas, triângulos e outros instrumentos musicais agora pouco conhecidos. O noivo estava vestido quase como um sacerdote. Tanto ele como a noiva eram atendidos por assistentes que, durante a cerimônia, colocavam as mãos nos ombros. O casamento foi celebrado por um sacerdote judeu, num salão cujo telhado tinha sido aberto logo acima da festa nupcial. Estava perto da sinagoga. Quando as estrelas começaram a aparecer no céu, os exercícios do sábado eram celebrados na sinagoga, após o qual se iniciava um jejum que durava até a noite seguinte. Quando isso terminou, as festividades de casamento foram realizadas na casa de hóspedes usada em tais ocasiões, durante as quais Jesus contou muitas parábolas, tais como a do Filho Pródigo e as mansões na casa de Seu Pai. O noivo não tinha casa própria. Ele deveria fazer sua morada naquela que pertencia à mãe de sua noiva, Jesus disse-lhe que, até que ele recebesse uma mansão na casa de Seu Pai, ele deveria tomar sua morada sob uma tenda na vinha que Ele mesmo ia colocar no monte das abelhas. Então, Ele novamente ensinou sobre o casamento, sobre o qual Ele permaneceu por um longo tempo. Se pessoas casadas, Ele disse, vivessem juntas modestamente e castamente, se reconhecessem seu estado como um de penitência, então guiariam seus filhos no caminho da salvação, então seu estado não se tornaria um meio de desviar almas de seu fim, mas um que colheria uma colheita para aquelas mansões na casa de Seu Pai. Nesta catequese, Jesus chamou a si mesmo de Esposo de uma noiva em quem todos os que deveriam ser ajuntados, nasceriam de novo. Ele fez alusão à festa de casamento em Caná, e falou da transformação da água em vinho. Ele sempre falava de Si mesmo na terceira pessoa, como daquele Homem na Judéia que Ele conhecia tão bem, que seria tão amargamente perseguido, e que finalmente seria morto.
O povo ouvia tudo isso com fé simples, infantil, e as parábolas eram para eles fatos reais. O noivo parecia ser um professor de escola, pois Jesus lhe disse como devia ensinar pelo seu próprio exemplo. Jesus fez alusão também a Ismael, pois Cedar e o país vizinho eram povoados por seus descendentes. Eles eram, na maior parte, pastores, e se consideravam inferiores ao povo da Judéia, de quem falavam como de uma nação muito grande, uma raça escolhida. Eles ainda se agarravam ao antigo modo de vida. O dono de numerosos rebanhos morava numa casa grande cercada por um fosso, e no meio dos pastos que a cercavam ficavam as casas dos subalternos. Para o poço, que pertencia ao proprietário principal, apenas os seus próprios rebanhos tinham o direito de ir, embora os de seus vizinhos gozassem do mesmo privilégio se existisse um acordo para esse efeito. Tais assentamentos patriarcais estavam espalhados espessamente aqui e ali, embora de outra forma o lugar fosse de pouca importância.
Movidos para isso pelas palavras de Jesus, o povo decidiu construir para o casal recém-casado uma moradia leve no monte das abelhas, onde, mais tarde, seria plantada a vinha. Cada amigo construiu no lugar  para a tenda uma parede de luz vime que foi então coberta com peles, e depois revestida com algo de uma natureza viscosa. Quando uma peça estava terminada, era transportada para o local para o qual era destinada. Cada um fazia o que podia, uns mais, outros menos, e partilhavam uns com os outros conforme a necessidade. O Senhor lhes disse como tudo seria feito, e eles o ouviram admirados, pois ele sabia tanto sobre tais coisas. Ele lhes havia ensinado, na festa de casamento, que os idosos e os pobres deviam ocupar os lugares mais altos. Jesus foi com as pessoas para a pequena colina em frente ao monte das abelhas, a fim de escolher lá o melhor local para a vinha. A parte de trás da tenda devia repousar contra o terreno elevado da vinha. Quando a Festa da Lua Nova acabara de começar, todos retornaram com Jesus à casa de hóspedes. Ele sabia que, quando Ele disse que eles deveriam construir uma casa para o casal recém-casado, muitos haviam pensado e dito uns aos outros: "Talvez Ele não tenha Sua própria casa, nenhum lugar de morada. Será que Ele, talvez, tomará a Sua residência com estas pessoas? Foi por isso que Jesus lhes disse agora que não iria ficar entre eles, que não tinha lugar de morada nesta terra, que Seu Reino ainda não havia vindo, que tinha de plantar a vinha de Seu Pai e regá-la com Seu Sangue no Monte Calvário. Eles não podiam compreender as Suas palavras agora, disse Ele, mas fariam isso depois que Ele tivesse regado a vinha. Depois, Ele voltava para eles de um país escuro. Ele enviaria os Seus mensageiros para chamá-los, e então eles sairiam daquele lugar e O seguiriam. Mas, quando Ele voltasse pela terceira vez, levaria para o Reino de Seu Pai todos os que haviam trabalhado fielmente na vinha. A sua permanência ali não era para ser longa, portanto, a casa que estavam edificando era para ser leve, antes, uma tenda que pudesse ser facilmente removida. Em seguida, Jesus deu uma longa cateqoese sobre caridade mútua. Deveriam, disse Ele, lançar a sua âncora no coração do seu vizinho, para que as tempestades do mundo não os separassem e destruíssem. Falou novamente em parábolas da vinha, dizendo que ficaria apenas o tempo suficiente para preparar a vinha para o casal recém-casado e ensiná-los a plantar as videiras, depois partiria para cultivar a que pertencia a Seu Pai. Jesus ensinou todas estas coisas numa linguagem tão simples, e, no entanto, tão bem adaptada ao ponto em questão, que Seus ouvintes ficaram cada vez mais convencidos da sua verdade, mantendo ao mesmo tempo a sua simplicidade. Ele ensinou-lhes a reconhecer em toda a natureza, na própria vida, uma lei oculta e santa, embora agora desfigurada pelo pecado. A cateqoese durou até tarde da noite, e quando Jesus quis despedir-se deles, as pessoas o prenderam. Eles o abraçaram, exclamando: "Explique-nos tudo de novo, para que possamos entender melhor". Mas Ele respondeu que deveriam praticar o que lhes havia pregado, e prometeu enviar-lhes alguém que lhes esclarecesse tudo. Durante esta assembléia, participaram duma refeição leve, na qual todos beberam do mesmo copo.
O jovem para quem o Senhor havia feito construir a casa era chamado Salathiel, e o nome da noiva era uma palavra que significava "bonita" ou "bruneta". Com a maior parte dos habitantes do lugar, foram batizados por Tadeu. O evangelista Marcos também esteve nesta região por algum tempo. Trinta e cinco anos após a Ascensão de Cristo, Salatiel com sua esposa e três filhos adultos se mudaram para Éfeso. Vi-o ali na companhia do ourives Demétrio, que uma vez levantou uma rebelião contra Paulo, mas que depois se converteu. Demétrio deu-lhe um longo relato de Paulo, e narrou a história de sua conversão. Paulo não estava então em Éfeso. Salatiel, seus três filhos, e Demétrio foram juntar-se a ele, enquanto a esposa do primeiro nomeado permaneceu em Éfeso numa casa para a qual muitos de seu próprio país vieram e residiram com ela. Quase todos os judeus deixaram Éfeso naquele tempo. Salatiel e seus três filhos, Demétrio, Silas e um homem chamado Caio, estavam todos no mesmo barco com Paulo quando ele sofreu o naufrágio perto da ilha de Malta, e foram com ele à ilha. De sua prisão em Roma, Paulo designou a cada um dos três filhos de Salatiel o lugar em que devia trabalhar.
Quando Jesus foi com os homens ao monte das abelhas, a fim de mostrar-lhes como plantar as videiras, o local para a casa da tenda já estava marcado e uma espaldeira erguida. Os homens disseram a Jesus que as uvas cultivadas naquelas regiões eram sempre amargas, ao que Jesus respondeu que isso era porque pertenciam a uma espécie pobre. Elas eram de um estoque ruim, eles foram induzidos a plantarem uvas selvagem sem poda; consequentemente, elas tinham apenas a aparência de uvas, sem sua doçura. Mas, acrescentou Ele, as que Ele estava agora prestes a plantar seriam doces. O ensino voltou-se novamente para o casamento, que, disse Jesus, só poderia produzir frutos puros e doces quando fosse guardado por autodomínio, mortificação e moderação unidos à esforço e ao trabalho.
Das plantas jovens que Ele havia ordenado trazer para o local, Jesus escolheu cinco, que Ele colocou no chão que Ele mesmo havia preparado anteriormente, e mostrou aos homens como amarrá-las à espaldeira na forma de uma cruz. Tudo o que Ele disse, enquanto estava assim envolvido, da natureza e do treinamento da videira, referia-se ao mistério do casamento e à santificação de seu fruto. Quando Jesus continuou esta catequese na sinagoga, falou da obrigação da continência a fim de conceber e, como prova do mesma, apresentou a profundidade da corrupção em que os homens haviam caído neste particular. O homem, disse Ele, poderia, a este respeito, aprender uma lição do elefante. (Havia alguns desses animais naquela região). No fim da catequese, Jesus repetiu que logo os devia deixar, a fim de plantar e regar a videira no Monte Calvário, mas que enviaria alguns para ensiná-los todas as coisas e levá-los à vinha de Seu Pai. Quando, ao mesmo tempo, falou do Reino e das mansões de Seu Pai, as pessoas perguntaram-Lhe por que não tinha trazido nada com Ele daquele Reino e por que andava tão mal vestido. Jesus respondeu que esse Reino estava reservado para os que O seguissem, e que ninguém o receberia sem merecê-lo. Ele era, disse Ele, um estrangeiro à procura de servos fiéis que pudesse chamar para a vinha. Ele, portanto, havia construído a casa do noivo tão levemente, porque a terra não seria uma morada permanente para sua posteridade e eles não se prenderiam a ela. Por que se deveria construir uma morada sólida para o corpo, visto que ele próprio é apenas um vaso frágil? Deveria, de fato, ser cuidada e purificada como a casa da alma, como um templo sagrado, mas não deveria ser poluída, ou, para prejuízo da alma, sobrecarregada ou tratada com demasiada delicadeza. De tal discurso Jesus voltou-se novamente para a casa de Seu Pai, para o Messias, e todos os sinais pelos quais Ele poderia ser reconhecido. Entre estes últimos, Ele mencionou o fato de que Ele nasceria de uma raça ilustre, embora de pais simples e piedosos, e acrescentou que, segundo os sinais do tempo, Ele já devia ter vindo. Jesus disse que deveriam apegar-se a Ele e observar Seus ensinamentos.
Jesus, em seguida, ensinou sobre o amor ao próximo e o bom exemplo. Voltando-se para o noivo Salathiel, Ele disse-lhe para deixar sua casa estar aberta, para ter confiança perfeita no que Ele lhe tinha dito, e para viver piedosamente; se ele fizesse isso, Deus guardaria sua casa para ele e nada seria roubado dela. Salatiel havia recebido para sua nova casa muito mais do que era realmente necessário, pois Jesus havia censurado o egoísmo. Devem, disse Ele, estar dispostos a sacrificar-se por Deus e pelo próximo. A comunicação entre Jesus e essas pessoas tornou-se cada vez mais íntima e, a fim de resgatá-las da ignorância em que haviam caído, Ele ensinou sob múltiplas semelhanças sobre a castidade, a modéstia e a autoconquista que deveriam agraciar o estado casado. As semelhanças se referiam à semeadura e à colheita. Ele também foi visitar duas pessoas que estavam prestes a se casarem, apesar de sua relação entre si em graus proibidos. Um casal era parente de sangue. Jesus os chamou à Sua presença e disse-lhes que o seu plano nasceu do desejo de bens temporais, e que não era lícito. Ficaram assustados ao descobrirem que ele conhecia os seus pensamentos, pois ninguém lhe havia dito nada sobre isso, de modo que abandonaram a sua intenção. Ali lavavam os pés uns dos outros, e a noiva enxugou os pés de Jesus com a ponta de seu véu, ou a parte superior de seu manto. Tanto o homem como a mulher reconheceram Jesus por Seu ensino como mais do que um Profeta. Eles foram convertidos e seguiram-no. Em seguida, Jesus foi a uma casa no campo, onde morava uma madrasta que queria casar-se com seu enteado, embora este último ainda não compreendesse claramente seu propósito. Jesus fez o filho conhecer o perigo em que se encontrava, e mandou que fugisse do lugar e fosse trabalhar em Salathiel, o que ele obedientemente fez. O Senhor lavou-lhe também os pés. A madrasta, a quem Jesus repreendeu severamente por sua culpa, ficou muito exasperada. Ela não fez penitência e foi para a perdição.
O povo daquela região deve ter tido, por intermédio de seus antepassados, algumas relações especiais com a Arca da Aliança. Perguntaram a Jesus o que tinha acontecido com o Mistério Sagrado contido na Arca. Ele respondeu que a humanidade havia recebido tanto dela, que agora havia passado para dentro deles, e que, pelo fato de não mais ser encontrada, poderiam concluir que o Messias havia nascido. Muitas pessoas daquele país acreditavam que o Messias havia sido morto entre os Santos Inocentes.

Jesus ressuscita um homem morto

A cerca de uma hora a leste de Sicar ficava a morada de um rico proprietário de gado. A casa era cercada por um fosso. O dono havia morrido repentinamente num campo não muito longe de sua casa, e sua esposa e filhos estavam em grande aflição. Os restos mortais estavam prontos para o enterro, e a família enviara mensageiros à cidade para implorar ao Senhor e a outros que viessem ao funeral. Jesus foi, acompanhado por Seus três discípulos, Salatiel e sua esposa, e por várias outras pessoas - cerca de trinta no total. O cadáver, pronto para o sepultamento, fora colocado numa ampla avenida de árvores em frente à casa. O homem fora morto por castigo por seus pecados, pois havia tomado parte dos bens de alguns pastores que, devido ao seu tratamento opressivo, foram obrigados a deixar aquela parte do país. Pouco depois de cometer esse pecado, ele caiu morto no próprio terreno do qual injustamente se apropriara. De pé diante do cadáver, Jesus falou do falecido. Perguntou qual foi a vantagem para ele agora que ele tinha uma vez mimado e servido seu corpo, aquela casa que sua alma agora tinha que deixar. Por causa daquele corpo, ele havia colocado a sua alma em dívida que nem tinha e que nunca poderia pagar. A esposa do falecido estava afundada em luto. Ela repetia constantemente antes da vinda de Jesus: "Se o Rei dos Judeus de Nazaré estivesse aqui, Ele poderia ressuscitá-lo dos mortos!" Em resposta a estas palavras, Jesus disse: Sim, o Rei dos judeus pode fazê-lo. Mas os homens o perseguirão por causa disso. E matarão aquele que lhes deu a vida, e serão renegados. Ao que os que estavam ao redor responderam: "Se Ele estivesse entre nós, nós O reconheceríamos!"
Jesus resolveu colocá-los à prova. Ele falou da fé, e prometeu que o Rei dos judeus os ajudaria, desde que acreditassem e praticassem tudo o que Ele ensinava. Daí, Ele separou a família do falecido, juntamente com Salathiel e sua esposa, do resto dos assistentes, a quem ordenou que se retirassem, ao passo que falou com a esposa, a filha e o filho do falecido. Mesmo antes dos outros terem saído, a mulher dirigiu estas palavras a Jesus: "Senhor, falas como se tu mesmo fosses o Rei dos judeus!" Mas Jesus fez sinal para que ela se calasse. Quando agora os outros, que Ele sabia serem mais fracos na fé, se retiraram, Jesus disse à família que, se cressem na Sua doutrina, se O seguissem e se ficassem em silêncio sobre o assunto, Ele ressuscitaria o homem morto, pois sua alma ainda não havia sido julgada, ela ainda permanecia no campo, na cena de sua injustiça, bem como de sua separação do corpo. A família prometeu de todo o coração tanto a obediência como o silêncio, e Jesus foi com eles ao campo em que o homem havia morrido. Eu vi o estado em que a alma do falecido estava. Eu vi-o num círculo, numa esfera acima do local onde ele tinha morrido. Antes de passarem por ela as imagens de todas as suas transgressões com as suas consequências temporais, e a visão consumiu-me de tristeza. Vi também todos os castigos que ela sofreria, e foi-me concedida uma visão da satisfacente Paixão de Jesus. Ele, rasgado de tristeza, estava prestes a entrar em seu castigo, quando Jesus orou e o chamou de volta ao corpo pronunciando o nome Nazaré, o nome do falecido. Então, voltando-se para os assistentes, Ele disse: "Quando voltarmos, encontraremos Nazor sentado e vivo!" Eu vi a alma ao chamado de Jesus flutuando em direção ao corpo, tornando-se menor, e desaparecendo pela boca, no momento em que Nazor se levantou para uma postura sentada em seu caixão. Eu sempre vejo a alma humana descansando acima do coração de onde numerosos fios correm para a cabeça.
Quando Jesus e Seus companheiros retornaram à casa, encontraram Nazaré, ainda envolto em seus lençóis funerários e com as mãos amarradas, sentado no caixão. A mulher desamarrou-lhe as mãos e soltou as ligaduras. Ele saiu do caixão, lançou-se aos pés de Jesus, e tentou abraçar os Seus joelhos. Mas o Senhor retirou-se e disse-lhe que deveria purificar-se, lavar-se e permanecer escondido em seu quarto, para que não falasse de sua ressurreição até que Ele mesmo tivesse deixado aquela região. A esposa então levou o marido a um canto retirado da moradia, onde ele se lavou e se vestiu. Jesus, Salatiel e sua esposa, e os três discípulos tomaram alguma comida e ficaram na casa. O caixão foi colocado no sepulcro. O Senhor ensinou até depois do anoitecer. Na manhã seguinte, Ele lavou os pés do Nazareno ressuscitado e o exortou para o futuro a pensar mais em sua alma do que em seu corpo, e a devolver a propriedade mal adquirida. Depois, chamou os filhos para si, falou da misericórdia de Deus que seu pai havia experimentado, e exortou-os ao temor de Deus, então Ele os abençoou e os levou a seus pais. A mãe, também, conduziu Jesus ao pai. Ele apresentou-a a ele como a alguém que voltava de longe, a fim de que pudessem viver juntos de uma maneira mais estrita e temente a Deus.
Naquele dia, Jesus ensinou muitas coisas relacionadas com o casamento, por meio de parábolas. Ele dirigiu-se especialmente ao casal recém-casado. A Salathiel Ele disse: "Tu deixaste que o teu coração fosse movido pela beleza da tua esposa! Mas pense em quão grande deve ser a beleza da alma, visto que Deus enviou Seu Filho à terra para salvar almas pelo sacrifício de Seu Corpo! Quem serve o corpo, não serve a alma. A beleza inflama a concupiscência, e a concupiscência corrompe a alma. A incontinência é como uma planta rasteira que sufoca e destrói o trigo e a videira. Essas últimas palavras voltaram a catequese novamente para o assunto da cultura da videira e do trigo, e Jesus advertiu Seus ouvintes a manterem longe de seus campos e vinhas duas ervas daninhas que ele designou pelo nome. Por fim, anunciou-lhes que no próximo sábado ensinaria na escola de Cedar, e naquela ocasião ouviriam o que deveriam fazer para se tornarem Seus seguidores e participarem em Seu Reino. Ele lhes disse, além disso, que então partiria daquela região e viajaria para o oriente, para a Arábia. Quando lhe perguntaram por que ele ia entre esses pagãos, os adoradores da estrela, ele respondeu que tinha amigos entre eles que haviam seguido uma estrela, a fim de cumprimentá-lo no seu nascimento. Ele quis procurá-los, a fim de convidá-los também para a vinha e para o Reino de Seu Pai, e colocá-los no caminho reto para ele.
Uma multidão extraordinariamente grande reuniu-se em Cedar para encontrar-se com Jesus, que agora começara a curar publicamente multidões de doentes. Às vezes, ao passar entre os que haviam sido trazidos por seus amigos, Ele apenas pronunciava as palavras: "Levanta-te! Siga-Me! E levantavam-se curados. O espanto e a admiração produzidos por esses milagres alcançaram tal nível de entusiasmo que, se o próprio Jesus não os tivesse suprimido, todo o país teria se levantado em um súbito tremor de alegria.
Salatiel e sua esposa estavam na assembléia em Cedar. Jesus mais uma vez falou a eles sobre os deveres do estado casado, e deu-lhes instruções detalhadas sobre a maneira pela qual eles deveriam viver juntos, a fim de se tornarem uma boa videira (isto é, uma que produziria frutos puros e excelentes, tais como se tornariam discípulos de Seus Apóstolos, santos e mártires). Ele inculcou a observância da modéstia e da pureza, pediu-lhes que em todas as suas ações visassem a pureza de intenção, exortou-os à oração e à renúncia e ordenou rigorosamente a continência perfeita após o período de concepção. Falou da confiança mútua que deveria existir entre marido e esposa, e da obediência deste último ao primeiro. O marido não deve ficar calado quando a esposa lhe faz perguntas. Deve respeitá-la e ser indulgente para com ela, visto que ela é o vaso mais fraco. Ele não deve desconfiar dela se a vir conversando com outros, nem deve ela ter ciúmes ao vê-lo fazer o mesmo; ainda assim, cada um deve ter cuidado de não dar ao outro motivo de aflição. Não devem permitir a intervenção de terceiros entre eles, e devem resolver sozinhos as suas pequenas diferenças. Ele disse à esposa que ela deveria tornar-se uma piedosa Abigail, e apontou-lhes uma região adequada para o cultivo de trigo. Ele disse que eles deveriam erguer uma cerca em volta de sua vinha, que deveria consistir das admoestações que Ele acabara de lhes dar.
Antes de deixar Cedar, Jesus deu na sinagoga outra catequese muito longa, na qual Ele novamente explicou a conexão existente entre todos os pontos sobre os quais até aquele tempo ele havia ensinado ali separadamente. Ele falou em alegorias simples e infantis dos mistérios do Pecado Original, a propagação viciosa da raça humana, sua corrupção cada vez maior, as disposições da graça de Deus e Sua orientação do povo escolhido de geração em geração até a Virgem Santíssima, o mistério da Encarnação e a regeneração do homem caído da morte para a vida eterna através do Filho da Virgem. Ali introduziu a parábola do grão de trigo, que tinha de ser enterrado na terra antes de germinar em novo fruto, mas não foi compreendido por Seus ouvintes. Ele disse-lhes que deveriam segui-Lo não por um curto período de tempo, mas numa longa jornada que só terminaria no Juízo Final. Ele falou da ressurreição dos mortos e do Juízo Final, e ordenou-lhes que vigiassem! Então, ele contou a parábola dos servos preguiçosos. O julgamento vem como um ladrão à noite; a morte atinge a cada hora. Eles, os ismaelitas, eram representados pelos servos, e deviam ser fiéis. Melquisedeque, Ele disse, era um tipo de Si mesmo. Seu sacrifício consistia em pão e vinho, mas, n'Ele, eles seriam transformados em carne e sangue. Por fim, Jesus lhes disse em termos claros que Ele era o Redentor. Nesta revelação, muitos se tornaram tímidos e temerosos, enquanto outros se tornaram mais ardentes e entusiastas em sua adesão a Ele. Impôs-lhes, em particular, o amor uns pelos outros, a compaixão, a simpatia na alegria e na tristeza, tal como os membros do corpo sentem uns pelos outros.
Os pagãos do bairro pagão de Cedar estavam presentes a esta catequese, que ouviram de longe. Haviam sido muito hostis aos judeus, mas, a partir de então, muitos se aproximaram deles e os questionaram de maneira amigável sobre a doutrina e os milagres de Jesus.

Jesus Chega à Primeira Cidade de Tendas dos Adoradores da Estrela

Quando Jesus, com os três jovens, deixaram Cedar, Nazor, o governante da sinagoga, que traçava sua origem até Tóbias, Salatiel, Eliud, e o jovem Tito O acompanharam boa parte do caminho. Atravessaram o rio e atravessaram o bairro pagão da cidade, onde exatamente naquele tempo se celebrava uma festa pagã e se oferecia sacrifício diante do templo. A estrada ia primeiro para o leste e depois para o sul, através de uma planície que ficava entre duas altas cordilheiras de montanhas, às vezes sobre colmeias, outras vezes sobre areia amarela ou branca e às vezes sobre seixos brancos. Por fim, chegaram a um grande trecho de campo aberto coberto de vegetação, no qual havia uma grande tenda entre as palmeiras, e ao redor muitas outras menores. Ali Jesus abençoou e despediu-se de Sua escolta, e então continuou Sua viagem por mais algum tempo em direção à cidade das tendas dos adoradores da estrela. O dia estava a declinar quando ele chegou a um belo poço num buraco. Era cercado por um dique baixo, e perto dele havia um colher de água. O Senhor bebeu, e depois sentou-se junto ao poço. Os jovens lavaram-Lhe os pés e Ele, por sua vez, lhes fez o mesmo serviço. Tudo foi feito com simplicidade infantil, e a visão foi extremamente comovente. A planície estava coberta de palmeiras, prados, e a uma distância considerável havia grupos de tendas. Uma torre, ou pirâmide em terraços, de tamanho bastante bom, ainda não mais alta do que uma igreja comum, surgia no centro do distrito. Aqui e ali, alguns homens apareceram e, de longe, olharam para Jesus, admirados, não imbuídos de temor, mas ninguém se aproximou dele.
Não muito longe do poço ficava a maior das casas de tendas. Era encimado por várias torres, e consistia em muitos andares e apartamentos conectados por divisórias, alguns com grades, outros apenas de lona. A parte superior era coberta de peles. No total, era muito artisticamente feita e muito bela. A partir deste castelo de tendas cinco homens saíram carregando galhos, e viraram seus passos na direção de Jesus. Cada um carregava na mão um ramo de um tipo diferente de fruto: um tinha pequenas folhas amarelas e frutos, outro estava coberto de bagas vermelhas, um terceiro era um ramo de palmeira, um carregava um ramo de videira cheio de folhas, e o quinto carregava um cacho de uvas. Da cintura aos joelhos eles usavam uma espécie de túnica de lã cortada nas laterais, e na parte superior do corpo uma jaqueta larga e cheia, feita de algum tipo transparente, de material de lã, com mangas que chegavam a cerca de metade do cotovelo. Eram de pele clara, tinham uma barba curta e preta e cabelos compridos e encaracolados. Em sua cabeça havia uma espécie de chapéu em espiral do qual dependia muitos lapetes em torno de suas têmporas. Aproximaram-se de Jesus e de Seus companheiros com um ar amigável, cumprimentaram-nos e, ao apresentar-lhes os ramos que tinham nas mãos, convidaram-nos a acompanhá-los de volta à tenda. O ramo da videira foi apresentado a Jesus, aquele que atuava como guia carregando um ramo semelhante. Ao entrar na tenda, Jesus e Seus companheiros foram assentados em almofadas decoradas com borlas, e lhes foi apresentado frutas. Jesus pronunciou apenas algumas palavras. Os convidados foram então conduzidos através de um corredor de tenda alinhado com quartos de dormir contendo sofás-cama, e mobiliados com almofadas altas, àquela parte da tenda em que se encontrava a sala de jantar. No centro do salão erguia-se o pilar que sustentava a tenda; e em torno dele havia guirlandas entrelaçadas de folhas e frutos, galhos de videira, maçãs e cachos de uvas - tudo de aparência tão natural que não posso dizer se eram realmente naturais ou apenas pintadas. Ali, os atendentes desenharam uma pequena mesa oval, com a altura de um banquinho. Era formado por folhas leves que podiam ser abertas rapidamente e seus pés separados em dois suportes. Eles estenderam sob ela um tapete colorido sobre o qual haviam representações de homens como eles mesmos, e colocado sobre ela copos e outros móveis de mesa. A tenda era pendurada com tapeçaria, de modo que nenhuma parte da tela em si podia ser vista.
Quando Jesus e os jovens discípulos se estenderam sobre o tapete ao redor da mesa, os homens presentes trouxeram bolos, cortados no meio, toda sorte de frutas e mel. Os próprios atendentes se sentavam em bancos redondos e baixos, com as pernas cruzadas. Entre seus pés, eles colocavam um pequeno disco apoiado numa perna longa, e sobre o disco colocavam seu prato. Eles mesmos serviam aos seus convidados por turnos, os servos permanecendo fora da tenda com tudo o que era necessário. Eu os vi indo para outra tenda e trazendo de lá pássaros, que haviam sido assados em um espeto na cozinha. Este último apartamento consistia apenas de uma cabana de barro em que havia uma abertura no telhado para deixar sair a fumaça do fogo na lareira. Os pássaros foram servidos de uma maneira bastante notável. Eles estavam (mas eu não sei como foi feito) coberto com suas penas, e parecia como se estivessem vivos. Após a refeição, os convidados foram escoltados por cinco homens para seus quartos de dormir, e lá estes últimos ficaram bastante espantados ao ver Jesus lavar os pés dos jovens, serviço que eles Lhe prestaram em troca. Jesus explicou-lhes o seu significado, e decidiram praticar no futuro o mesmo ato de cortesia.

Celebração Noturna dos Adoradores das Estrelas

Quando os cinco homens se despediram de Jesus e de Seus jovens companheiros, todos saíram da tenda juntos. Eles usavam manto mais atrás do que antes, com uma aba larga pendurada na parte de trás do pescoço. Eles foram para um templo que foi construído na forma de uma grande pirâmide de quatro cantos, não de pedra, mas de materiais muito leves, como madeira e peles. Havia uma série de degraus externos da base até o cume. Foi construído em um buraco que se erguia em terraços e era cercado por degraus e parapeitos. O recinto circular era atravessado por entradas para as diferentes partes do templo, e as próprias entradas eram protegidas por cercas ornamentais claras. Várias centenas de pessoas já estavam reunidas na área. As mulheres casadas ficavam atrás dos homens; as moças, atrás delas; e por último de tudo, as crianças. Nos degraus do templo piramidal havia globos iluminados que piscavam e cintilavam como as estrelas do céu, mas não sei como isso era feito. Foram dispostas regularmente, em imitação de certas constelações. O templo estava cheio de pessoas. No centro do edifício erguia-se uma alta coluna da qual as vigas se estendiam até as paredes e até o cume da pirâmide, carregando as luzes pelas quais os globos exteriores eram iluminados. A luz dentro do templo era muito extraordinária. Era como o crepúsculo, ou melhor, o luar. Um parecia estar olhando para um céu cheio de estrelas. A lua também podia ser vista, e bem no centro de tudo brilhava o sol. Era um arranjo executado com grande habilidade, e tão natural que produzia sobre o observador uma impressão de temor, especialmente quando ele contemplava, pela fraca luz da parte inferior do templo, os três ídolos que estavam colocados ao redor daquela coluna central. Um era como um ser humano com a cabeça de um pássaro e um grande bico torto.
Vi as pessoas a oferecerem-lhe em sacrifício todo o tipo de alimentos. Eles se amontoavam em seus enormes pássaros e coisas semelhantes que caíam em seus corpos repetidas vezes. Outro desses ídolos tinha uma cabeça quase como a de um boi, e estava sentado como um ser humano em uma postura agachada. Colocavam pássaros em seus braços, que eram estendidos como se estivessem recebendo um bebê. Nele havia um fogo no qual, através dos buracos feitos para esse fim, os adoradores lançavam a carne de animais que haviam sido abatidos e cortados em pedaços sobre a mesa de sacrifício diante dele. A fumaça escapava por um tubo encurvado na terra e comunicava-se com o ar exterior. Não se viam chamas no templo, mas os horríveis ídolos brilhavam com um brilho avermelhado na luz fraca. Durante a cerimônia, a multidão ao redor da pirâmide cantava de uma maneira muito notável. Às vezes, uma única voz era ouvida, e, em seguida, novamente um coro poderoso, as cepas de repente mudavam de lamentação para exultação, e quando a lua e estrelas diferentes brilhavam, eles davam gritos de boas-vindas entusiasmados. Acho que esta celebração idólatra durava até o nascer do sol.
Antes de despedir-se daquelas pessoas na manhã seguinte, Jesus lhes deu algumas palavras de instrução. A suas perguntas sobre quem era e para onde estava viajando, ele respondeu por lhes falar sobre o Reino de Seu Pai. Ele estava, disse Ele, à procura de amigos que O haviam saudado no Seu nascimento. Depois disso, Ele desceu ao Egito, para procurar alguns companheiros de Sua infância e chamá-los a segui-Lo, pois logo voltaria para Seu Pai. Ele falou-lhes sobre o assunto de sua adoração idólatra, pela qual se meteram em tanto trabalho e abateram tantos sacrifícios. Deveriam adorar o Pai, o Criador de todas as coisas, e em vez de sacrificarem vítimas a ídolos que eles mesmos fizeram, deveriam conceder tais presentes aos seus irmãos pobres. As moradias das mulheres ficavam atrás e totalmente separadas das tendas dos homens, cada um dos quais tinha muitas esposas. Eles usavam roupas longas, joias nas orelhas e cocares em forma de boné alto. Jesus elogiou a separação das mulheres dos homens. Era bom, disse Ele, que a primeira ficasse em segundo plano, mas contra a multiplicidade de esposas Ele bradou vigorosamente. Ele disse: "Eles não devem ter senão uma só esposa, a qual devem tratar como a que deve ser submetida, embora não como uma escrava". Durante esta catequese, Jesus lhes pareceu tão amável, tão semelhante a um ser sobrenatural, que imploraram a Ele que permanecesse com eles. Queriam trazer um sábio e velho sacerdote para conversar com Ele, mas Jesus não permitiu isso. Então, apresentaram alguns manuscritos antigos que eles consultaram. Não eram rolos de pergaminho, mas folhas grossas, que pareciam feitas de casca, e sobre as quais a escrita estava profundamente impressa. Estas folhas eram muito parecidas com couro grosso. Os idólatras insistiram em que o Senhor permanecesse e os instruísse, mas Ele recusou, dizendo que o seguiriam quando voltasse ao Pai, e que não negligenciaria chamá-los no tempo certo.
Quando estava prestes a partir, Jesus escreveu para eles, com uma haste afiada de metal, no chão de pedra de sua tenda, as iniciais de cinco membros de Sua raça. Pareceram-me apenas as letras, quatro ou cinco delas, entrelaçadas, e entre elas eu reconheci um M. Estavam profundamente gravadas na pedra. Os pagãos olharam admirados para a inscrição, para a qual imediatamente conceberam grande reverência. Mais tarde, converteram a pedra sobre a qual foi traçada num altar. Vi-o agora em Roma, fechado num dos cantos de Santa igreja de Pedro, nem os inimigos da Igreja poderão levá-la!
Jesus não permitiu que nenhum desses pagãos O acompanhassem quando Ele partiu. Dirigiu Seus passos para o sul com Seus jovens discípulos através das tendas amplamente espalhadas e passou pela torre dos ídolos. Ele observou aos jovens como Ele havia sido recebido com afeto por esses pagãos, para os quais Ele nada havia feito, e como maliciosamente os judeus obstinados e ingratos O haviam perseguido, embora Ele os tivesse cumulado de benefícios. Jesus e Seus jovens companheiros camunharam rapidamente durante todo aquele dia. Pareceu-me que Ele ainda tinha uma viagem de alguns dias, cerca de cinquenta milhas, antes de chegar ao país dos Reis.

Jesus encontra uma tribo pastoral

Pouco antes do início do sábado, vi Jesus na vizinhança de algumas tendas de pastores, onde Ele e Seus jovens companheiros sentaram-se junto a uma fonte e lavaram os pés uns dos outros. Então Ele começou a celebrar o sábado, orando com os jovens e instruindo-os, a fim de que mesmo ali, em uma terra estranha, os vitupérios dos judeus de que Ele não santificava o dia de sábado não pudessem ser verificados. Naquela noite, ele dormiu com os três jovens ao ar livre junto ao poço. Não havia moradias permanentes neste lugar, e não havia mulheres entre os pastores. Eles tinham apenas uma hospedaria temporária, ou caravana, perto de seus pastos distantes. Na manhã seguinte, os pastores se reuniram em torno de Jesus e ouviram Suas palavras. Perguntou-lhes se não haviam ouvido falar de algumas pessoas que, trinta e três anos antes, haviam sido guiadas por uma estrela à Judéia, para saudar o recém-nascido Rei dos judeus. Eles gritaram: "Sim! Sim! E ele continuou a dizer-lhes que ele estava agora viajando à procura daqueles homens. Os pastores demonstraram alegria e amor infantis por Jesus. Em um belo local cercado de palmeiras, fizeram-Lhe um belo trono elevado, até o qual se subia por degraus cobertos de palha. Eles trabalhavam tão rapidamente, cortando e levantando a grama com longas pedras, ou facas de osso, que o assento logo estava terminado. O Senhor assentou-se sobre ela, e ensinou nas mais belas parábolas. Os pastores, em número de cerca de quarenta, ouviram como crianças pequenas e depois oraram com Jesus.
Naquela noite, os pastores derrubaram uma de suas tendas e, unindo-a a outra, formaram assim um grande salão, no qual prepararam para todo o grupo um entretenimento composto de frutas, uma espécie de papo grosso enrolado em bolas e leite de camelo. Quando Jesus abençoou a comida que estava prestes a comer, eles perguntaram por que Ele fez aquilo, e quando Ele explicou a razão, eles O imploraram para abençoar todo o resto da comida, o que Ele fez. Queriam também que ele deixasse para trás dele algum alimento abençoado. E quando lhe trouxeram, para esse propósito, coisas suaves e muito perecíveis, ele pediu frutos que não pudessem apodrecer. Eles trouxeram, e Ele abençoou algumas bolas brancas feitas de arroz. Disse-lhes que sempre misturassem um pouco das provisões abençoadas com a sua outra comida, que então nunca se estragaria, e a bênção nunca seria tirada. Os reis já sabiam através de sonhos que Jesus vinha vê-los.

Um maravilhoso globo

Vi o Senhor ensinar novamente do trono musgo. Ele ensinou sobre a criação do mundo, a Queda do Homem e a promessa da Redenção. Jesus perguntou se eles mantinham a tradição de qualquer promessa. Mas eles conheciam apenas algumas coisas relacionadas com Abraão e Davi, e essas eram misturadas com fábulas. Eram tão simples, como as crianças na escola. Quem soube alguma coisa em resposta a uma pergunta, disse-o de imediato. Quando Jesus viu quão inocentes e ignorantes eram, operou um grande milagre em seu favor. Não me lembro exatamente o que Ele disse, mas Ele pareceu pegar com a mão direita em um raio de sol do qual Ele desenhou uma bola como um pequeno globo luminoso, e deixá-lo pendurar da palma da mesma mão por um raio de luz. Parecia ser grande o suficiente para conter todas as coisas, e todas as coisas podiam ser vistas nele. As pessoas boas e os discípulos viram nele tudo como o Senhor lhes tinha dito, e todos ficaram assustados ao redor dele. Vi a Santíssima Trindade no globo, e quando vi o Filho nele, não vi mais Jesus na terra, apenas um anjo pairando pelo globo. Uma vez Jesus tomou o globo sobre a Sua mão, e novamente parecia como se a Sua própria mão fosse o globo, no qual inúmeras imagens se desdobravam, uma da outra. Eu ouvi algo sobre o número trezentos e sessenta e cinco, como se relacionando com os dias do ano, conectado com o qual também havia algo nas imagens formadas no globo.
Jesus ensinou aos pastores uma oração curta, na qual ocorriam palavras como as do Pai-Nosso, e Ele lhes deu três intenções para as quais deveriam recitá-la alternadamente. A primeira era agradecer pela criação, a segunda pela Redenção, e a terceira, creio eu, era pelo Juízo Final. Toda a história da Criação, da Queda, e da Redenção foi desdobrada em imagens sucessivas neste globo, junto com os meios dados ao homem para participar nela. Vi todas as coisas no globo conectadas por raios de luz com a Santíssima Trindade, de quem todas as coisas procedem, mas de quem muitas se separaram miseravelmente. O Senhor deu aos pastores uma idéia da Criação pelo globo que brotou de Sua mão; uma idéia da conexão do mundo caído com a Divindade e sua Redenção, pela suspensão do globo de Sua mão por um fio; e quando Ele o segurou em Sua mão, Ele lhes deu alguma idéia do Juízo. Ele ensinou-lhes igualmente sobre o ano e os dias que o compõem, visto que eram figuras daquela história da Criação, e então mostrou por que as orações e boas obras deveriam santificar as diferentes estações.
Quando o Senhor concluiu Sua catequese, o globo luminoso com suas imagens variadas desapareceu como tinha vindo. As pobres pessoas, completamente dominadas pelo sentimento de sua própria profunda miséria e pela dignidade divina de seu convidado, mostraram sinais de profunda aflição e se lançaram, junto com os três jovens, prostrados no chão, chorando e adorando. Jesus também ficou muito triste e prostrou-se no monte de grama em que Ele estava sentado. Os jovens tentaram levantá-Lo; e quando por fim Ele se levantou por Si mesmo, os pastores também se levantaram, e, em pé ao Seu redor, timidamente, ousaram perguntar-Lhe a causa de Sua tristeza. Jesus respondeu que Ele estava de luto com os que choravam. Ele então pegou um dos jacintos que cresciam selvagens naquela região (mas que eram muito maiores e mais bonitos do que os que temos), e perguntou-lhes se conheciam as propriedades daquela flor. Quando o céu é perturbado, Ele disse, ele se seca, ele como se fosse pinheiro, e sua cor tornava-se pálida, e assim também uma nuvem tinha passado sobre o seu próprio sol. Ele lhes contou muitas outras coisas notáveis sobre essas flores e seu significado. Ouvi-O também chamá-los por um nome extremamente estranho que, me disseram, correspondia ao nosso nome para ele, o jacinto.

Abolição da adoração a idolos

Embora Jesus soubesse muito bem, questionou os pastores sobre o tipo de adoração que praticavam. Ele era como um bom professor que se torna uma criança com os seus filhos. Então os bons trouxeram-Lhe os seus deuses na forma de toda espécie de animais, ovelhas, camelos, burros - todas as imitações muito hábeis dos próprios animais. Pareciam ser feitas de metal, e estavam cobertas de peles; e, o que era verdadeiramente risível, todos os ídolos representavam animais fêmeas. Foram providos de longos sacos, em imitação de úberes, aos quais estavam presos mamilos de cana. Estes sacos eles enchiam de leite, leitava-os em seus banquetes, bebiam, e depois dançavam e saltavam. Cada um escolhia do seu rebanho o mais belo, o melhor gado, que ele criava com cuidado e considerava sagrado. Eram segundo estes modelos sagrados que os pobres idólatras faziam os seus deuses, e era com o seu leite que enchiam os úmeros. Quando celebravam serviços religiosos, reuniam todos os seus ídolos numa tenda decorada para a ocasião, e então começavam a embriagar-se como numa festa. As mulheres e as crianças também estavam presentes, e a ordenhar e a comer, beber, cantar, dançar e adorar os ídolos continuando vigorosamente. Não era no sábado que celebravam, mas no dia seguinte.
Enquanto os pagãos contavam tudo isso a Jesus e lhe mostravam seus ídolos, eu via a coisa toda tomando forma e sendo realizada diante de meus olhos. O Senhor lhes explicou o quão miserável era a sombra do verdadeiro serviço religioso deles e, depois de algumas palavras mais nesse sentido, terminou por dizer-lhes que Ele mesmo era o Escolhido do rebanho. Ele era o Cordeiro de quem fluía todo o leite que nutria a alma para a salvação. Então Ele ordenou-lhes que abolissem a sua zoologia, que expulsassem os animais vivos de volta para os rebanhos, e que o metal do qual os ídolos eram compostos fosse dado aos pobres. Ele disse que eles deveriam erguer altares, queimar incenso sobre eles ao Criador Todo-Poderoso, o Pai Celestial, e dar graças a Ele. Deveriam, além disso, orar pela vinda do Redentor e dividir seus bens com seus irmãos pobres, pois não muito longe, no deserto, vivia uma gente tão pobre que não tinham nem mesmo tendas para abrigar. Qualquer parte do seu gado abatido que não pudessem comer, devia ser queimada como sacrifício, também o pão que sobrasse e não fosse dado aos pobres. As cinzas deveriam ser aspergidas sobre o solo improdutivo, que Jesus lhes indicou, a fim de atrair sobre ele uma bênção. Ao prescrever esses diferentes pontos, Ele explicou as razões para observá-los. Então Ele fez alusão novamente aos reis que O haviam visitado. As pessoas disseram, sim, eles tinham ouvido que trinta e três anos antes, aqueles Reis haviam viajado longe em busca do Salvador e na esperança de encontrar junto com Ele tudo o que pudesse conduzir à felicidade e salvação. Os reis, acrescentaram, haviam retornado ao seu país e mudado algo na sua adoração religiosa, mas isso era tudo o que eles tinham ouvido falar deles.
Jesus, em seguida, andou com esses pastores entre seus rebanhos e cabanas, ensinando-lhes toda sorte de coisas, até mesmo sobre as diferentes ervas que ali cresciam. Ele prometeu enviar-lhes logo alguém para instruí-los. Assegurou-lhes que Ele não havia vindo à terra apenas para os judeus, como eles, em sua humildade, pensavam, mas para cada ser humano que ansiava por Sua vinda. Pelo pouco que sabiam de Abraão, esta pobre tribo de pastores tinha concebido grande estima pela sobriedade. Os três jovens ficaram especialmente impressionados com o recente milagre do globo luminoso. A sua atitude para com o Senhor era muito diferente da dos apóstolos. Eles O serviram em dependência, em silêncio, e com simplicidade infantil. Ao contrário dos apóstolos, eles nunca tiveram nada a responder ao seu Mestre. Os apóstolos, porém, ocupavam um cargo, ao passo que esses jovens eram como eruditos pobres e dependentes.

Jesus continua sua viagem à cidade das tendas dos Reis

Quando Jesus deixou os pastores e seguiu Sua jornada para a terra dos Três Reis, cerca de doze deles O acompanharam. Pareciam ter algum tipo de imposto a pagar pelo qual levavam pássaros em cestas. Esta viagem foi muito solitária, pois em toda a extensão do percurso não encontraram uma só casa de moradia. A estrada, no entanto, estava claramente marcada, e não havia nenhuma chance de o viajante se perder no deserto. Árvores alinhadas ao lado da estrada com frutos comestíveis do tamanho de figos, e aqui e ali se encontravam bagas. Em certos pontos, marcando uma jornada de um dia, haviam locais de descanso formados. Eles consistiam em um poço coberto cercado por árvores, cujas copas eram unidas em um grande aro, e seus galhos pendentes formavam assim um mandril. Esses lugares de descanso eram equipados com comodidades para acender fogo e passar a noite. Durante o grande calor do meio-dia, Jesus e os jovens descansaram em um desses poços e se revigoraram com algumas frutas. Toda vez que faziam uma pausa na viagem, Jesus e os jovens lavavam os pés uns dos outros. O Senhor nunca permitiu que os outros O tocassem. Os jovens, atraídos por Sua bondade, às vezes tratavam Jesus com confiança infantil, mas, novamente, quando pensavam em Seus milagres, em Sua divindade, lançavam olhares tímidos e assustados para Ele e olhavam uns para os outros. Vi também que Jesus muitas vezes parecia desaparecer diante deles, embora Ele não deixasse de dirigir a atenção deles para tudo o que eles encontravam em seu caminho e instruí-los sobre o mesmo.
Viajaram durante parte da noite. Quando pararam para descansar, os jovens acenderam o fogo girando dois pedaços de madeira juntos. Eles também tinham uma lanterna na ponta de um poste. Era aberta no topo, e sua pequena chama derramava em volta um brilho avermelhado. Não sei em que consistia. Vi durante a noite animais selvagens correndo furtivamente. A estrada passava por vezes por altas montanhas, não íngremes, mas subindo suavemente. Em um campo, vi muitas fileiras de nozes, e pessoas enchendo sacos com as nozes que haviam caído. Parecia algo como uma colheita. Havia outras árvores cujas folhas haviam desaparecido, mas os frutos ainda estavam presentes, pêssegos com troncos finos plantados em terreno elevado, e outra que parecia quase como o nosso louro. Alguns dos lugares de descanso para os viajantes estavam sob grandes arbustos de zimbro, cujos galhos eram tão grossos quanto o braço de um homem de bom tamanho. Eles cresciam em bem acima, mas caindo para baixo, de modo a permitir um abrigo delicioso. A maior parte da viagem, no entanto, foi através de um deserto de areia branca intercalada com lugares cobertos, alguns com pequenos seixos brancos, outros com pequenos polidos como ovos de pássaros; e havia grandes camas de pedras pretas, como os restos de pipocas trituradas, ou pedaços de cerâmica oca. Alguns desses fragmentos tinham buracos como anéis regulares, ou alças, e as pessoas do país vizinho costumavam ir em busca deles, a fim de utilizá-los como tigelas e outros vasos. A última montanha que os viajantes atravessaram estava coberta apenas de pedras cinzentas. Ao descerem do lado oposto, encontraram uma cerca densa, por trás da qual passava um curso de água rápido em torno de um pedaço de terra cultivada. Perto da costa, havia uma balsa formada por troncos de árvores entrelaçados com ossiês. Nela, atravessaram o riacho, e depois dirigiram seus passos para uma fileira de cabanas construídas de madeiras entrelaçadas e cobertas de musgo. Tinham telhados pontiagudos, e ao redor do apartamento central havia lugares para dormir mobiliados com assentos e sofás de musgo. Os ocupantes estavam vestidos modestamente e usavam cobertores em volta deles como mantos. A certa distância, vi construções de tendas, muito maiores e mais fortes do que qualquer outra que eu tivesse visto até então. Eram erguidas sobre uma fundação de pedra e tinham vários andares alcançados por degraus exteriores. Entre a primeira e a segunda cabana havia um poço, ao lado do qual Jesus sentou-se. Os jovens lavaram-lhe os pés, e então o conduziram a uma casa reservada para estranhos. As pessoas ali eram muito boas. Os que haviam acompanhado Jesus agora o deixaram para suas casas, levando provisões para o caminho.
Esta região de cabanas de musgo era de extensão muito considerável, e inúmeras moradias, como por aí entre os prados descritos, campos e jardins. Os grandes palácios de tendas não podiam ser vistos dali, pois ainda estavam bem longe; mas eram claramente visíveis da descida do monte. O país inteiro era extraordinariamente frutífero e encantador. Nas colinas havia numerosos grupos de árvores de bálsamo, que, quando entalhadas, destilavam um suco precioso. Os nativos pegavam-no naqueles vasos de pedra que pareciam algo como vasos de ferro, e que eles encontravam no deserto. Vi também magníficos campos de trigo, os caules tão grossos quanto juncos, videiras e rosas, flores tão grandes e redondas quanto a cabeça de uma criança; e outros notáveis por seu grande tamanho. Havia também pequenos riachos ondulantes claros e rápidos, cobertos por cercas cuidadosamente aparadas cujos topos eram unidos para formar um arco. As flores daquelas cercas eram recolhidas com cuidado, e as que caíam na água eram apanhadas em redes, espalhadas aqui e ali para esse fim, e assim preservadas. Nos lugares em que as flores eram pescadas havia portões nas cercas, que geralmente eram mantidos fechados. O povo trouxe e mostrou ao Senhor todos os frutos que tinham.
Quando Jesus falou a eles sobre aqueles homens que haviam seguido a estrela, disseram-Lhe que, ao retornar da Judéia ao lugar de onde haviam notado a estrela pela primeira vez, construíram no mesmo local um templo elevado na forma de uma pirâmide. Eles construíram uma cidade de tendas em torno dela, onde moravam juntos, embora antes estivessem distantes. Eles haviam recebido a garantia de que o Messias os visitaria eventualmente, e que, após Sua partida, eles também deixariam o lugar. Mensor, o mais velho, ainda estava vivo e bem; Theokeno, o segundo, que suportava a fraqueza da velhice, não podia mais andar. Seir, o terceiro, havia morrido alguns anos antes, e seus restos mortais, perfeitamente preservados, estavam num túmulo construído em forma de pirâmide. No aniversário de sua morte, seus amigos o visitavam, o abriam e realizavam certas cerimônias sobre os restos mortais, perto dos quais o fogo era mantido constantemente aceso. Eles perguntaram a Jesus sobre aqueles da caravana que haviam ficado para trás na Palestina, e enviaram mensageiros para a cidade das tendas, a um par de horas de distância, para informar Mensor que eles pensavam que tinham entre eles um enviado daquele rei dos judeus tão desejado por ele e seu povo.
Quando se aproximou a hora do sábado, Jesus pediu que uma das cabines desocupadas fosse colocada ao serviço Dele e de Seus discípulos, e, como não havia ali lâmpadas de estilo judaico, fizeram uma para si mesmos e celebraram seus exercícios sagrados.

Jesus é cerimoniosamente escoltado pelo Mensor ao seu castelo de tendas

Quando os Reis receberam a notícia da chegada de Jesus, fizeram grandes preparativos para recebê-Lo. As árvores foram amarradas para formar caminhadas cobertas, e arcos triunfais foram erguidos. Estes últimos eram adornados com flores, frutas, ornamentos de todos os tipos e pendurados com tapeçarias. Sete homens de mantos brancos, bordados de ouro, longos e treinados, e com turbantes em suas cabeças ornamentados com ouro e altos penachos de penas, foram enviados à região pastoril para encontrar Jesus e dar-lhe boas-vindas. Jesus proferiu na presença deles uma catequese na qual falou dos pagãos de mente reta, que, embora ignorantes, eram devotos de coração.
A morada dos Reis era tão espaçosa e tão rica em ornamentação que as palavras não conseguem descrevê-la. Era mais parecido com um jardim de lazer delicioso do que com uma verdadeira cidade de tendas. A principal tenda parecia um grande castelo. Consistia de vários andares erguidos sobre uma fundação de pedra. O mais baixo era formado por grades através das quais o olho podia penetrar, e os superiores continham os vários apartamentos, ao passo que ao redor do imenso edifício havia galerias cobertas e degraus. Castelos de tendas semelhantes ficavam ao redor, todos ligados por passeios pavimentadas com pedras coloridas ornamentadas com representações de estrelas, flores e coisas semelhantes. Esses passeios, tão limpos e bonitos, eram delimitados de ambos os lados por campos de grama e jardins cujas camas, regularmente dispostas, estavam cheias de flores, árvores esguias com folhas finas, como a mirta e o louro anão, e todos os tipos de bagas e plantas aromáticas. No centro da cidade, em cima de um monte de grama como descrito, levantava-se uma fonte muito alta e bonita de muitos jatos. Era coberta por um telhado apoiado em uma colunata aberta em torno da qual eram colocados bancos e outros assentos. As correntes dos jatos disparavam ao redor da coluna central. Atrás, ficava o templo, com suas colunatas circulares, contendo as abóbadas dos Reis, entre as quais estava o túmulo do Rei Seir. Este templo estava aberto de um lado, mas fechado nos outros pelas portas que levavam aos sepulcros. Tinha a forma de uma pirâmide de quatro cantos, mas o telhado não era tão plano como os que vi na parte inicial da jornada do Senhor. Passos em espiral com grades subiam em torno da pirâmide, cuja cúpula fora construída em abertura. Reparei também numa casa de tendas, de um lado, onde os jovens estavam sendo educados; e do outro lado, mas inteiramente separados, as meninas eram instruídas em vários ramos. As moradias das mulheres ficavam todas juntas e fora daquele recinto. Viviam inteiramente separadas dos homens. As palavras não podem dizer com que elegância toda a cidade era planejada, e com que cuidado era preservada em sua beleza, frescura e limpeza. Os edifícios apresentavam uma aparência arejada caracterizada pela simplicidade do gosto. Em todos os lugares haviam belos jardins com assentos para descansar. Vi uma jaula imensa, mais parecida com uma casa grande do que uma jaula, cheia de cima a baixo de pássaros; mais adiante, vi tendas e cabanas nas quais moravam ferreiros e outros trabalhadores. Vi também estábulos e imensos prados cheios de rebanhos de camelos, jumentos, grandes ovelhas de lã fina, também vacas com cabeças pequenas e chifres grandes, muito diferentes dos de nosso país.
Não vi nenhuma montanha naquela região, apenas colinas suavemente elevadas, não muito mais altas do que os nossos túmulos pagãos. Abaixo, através daquelas colinas, através de tubos inseridos para esse fim, eram feitos buracos em busca de ouro. Se o tubo de perfuração fosse trazido para cima com ouro na ponta, a mina era aberta no lado da colina e o ouro era escavado. Era então fundido na vizinhança da mina em fornos aquecidos não com madeira, mas com pedaços de algo marrom e claro, que também era retirado da terra.
Mensor, que estava convencido de que era apenas um enviado de Jesus que havia chegado, fez com que todos o recebessem tão solene como se fosse o próprio Rei dos judeus que houvesse chegado. Consultou com os outros chefes e sacerdotes, e prescreveu os vários detalhes de Sua recepção. Vestidos festivos e presentes foram preparados, e os caminhos pelos quais Ele viria foram magnificamente decorados. Tudo foi levado adiante com alegre seriedade. Mensor, montado em um camelo ricamente aparelhado que era carregado em ambos os lados com colos pequenos, e servido por uma comitiva de vinte personalidades ilustres, alguns dos quais tinham feito parte da caravana para Belém, partiram para encontrar Jesus que, com os três jovens e sete mensageiros, estavam a caminho do castelo de tendas, A comitiva de Mensor cantava, enquanto eles iam, uma melodia solene e lamentosa, como eles tinham cantado durante a noite durante sua jornada para Belém. Mensor, o mais velho dos reis, ele de pele castanha, usava um gorro alto e redondo ornamentado com algum tipo de borda branca inchada e um manto de treinamento branco bordado em ouro. Como sinal de honra, um estandarte flutuava à frente da procissão. Parecia a cauda de um cavalo presa a um poste, cuja parte superior era indentada com pontas. O caminho passava por uma avenida, através de lindos prados, cobertos aqui e ali de manchas de mossoso branco e suave, que brilhavam como um fungo denso aos raios do sol. Por fim, a procissão chegou a um poço coberto por um templo verdejante de folhagem artisticamente decorado. Ali Mensor desmontou de seu camelo e esperou o Senhor, que fora visto se aproximando. Um dos sete delegados saiu para acompanhar Jesus correndo à frente e anunciando a Sua vinda.
As caixas carregadas pelos camelos agora foram abertas, e magníficas vestes bordadas em ouro, copos de ouro, pratos e pratos de frutas foram retirados e depositados no tapete que estava estendido perto do poço. Mensor, inclinado pela idade, apoiado por dois de sua comitiva e atendido por seu condutor, foi ao encontro de Jesus. Toda a sua conduta foi marcada pela humildade. Ele carregava na mão direita uma longa vara adornada com ouro e terminando em uma ponta em forma de cetro. Em um olhar de Jesus ele experimentou, como anteriormente no Presépio, uma advertência interior semelhante ao que o tinha desenhado, primeiro dos três, de joelhos. Alcançando seu cajado a Jesus, ele agora se prostrou novamente diante d'Ele, mas Jesus o levantou do chão. Daí, o velho mandou que os presentes fossem trazidos e apresentados a Jesus, que os entregou aos discípulos, e foram substituídos no camelo. Jesus de fato aceitou as roupas esplêndidas, embora não concordasse em usá-las. O camelo também foi apresentado a Ele pelo velho, mas Jesus agradeceu sem aceitar.
Entraram então no mandril. Mensor apresentou ao Senhor água fresca em que ele tinha derramado algum tipo de suco de um pequeno frasco, e frutas em pequenos pratos. De uma maneira inexprimivelmente humilde, infantil e amigável, Mensor perguntou a Jesus sobre o Rei dos judeus, pois ele ainda O considerava um enviado, embora não pudesse explicar a si mesmo sua emoção interior. Seus companheiros conversaram com os jovens e choraram de alegria quando souberam de Eremenzear que ele era filho de um daqueles seguidores dos Reis que ficaram para trás e se estabeleceram perto de Belém. Ele era descendente de Abraão por sua segunda esposa, Quetura. Mensor queria que Jesus cavalgasse em seu camelo quando eles estavam novamente partindo para o castelo de tendas, mas Jesus insistiu em andar, Ele e os jovens discípulos liderando a procissão. Em cerca de uma hora, eles chegaram ao vasto recinto circular onde estava a morada de Mensor e suas dependências, e em torno do qual, em vez de paredes, fôra estendido pano branco de tenda. Sob o arco triunfal diante da entrada, Jesus e os discípulos foram recebidos por um grupo de donzelas vestidas com trajes festivos. Elas se aproximaram, duas a duas, carregando cestos de flores que espalharam pelo caminho por onde Ele devia passar até que o cobriram inteiramente com elas. O caminho conduzia por uma avenida de árvores sombreadas cujos ramos superiores estavam unidos. As donzelas usavam sob a sua roupa superior que caía em torno delas na forma de um manto, calças brancas largas; em seus pés, sandálias pontiagudas; em torno de suas cabeças, bandas de algum tipo de material branco; e em seus braços e peito e em torno de seus pescoços tinham coroas de flores, lã e penas brilhantes. Elas estavam vestidas muito modestamente, embora não usassem véus. A avenida sombria terminava numa ponte coberta que levava através do fosso, ou riacho, para o grande jardim em torno do qual corria o riacho. Em frente à ponte, fôra erguido um arco de triunfo altamente ornamentado, sob o qual Jesus foi recebido por cinco sacerdotes com mantos brancos em longos comboios. Suas vestes eram ricamente adornadas com rendas, e do braço direito de cada um pendurava um manípulo para o chão. Eles usavam em sua cabeça uma coroa de conchas na frente do qual havia um pequeno escudo na forma de um coração, e a partir do qual se levantava uma ponta. Dois deles carregavam uma panela de fogo dourada, sobre a qual espalhavam incenso de um vaso de ouro em forma de barco. Eles não permitiam que os traços de seus mantos fossem levantados na presença de Jesus, mas os enfiavam em um laço atrás.
Jesus recebeu todas essas honras em silêncio, assim como depois recebeu as do Domingo de Ramos.
O magnífico jardim era regado por muitos riachos pequenos e direcionados a canteiros de flores triangulares por caminhos lindamente pavimentados com pedras ornamentais. O centro dela atravessava uma passagem embocada, também pavimentada com pedras coloridas em figuras, até uma segunda ponte coberta. As árvores e arbustos do jardim eram ornados com todos os tipos de figuras. Vi alguns para representar homens e animais. A fileira exterior era formada por árvores altas, mas as internas eram menores, mais delicadas, e havia muitos lugares de descanso à sombra.
Uma vez atravessada a segunda ponte, o caminho conduzia ao meio de um lugar grande e circular que formava o centro do recinto circular. Ali, em um monte inteiramente cercado por água, sobre um poço, havia um edifício aberto, como um pequeno templo. O telhado, feito de peles, era levantado sobre pilares finos. Toda a ilha era um belo jardim, e em frente a ele erguia-se a grande tenda real.
Quando Jesus atravessou a segunda ponte, foi recebido por jovens tocando flautas e tamborins. Eles moravam perto da ponte em baixas tendas de quatro cantos que se estendiam para a direita e para a esquerda em arcos. Devem ter sido uma espécie de guarda-costas, pois carregavam espadas curtas e ficavam de guarda. Eles usavam bonés enfeitados com algo como um chifre de pena, e eles tinham muitos tipos de ornamentos pendurados em torno deles, entre eles a representação de uma grande meia-lua, em que havia um rosto regularmente cortado. A procissão parou diante da pequena ilha do poço. O Rei desmontou de seu camelo e levou Jesus e os discípulos à fonte, que consistia de uma fonte com muitos círculos de jatos um sobre o outro, todos feitos de metal brilhante. Quando uma torneira era aberta, os riachos de água brotavam de longe e desciam pelo monte em canais, através das cercas verdes e para o riacho circular. Ao redor da fonte haviam assentos. Os discípulos lavaram os pés de Jesus, e ele os deles. Uma avenida de tendas coberta atravessava a ponte da fonte para o outro lado do grande lugar circular e até o castelo de tendas de Mensor e Theokeno.
De um lado do castelo de tendas, no espaçoso recinto em torno da ilha da fonte, ficava o templo, uma pirâmide de quatro cantos. Não era tão alto quanto o castelo de tendas e estava cercado por uma colunata, na qual se encontrava a entrada para as abóbadas dos reis falecidos. Ao redor da pirâmide do templo havia uma série de degraus em espiral até o cume raspado. Entre o templo e a ilha da fonte, o fogo sagrado era preservado em uma cova coberta por uma cúpula metálica sobre a qual estava uma figura com uma pequena bandeira na mão. O fogo era mantido constantemente aceso. Era uma chama branca que não se elevava acima da boca do poço. Os sacerdotes freqüentemente colocavam nele pedaços de algo que escavam do chão.
O castelo das tendas dos Reis tinha vários andares de altura. A mais baixa, isto é, a próxima acima do sólido fundamento, era meramente raspada, de modo que se podia ver bem através dela. Estava cheio de pequenos arbustos e plantas, e servia como um jardim para Theokeno, que já não podia andar. Passos cobertos e galerias rodeavam o castelo de tendas do chão até o topo. Aqui e ali haviam aberturas como janelas, embora não simetricamente colocadas. O telhado da tenda tinha vários frontões, todos ornamentados com bandeiras, estrelas e luas.
Depois de passar um pouco de tempo na fonte, Jesus foi escoltado pela avenida das tendas coberta até o castelo e o grande salão octogonal. No centro, erguia-se uma coluna de suporte em torno da qual, uma acima da outra, havia pequenas cavidades circulares nas quais se podiam colocar vários objetos. As paredes eram penduradas com tapeçarias coloridas sobre as quais haviam representações de flores e figuras de meninos segurando copos para beber, e o chão era carpete. Jesus pediu a Mensor que o levasse imediatamente a Theokeno, cujos quartos estavam no porão trançado perto do pequeno jardim. Ele estava descansando num sofá almofada, e participou da refeição servida em pratos de uma beleza incomparável. As refeições foram preparadas com muita elegância. Ervas, finas e delicadas, foram dispostas nas placas para representar pequenos jardins. Os copos eram de ouro. Entre os frutos havia um particularmente notável. Era amarelo, nervurado, muito grande, e coroado por um tufo de folhas. Os favos de mel eram especialmente bons. Jesus comeu apenas pão e frutas, e bebeu de um copo que nunca havia sido usado antes. Foi a primeira vez que o vi a comer com pagãos. Eu o vi ensinar ali dias inteiros de cada vez, e raramente tomava um bocado.
Ele ensinou durante aquela refeição e, por fim, disse a Seus anfitriões que não era um enviado do Messias, mas o próprio Messias. Ao ouvirem isso, caíram prostrados no chão, chorando. Mensor chorou especialmente de emoção. Ele não podia conter-se para o amor e reverência, e foi incapaz de conceber como Jesus poderia ter condescendido a vir a ele. Mas Jesus disse-lhe que Ele veio para os gentios, bem como para os judeus, que Ele veio para todos os que cressem n'Ele. Perguntaram-lhe, então, se não era hora de deixarem os seus países e seguissem-no imediatamente para a Galiléia, pois, como lhe asseguraram, estavam prontos para fazê-lo. Mas Jesus respondeu que Seu Reino não era deste mundo, e que eles ficariam escandalizados, que hesitariam na fé se vissem como Ele seria desprezado e maltratado pelos judeus. Essas palavras não podiam compreender, e perguntavam como podia ser que as coisas fossem tão bem com os maus, ao passo que os bons tinham de sofrer tanto. Jesus então explicou-lhes que os que gozam na terra têm de prestar contas no além, e que esta vida é uma vida de penitência.
Os reis tinham algum conhecimento de Abraão e Davi; e quando Jesus falou de Seus antepassados, trouxeram alguns livros antigos e pesquisaram neles, para ver se eles também não podiam reivindicar descendência da mesma raça. Os livros tinham a forma de comprimidos abrindo em forma de ziguezague, como padrões de amostra. Esses pagãos eram tão infantis, tão desejosos de fazer tudo o que lhes era dito. Eles sabiam que a circuncisão fora prescrita a Abraão, e perguntaram ao Senhor se também deviam obedecer a esta parte da Lei. Jesus respondeu que não era mais necessário, que eles já haviam circuncidado suas más inclinações, e que o fariam ainda mais. Então lhe disseram que sabiam algo de Melquisedeque e de seu sacrifício de pão e vinho, e disseram que também tinham um sacrifício do mesmo tipo, a saber, um sacrifício de folhas pequenas e algum tipo de licor verde. Quando a ofereceram, disseram algumas palavras como estas: "Quem comer de mim e for devoto, terá todos os tipos de felicidade". Jesus lhes disse que o sacrifício de Melquisedeque era um tipo do Sacrifício Santíssimo, e que Ele mesmo era a Vítima. Assim, embora mergulhados nas trevas, esses pagãos haviam preservado muitas formas de verdade.
Ou a noite que precedeu a vinda de Jesus ou a que se seguiu, não posso agora dizer qual, todos os caminhos e avenidas a uma grande distância ao redor do castelo de tendas estavam brilhantemente iluminados. Globos transparentes com luzes neles foram levantados em postes, e cada globo era superado por uma pequena coroa que brilhava como uma estrela.

Jesus no Templo dos Reis. Festa da Aparição da Estrela.

A primeira visita do Senhor ao templo dos Reis ocorreu de dia, e Ele foi escoltado para lá do castelo das tendas pelos sacerdotes em procissão solene. Agora usavam bonés altos. De um ombro dependiam fitas com números de escudos de prata, e do braço oposto pendurado o longo manípulo. Todo o caminho para o templo era coberto de cortinas, e os sacerdotes andavam descalços. Aqui e ali, na vizinhança do templo, mulheres estavam sentadas, ansiosas por ver o Senhor. Tinham pequenos guarda-sóis, pequenos dosselos em postes, para as protegerem do sol. Quando Jesus passou de longe, elas se levantaram e inclinaram-se para o chão. No centro do templo erguia-se uma coluna da qual se estendiam as divisas até as quatro paredes, e do ponto mais alto estava suspensa uma roda coberta de estrelas e globos, que era usada durante as cerimônias religiosas.
Os sacerdotes mostraram a Jesus uma representação do Presépio que, depois de voltarem de Belém, fizeram fazer. Era exatamente como o que tinham visto na estrela, inteiramente de ouro, e cercado por uma placa do mesmo metal na forma de uma estrela. O menino, também de ouro, estava sentado num berço como o de Belém, sobre uma cobertura vermelha. Suas mãos estavam cruzadas em seu peito até onde os pés estavam envoltos. Até mesmo a palha da manjedoura era representada. Atrás da cabeça da criança havia uma pequena coroa branca, mas agora não sei do que era feita. Além deste berço não havia outra imagem no templo. Um longo rolo, ou tábua, estava pendurado na parede. Eram os escritos sagrados, e as letras eram formadas principalmente de figuras simbólicas. Entre o pilar e o berço havia um pequeno altar com aberturas nas laterais, e eles aspergiam água ao redor com uma pequena escova, como fazemos com a água benta. Vi também um ramo consagrado, com o qual realizavam toda sorte de cerimônias, alguns pequenos pães redondos, um cálice e um prato com a carne das vítimas sacrificadas. Ao mostrarem a Jesus todas essas coisas, Ele as esclareceu sobre a verdade e refutou as razões que avançavam para seu uso.
Levaram-no também aos túmulos do Rei Seir e de sua família, que se encontravam nas abóbadas no caminho coberto que circundava o templo piramidal. Pareciam sofás cortados na parede. Os corpos estavam deitados em longas roupas brancas, e lindas coberturas penduradas em seus lugares de descanso. Vi seus rostos meio cobertos e suas mãos nuas e brancas como a neve; mas não sei se eram apenas seus ossos ou se ainda estavam cobertos de pele seca, pois vi que as mãos estavam profundamente furadas. Esta abóbada sepulcral era bastante habitável, e havia um banquinho em cada uma das tumbas. Os sacerdotes trouxeram fogo e queimaram incenso. Todos derramaram lágrimas, especialmente o idoso Rei Mensor, que chorou como uma criança. Jesus aproximou-se dos restos mortais e falou dos mortos. Theokeno, falando com Jesus de Seir, disse-Lhe que uma pomba era frequentemente vista a pousar no galho que, de acordo com o costume deles, eles colocavam na porta de seu túmulo, e ele perguntou o que isso significava. Em resposta, Jesus perguntou-lhe qual era a crença de Seir. A isso Teóqueno respondeu: "Senhor, sua fé era como a minha. Depois que começamos a honrar o Rei dos Judeus, Seir até sua morte desejava que tudo o que ele pensava e fazia, tudo o que lhe acontecesse, fosse sempre de acordo com a vontade desse Rei. Jesus então lhe informou que a pomba no galho significava que Seir fora batizado com o batismo do desejo.
Jesus desenhou para eles, num prato, a figura do cordeiro apoiado sobre o Livro com os Sete Selos, com um pequeno estandarte sobre o ombro, e ordenou-lhes que fizessem um desse modelo e o colocassem na coluna oposta ao presépio.
Desde o seu retorno de Belém, os Reis haviam celebrado todos os anos uma festa comemorativa de três dias em honra daquele dia em que, quinze anos antes do Nascimento de Cristo, eles viram pela primeira vez a estrela contendo a imagem da Virgem que segurava em uma mão um cetro, e na outra uma balança com uma haste de trigo em um prato e um cacho de uvas no outro. Os três dias eram em honra de Jesus, Maria e José. Eles reverenciavam São José de uma maneira especial, porque os havia recebido com tanta bondade e graça. Era agora o tempo para esta festa anual, mas, em sua humildade na presença do Senhor, queriam omitir as cerimônias religiosas usuais e, em vez disso, suplicaram a Ele que lhes desse instruções. Mas Jesus disse-lhes que tinham de celebrar a festa deles, para que o povo, em sua ignorância do que acabara de ocorrer, não pudesse escandalizar-se com a omissão. Vi muitas coisas relacionadas com a religião deles. Havia três imagens em forma de animais em pé fora do templo: uma era um dragão com mandíbulas enormes; outra, um cão com uma cabeça grande; e a terceira, uma ave com pernas e pescoço longos, quase como uma cegonha, só que tinha um bico pontiagudo. Não creio que essas imagens fossem adoradas como deuses. Eles serviam apenas como símbolos de certas virtudes cuja prática eles inculcavam. O dragão representava o mal, o princípio obscuro na natureza do homem, que ele devia trabalhar para destruir; o cachorro, que tinha referência a alguma estrela, significava fidelidade, gratidão e vigilância; e o pássaro tipificava o amor filial. As imagens encarnavam além de todos os tipos de profundidade, mistérios profundos, mas eu não posso agora lembrá-los. Sei bem, porém, que nenhuma idolatria, nenhuma abominação estava ligada a elas. Eram personificações de grande sabedoria e humildade, de profunda meditação nas coisas maravilhosas de Deus. Não eram feitos de ouro, mas de algo mais escuro, como os fragmentos usados para fundir o minério, ou talvez o que restava depois desse processo. Debaixo da figura do dragão li cinco letras, AASCC ou ASCAS, não me lembro exatamente qual. O nome do cão era Sur, mas o do pássaro esqueci-me.
Os quatro sacerdotes proferiram discursos em quatro lugares diferentes ao redor do templo, perante os homens, as mulheres, as donzelas e os jovens. Vi-os abrirem as mandíbulas do dragão e ouvi-os dizer ao mesmo tempo: "Se, tão odioso e terrível como ele é, ele estivesse agora vivo e prestes a nos devorar, quem poderia ajudar-nos senão o Deus Todo-Poderoso?" E deram a Deus algum nome especial que não consigo agora recordar. Então fizeram tirar a roda de seu lugar, e a colocaram sobre o altar, num trilho feito para recebê-la, e um dos sacerdotes a fez girar. Havia vários círculos, um dentro do outro, todos pendurados com bolas ocas douradas, que brilhavam e zumbiavam a cada revolução, anunciando assim o curso das constelações. Essa rotação da roda era acompanhada de cânticos, cujo refrão era o seguinte: O que aconteceria ao mundo se Deus deixasse de dirigir o movimento das estrelas? Isto foi seguido pela oferta de sacrifício diante do Menino Cristo dourado no presépio, e pela queima de incenso. Jesus ordenou-lhes que eliminassem esses animais para o futuro e ensinassem misericórdia, amor ao próximo e a Redenção da raça humana; quanto ao resto, eles deveriam admirar a Deus em Suas criaturas, agradecer a Ele e adorá-Lo somente. Na noite da primeira dessas três festividades, o sábado começou para Jesus; portanto, retirou-se com os três jovens para um apartamento retirado do castelo das tendas para celebrá-lo. Tinham com eles roupas brancas quase como roupas de sepultamento. Estas eram vestidas, juntamente com um cinto, adornado com letras e tiras, que cruzavam como uma estola sobre o peito. Sobre uma mesa coberta de vermelho e branco, havia uma lâmpada com sete candeeiros. Enquanto orava, Jesus ficou entre dois dos jovens, o terceiro atrás Dele. Nenhum pagão estava presente na celebração do sábado por Jesus.
Durante todo o sábado, os pagãos estavam reunidos no recinto ao redor de seu templo, homens, mulheres, jovens e donzelas - todos tinham suas respectivas fileiras de assentos. Depois que Jesus terminou a celebração do sábado, Ele saiu para os pagãos e então eu testemunhei uma cena maravilhosa. No centro do círculo das mulheres estava a imagem do dragão. As mulheres vestiam-se de maneira muito diferente de acordo com sua posição. Os mais pobres usavam sob seus longos mantos apenas uma roupa curta, muito simples, mas os mais distintos estavam vestidos como ela que eu agora via passar na frente do dragão. Era uma mulher robusta de cerca de trinta anos. Sob o manto longo, que ela colocava de lado quando sentada, ela usava uma rígida, túnica triturada e uma jaqueta muito bem ajustada ao redor do pescoço e peito, e ornamentado com jóias reluzentes e minúsculas correntes. Do ombro ao cotovelo penduravam lapetes como meia-mangas abertas, e o resto dos braços, como os membros inferiores, eram cobertos com rendas e pulseiras. Em sua cabeça, ela usava um boné de ajuste próximo que alcançava até os olhos, parcialmente escondido as bochechas e queixo, e que era formado inteiramente de fileiras de penas enroladas. Acima do meio da cabeça, dobrado da testa para trás, surgia uma espécie de rolo ou almofada através do qual poderia ser visto o cabelo, trançado e ornamentado. Um grande número de longas correntes ornamentais estavam penduradas das orelhas até o peito.
Antes que o sacerdote começasse a dar instruções, a mulher, acompanhada por muitos outros, foi à frente do dragão, prostrou-se e beijou a terra. Ela realizou esta ação com notável entusiasmo e devoção. Neste momento, Jesus entrou no meio do círculo e perguntou por que ela fez isso. Ela respondeu que o dragão a acordava todas as manhãs antes do dia, quando ela se levantava, virava-se para o quarto em que a imagem estava, se prostrava diante de seu leito e o adorava. Jesus, em seguida, perguntou: Por que te prostras diante de Satanás? A tua fé foi possuída por Satanás. É verdade que vais ser despertada, mas não por Satanás. É um anjo que te acordará. Olha quem adoras! No mesmo momento, lá estava pela mulher, e à vista de todos os presentes, um espírito na forma de uma figura esguia e avermelhada, com um rosto afiado e horrível. A mulher recuou de medo. Jesus, apontando para o espírito, disse: "Este é o que está acostumado a acordar-te, mas todo ser humano também tem um bom anjo. Prostrem-se perante ele e sigam os seus conselhos! Nessas palavras de Jesus, todos perceberam uma bela figura luminosa pairando perto da mulher. Tremendo, ajoelhaeram-se diante dele. Enquanto Satanás estava ao lado da mulher, o bom anjo permaneceu atrás dela, mas quando ele desapareceu, o anjo apareceu. A mulher, profundamente afetada, agora voltou para o seu lugar. Chamava-se Cuppes. Ela foi depois batizada Serena por Tomás, sob cujo nome ela mais tarde foi martirizada e venerada como santa.
Em Sua catequese aos jovens e donzelas que estavam reunidos na vizinhança do pássaro, Jesus os advertiu a observarem a devida medida em seu amor tanto aos seres humanos como aos animais inferiores, pois havia entre eles alguns que quase adoravam seus pais, e outros que mostravam mais afeição pelos animais do que pelos seus semelhantes.
No último dia da festa, Jesus desejava proferir um discurso no templo aos sacerdotes, reis e a todo o povo. Para que o idoso rei Theokeno também pudesse estar entre os Seus ouvintes, Jesus foi até ele com Mensor, e ordenou-lhe que se levasse e O acompanhasse. Ele pegou-lhe pela mão e Theokeno, sem duvidar, levantou-se imediatamente capaz de andar. Jesus o levou ao templo e, a partir daquele tempo, ele manteve o uso de seus membros. Jesus ordenou que as portas do templo piramidal fossem abertas, para que todas as pessoas do lado de fora pudessem vê-lo e ouvi-lo. Ele ensinava às vezes fora, entre os homens e as mulheres, os jovens, as donzelas e as crianças, contando-lhes muitas das parábolas que anteriormente havia contado aos judeus. Seus ouvintes tiveram o privilégio de interrompê-lo a fim de fazer perguntas, pois Ele lhes havia ordenado fazê-lo. Às vezes, também, Ele chamava a certa pessoa para dizer em voz alta, perante todos os outros, as dúvidas que o perturbavam, pois conhecia os pensamentos de cada um. Entre as perguntas que fizeram estava esta: Por que Ele não ressuscitou mortos, nem curou doentes, como o Rei dos judeus havia feito? Jesus respondeu que Ele não havia feito tais sinais entre os gentios, mas que Ele enviaria alguns homens que operariam muitos sinais entre eles, e que por meio do banho de batismo eles seriam purificados. Eles deveriam, disse Ele, até aquele tempo, tomar as Suas palavras em fé.
Jesus então deu uma catequese aos sacerdotes e reis somente, Ele disse-lhes que tudo o que em sua doutrina tinha uma aparência de verdade, era uma mera mentira: tinha apenas a aparência, a forma vazia da verdade, e o próprio demônio deu-lhe essa forma. Assim que o bom anjo se retira, Satanás entra em cena, corrompe a adoração e toma-a sob sua própria tutela. Até então, prosseguiu Jesus, haviam honrado todos os objetos aos quais podiam atribuir alguma idéia de força, e daquela adoração haviam omitido muitas coisas depois de seu retorno de Belém. Agora, porém, Ele disse-lhes que deveriam se livrar dessas figuras de animais, que deveriam derretê-las: e Ele indicou-lhes as pessoas a quem deveriam ser dadas o seu valor. Toda a sua adoração, todo o seu conhecimento, disse ele, não valia nada. Deveriam inculcar amor e misericórdia sem a ajuda dessas imagens, e agradecer ao Pai Celestial que Ele tão misericordiosamente os chamara ao conhecimento de Si mesmo. Jesus prometeu-lhes que enviaria alguém que os instruiria mais plenamente, e Ele os instruiu a remover a roda com suas representações estelares. Era tão grande quanto uma roda de carro de tamanho moderado e tinha sete jantes concêntricas, na parte superior e na mais baixa das quais estavam presos globos dos quais fluíam raios. O ponto central consistia num globo maior, que representava a terra. Na circunferência da roda havia doze estrelas, nas quais havia tantas imagens diferentes, esplêndidas e brilhantes. Vi entre eles uma de uma virgem com raios de luz brilhando de seus olhos e brincando em torno de sua boca, enquanto em sua testa brilhavam pedras preciosas; e outra de um animal com algo em sua boca que emitia faíscas. Mas eu não podia ver tudo distintamente, porque a roda estava constantemente girando. As figuras não eram todas visíveis ao mesmo tempo, pois em intervalos algumas estavam ocultas.
Jesus desejava deixar-lhes um pouco de pão e vinho abençoados por Ele mesmo. Os sacerdotes, em obediência às Suas instruções, prepararam um pão branco muito fino, como bolinhos, e uma pequena jarra de algum tipo de licor vermelho. Jesus especificou a forma do vaso em que tudo deveria ser preservado. Era como um grande morteiro. Tinha duas orelhas, uma tampa com um botão, e era dividido em dois compartimentos. O pão era depositado no superior; e no inferior, no qual havia uma pequena porta, era colocado o jarrozinho de licor. O exterior brilhava como mercúrio, mas o interior era amarelo. Jesus colocou o pão e o vinho no pequeno altar, orou e abençoou, enquanto os sacerdotes e os dois reis se ajoelhavam diante Dele, com as mãos cruzadas sobre o peito. Jesus orou sobre eles, colocou Suas mãos sobre seus ombros e os instruiu a renovar o pão, que Ele cortou para eles de forma transversal, dando-lhes as palavras e a cerimônia de bênção. Este pão e vinho deveriam ser para eles um símbolo da Sagrada Comunhão. Os Reis tinham algum conhecimento de Melquisedeque, e interrogaram Jesus a respeito de seu sacrifício. Quando ele abençoou o pão para eles, ele deu-lhes uma idéia de sua paixão e da Última Ceia. Ele lhes disse que deviam fazer uso do pão e do vinho pela primeira vez no aniversário de sua adoração no Presépio, e depois disso três vezes por ano, ou a cada três meses, não me lembro exatamente.
No dia seguinte, Jesus voltou a ensinar no templo, onde todos estavam reunidos. Ele entrou e saiu, deixando uma multidão para ir para outra. Permitiu também que as mulheres e as crianças viessem falar com Ele, e instruiu as mães a criarem seus filhos e a ensiná-los a orar. Foi a primeira vez que vi muitas crianças reunidas ali. Os meninos usavam apenas uma túnica curta, e as meninas, mantos. Os filhos da senhora convertida estavam presentes. Ela era uma pessoa de distinção e seu cônjuge, um homem alto, estava perto do Rei Mensor. Ela tinha dez filhos com ela. Jesus os abençoou, não colocando a mão na cabeça, como fazia com os filhos da Judéia, mas no ombro.
Ele ensinou o povo sobre Sua missão e Seu fim iminente, e disse-lhes que Sua viagem ao seu país era desconhecida dos judeus. Ele tinha trazido com Ele como companheiros jovens que não se escandalizaram com o que viram e ouviram, e que eram dóceis a todas as Suas palavras. Os judeus teriam tirado a vida dele, se ele não tivesse escapado. Mas, além de tudo isso, ele desejava visitá-los, porque eles o haviam visitado, haviam acreditado nele, tinham esperança nele e o amavam. Ele os exortou a agradecer a Deus por não permitir que fossem completamente cegados pela idolatria e por lhes dar a verdadeira crença nEle e a graça de guardar Seus Mandamentos. Se não me engano, Ele falou-lhes também do tempo em que voltaria ao Seu Pai Celestial, quando enviaria a eles Seus discípulos. Disse-lhes também que desceria para o Egito, onde, quando criança, havia estado com sua mãe, pois havia ali algumas pessoas que o conheciam desde a infância. Ele, porém, permaneceria bastante desconhecido, pois havia ali judeus que de bom grado o prenderiam e o entregariam a Seus inimigos, mas Sua hora ainda não havia chegado.
Os pagãos não podiam entender a previsão humana de Jesus. Em sua simplicidade infantil, perguntaram mentalmente a si mesmos: Como poderiam fazer tais coisas a Ele, visto que Ele é verdadeiramente Deus! Jesus respondeu aos seus pensamentos, dizendo-lhes que Ele também era homem, que o Pai O enviara para conduzir de volta todos os espalhados, que, como homem, Ele poderia sofrer e ser perseguido pelos homens quando Sua hora chegasse, e, por ser homem, poderia assim ter intimidade com eles.
Ele os advertiu novamente a renunciar a toda espécie de idolatria e a amar uns aos outros. Ao falar de Sua própria Paixão, Ele tocou na verdadeira compaixão. Eles deveriam, disse Ele, desistir de seu cuidado excessivo de animais doentes, e voltar seu amor para com seus semelhantes, tanto no que diz respeito ao corpo quanto à alma; e, se não houvesse na vizinhança ninguém que estivesse necessitado de ajuda, deveriam procurar à distância por aqueles que o necessitassem, e orar por todos os seus irmãos necessitados. Disse-lhes também que o que faziam pelos necessitados, faziam por Ele, e fez-lhes entender que não deviam tratar os animais inferiores com crueldade. Tinham tendas inteiras cheias de animais doentes de todos os tipos, aos quais até mesmo forneciam pequenas camas. Eles gostavam especialmente de cães, dos quais vi muitos grandes com cabeças enormes.

Chegada do chefe de uma tribo estranha

Jesus já havia ensinado a esses pagãos por algum tempo, quando vi uma caravana de camelos se aproximar. Ele fez uma pausa e permaneceu de pé a alguma distância, enquanto um homem idoso, um estranho e o líder da tribo, desmontaram e aproximaram-se. Ele foi recebido por um servo idoso a quem ele muito altamente respeitava, e ambos ficaram parados ainda a uma pequena distância da assembléia. Ninguém os notou até que a fala do Senhor terminou e Ele, com os discípulos, retirou-se à tenda para descansar um pouco. Então o estranho foi recebido por Mensor, e mostrado a uma tenda. Depois, ele foi com seu velho servo aos sacerdotes e disse-lhes que não podia crer que Jesus fosse o prometido Rei dos judeus, porque Ele os tratava com tanta familiaridade. Os judeus tinham, como ele bem sabia, continuou, uma Arca na qual estava seu Deus, e ninguém ousava aproximar-se dela, conseqüentemente, este Homem não podia ser seu Deus. O velho servo também deu expressão a algumas concepções errôneas de Maria; ainda tanto ele e seu mestre eram pessoas boas. Este Rei também tinha visto a estrela maravilhosa, mas não a tinha seguido. Ele falou muito de seus deuses, que ele tinha em alta estima, e disse como eles eram graciosos com ele, e que eles lhe trouxeram todos os tipos de boa sorte. Ele também contou um incidente que aconteceu durante uma guerra que ele havia recentemente travado, e em que seus deuses o ajudaram e seu velho servo lhe trouxe uma certa notícia. Aquele rei era de pele mais clara do que Mensor, suas roupas eram mais curtas, e o turbante em volta de sua cabeça não era tão grande. Ele era muito apegado aos seus ídolos, um dos quais sempre carregava consigo num camelo. Era uma figura com muitos braços, e com buracos em seu corpo em que poderiam ser colocados os sacrifícios oferecidos a ele. Ele tinha algumas mulheres em sua caravana, que consistia de cerca de trinta pessoas. Quanto a si mesmo, era um homem de mente muito simples. Ele olhou para o seu velho servo como um oráculo, de fato, ele o honrava até mesmo como profeta. Este último havia induzido seu amo a fazer aquela viagem, para que ele pudesse mostrar-lhe, como ele disse, o Maior de todos os deuses, mas Jesus não parecia responder às suas expectativas. O que o Senhor disse sobre compaixão e beneficência agradou-o muito, pois ele próprio era muito caridoso. Ele declarou que considerava o maior crime negligenciar seres humanos por causa dos animais inferiores. Uma refeição foi preparada depois para o estranho, mas na qual Jesus não estava presente, não o vi nem mesmo conversando com ele. O nome do Rei parecia Acicus. O velho servo era um astrólogo, ele estava vestido como um profeta com uma longa túnica com um cinto que tinha muitos nós ao redor. Seu turbante tinha inúmeros cordões brancos e nós pendurados nele. Pareciam feitos de algodão, e ele tinha uma barba longa. O estrangeiro real e seus seguidores eram de pele mais clara do que os nativos daquelas partes, entre os quais eles iam peregrinar por algum tempo. As mulheres e os outros seguidores eles deixaram para trás perto das tendas das mulheres. Eles tinham vindo de uma viagem de dois dias. Eu não vi Jesus conversando com eles, mas ouvi-O dizer que eles viriam ao conhecimento da verdade, e Ele louvou a compaixão do Rei pelos homens. Ouvi nomes que pareciam Ormusd e Zorosdat. O marido de Cuppes era filho do irmão de Mensor. Ele tinha, quando jovem, acompanhado seu tio a Belém. Ele e Cuppes tinham a pele amarelada e castanha, e ambos eram descendentes de Jó.
Jesus continuava a ensinar depois do anoitecer dentro e ao redor do templo. O lugar inteiro estava brilhantemente iluminado, o próprio templo era uma chama de luz. Os habitantes de toda a região se reuniram, velhos e jovens, homens e mulheres. À primeira ordem de Jesus, eles haviam removido os ídolos. Mas agora eu via algo no templo que não tinha notado antes. Lá em cima, no telhado, vi um firmamento inteiro de estrelas brilhantes, e no meio eram refletidos pequenos jardins e riachos e arbustos, que foram colocados no alto do templo e iluminado com luzes. Era uma invenção maravilhosa, e não consigo imaginar como foi feito.

Jesus deixa a cidade das tendas dos Reis, e vai visitar Azarias, o sobrinho de Mensor, no assentamento de Atom

Jesus deixou a cidade das tendas dos Reis antes do amanhecer quando as lâmpadas ainda estavam acesas. Eles tinham preparado para Ele uma escolta festiva como a que o acolheu, mas ele recusou a atenção e não aceitou nem um camelo. Os discípulos levaram consigo apenas um pouco de pão e algum tipo de licor em frascos. O idoso Mensor suplicou fervorosamente a Jesus que ficasse mais tempo com eles. Ele colocou a coroa que usava no seu turbante aos pés de Jesus, e entregou-Lhe tudo o que possuía. Seus tesouros foram depositados sob uma grelha no chão de sua tenda, como em uma adega. Deitaram-se lá em barras, grumos e pequenos montes de grãos. Mensor chorou como uma criança. As lágrimas rolavam como pérolas pelas suas bochechas amarelas. Seu antepassado Jó tinha a mesma aparência. Era um marrom muito delicado e brilhante, não tão escuro como o das pessoas perto do Ganges. Todos choraram e soluçaram na despedida.
Jesus deixou a cidade pelo lado em que estava o templo, e passou pela tenda da magnífica convertida Cuppes, que correu para a frente com seus filhos para encontrá-Lo. Jesus atraiu as crianças a si e falou com a mãe, que se prostrou aos seus pés em lágrimas. Mensor, os sacerdotes e muitos outros acompanharam a Jesus, caminhando ao Seu lado, dois a dois, por turnos, Jesus e os discípulos carregando varas. Quando Mensor e os sacerdotes chegaram em casa, já estava escuro. Lâmpadas estavam acesas por toda parte e todo o povo estava reunido dentro e ao redor do templo, ajoelhado em oração ou prostrado no chão. Mensor anunciou-lhes que todos os que não desejassem viver de acordo com a Lei de Jesus, e que não acreditassem em Sua doutrina, deveriam deixar seus domínios. Havia ali pessoas de pele ainda mais escura do que o Mensor. Sua cidade de tendas, com seu templo e o local de sepultamento dos Reis, era a metrópole dos adoradores da estrela, mas a algumas horas de distância, no distrito circuvizinho, havia outros assentamentos de tendas.
Jesus viajou para o oriente. Ele se hospedou pela primeira vez em uma aldeia de pastores pertencente à tribo Mensor e a cerca de doze horas do seu castelo de tendas. Ele dormiu com Seus discípulos numa tenda circular, cujos lugares de dormir eram separados uns dos outros por cortinas móveis.
Na manhã seguinte, Jesus partiu antes que os habitantes estivessem acordados, e eu O vi chegar a um riacho que era muito largo para atravessar, em conseqüência do qual Ele virou Seus passos para o norte ao longo de suas margens, até que Ele chegou a um local que poderia ser facilmente atravessado. Por volta do anoitecer, ele chegou a algumas cabanas, construídas de musgo ou de terra, perto das quais havia um poço descoberto cercado por uma muralha. Ali, Ele e Seus companheiros lavaram os pés e, sem receberem a atenção de ninguém, entraram numa cabana feita de galhos frondosos e ali dormiram durante a noite. Esta cabana era redonda com um telhado pontiagudo. Era aberta de todos os lados e parecia ser formada de ramos torcidos e musgo; em torno dela havia uma cerca bem tecida para afastar os animais selvagens. Esta região era muito frutífera. Eu vi campos muito bonitos delimitados por fileiras de árvores grossas e sombreadas, e nos cantos onde as árvores se encontravam haviam moradias, não tendas como Mensor, mas cabanas redondas tecidas de galhos. Os habitantes daquela região tinham uma pele queimada pelo sol; sua pele não era tão rica e marrom como a dos Mensor. Eles estavam vestidos muito parecidos com os primeiros adoradores da estrela que Jesus encontrou naquela viagem. As mulheres usavam calças largas e sobre elas um manto. As pessoas pareciam estar ocupadas em tecelagem. De árvore em árvore, longe uma da outra, eram esticados pedaços de tecido e fio, e muitos estavam ocupados trabalhando neles ao mesmo tempo. Em todo o comprimento dos campos, as árvores eram cortadas em forma ornamental, e os assentos eram dispostos nos ramos.
Na primeira aurora da manhã, quando as estrelas ainda eram visíveis no céu, várias pessoas foram à cabana, mas, quando viram Jesus e os discípulos ainda em seus leitos, recuaram cheios de temor e prostraram-se no chão. Eles haviam recebido pela manhã, por meio de um mensageiro de Mensor, a notícia da vinda de Jesus, mas não sabiam que Ele já estava entre eles. Jesus levantou-se, vestiu a sua roupa interior branca, jogou sobre si o manto que os discípulos costumavam transportar num pacote em suas viagens, e depois de ter orado com os moços e eles lhe lavarem os pés, saiu da cabana para onde as pessoas estavam deitadas sobre seus rostos, prostradas, e disse-lhes que não tivessem medo dele. Daí, ele foi com eles ao templo deles, um edifício grande, retangular, com um telhado plano, sobre o qual se podia andar. Tinha duas grades no telhado, e por elas vi algumas pessoas olhando para o céu através de tubos. Em frente ao templo havia a fonte fechada, considerada sagrada pelos nativos, e uma panela de carvões. Este último era elevado um pouco acima do solo, de modo que se podia ver por baixo dele. Ao redor do templo havia lugares para o povo, separados uns dos outros por barras. Os sacerdotes que vi vestiam longas vestes brancas, cortadas de cima a baixo com cordões multicoloridos, e um cinto largo com uma ponta longa sobre a qual havia pedras brilhantes e uma inscrição em letras. De seus ombros penduravam tiras de couro, às quais estavam presos pequenos escudos. Quando Jesus chegou ao templo, Ele chamou um dos sacerdotes para descer do telhado onde ele observava as estrelas. O senhor deste assentamento pastoral, sobrinho paterno de Mensor, saiu do templo para saudar Jesus e entregar-Lhe o ramo da paz. Jesus o pegou e o entregou a Eremenzear, que o entregou a Silas, que, por sua vez, o entregou a Eliud. Eremenzear novamente a recebeu e a levou para o templo, seguido de Jesus e do resto do grupo. Ali encontraram um pequeno altar redondo sobre o qual estava uma taça sem alça, algo parecido com uma argamassa. Nele havia uma folha amarelada, na qual Eremenzear enfiou o galho. Este último era seco ou artificial. Tinha folhas de ambos os lados, e pareceu-me que Jesus disse que ficaria verde. As imagens no templo estavam envoltas como com uma cobertura, ou máscara, de material muito leve e rígido. Uma cadeira de professor havia sido erguida no recinto do templo, e ali Jesus ensinava. Ele interrogou os seus ouvintes, como se fossem crianças, sobre tudo o que Ele dizia. As mulheres ficavam bem no fundo. As pessoas eram muito infantis e aceitavam tudo de bom grado. Jesus passou a maior parte do dia ensinando, e naquela noite aceitou a hospitalidade do senhor do povoado, cuja morada consistia em vários andares. Era um edifício circular com degraus exteriores correndo ao redor dele. Acima da porta estava preso um escudo oval de metal amarelo, sobre o qual estavam inscritas as palavras, Azarias de Átomo.  Azarias não tinha sido capaz de viver em bons termos com Mensor, e, portanto, este último tinha dividido com ele os pastos; mas, depois da visita de Jesus, ele mudou para melhor. O interior de sua morada era muito bonito, equipado com tapetes e tapeçarias de belas cores, e comunicando por um corredor de tenda coberto com os apartamentos de sua esposa.
Quando o sábado começou, Jesus saiu com os seus discípulos para celebrá-lo como tinha feito na cidade das tendas dos reis.

A cura maravilhosa de duas mulheres doentes

Enquanto Jesus celebrava o sábado com os discípulos na cabana aberta em que Ele havia passado a primeira noite, vi a esposa de Azarias doente procurando a cura diante de um ídolo. A senhora tinha muitos filhos, e eu vi em seus apartamentos várias outras mulheres, talvez empregadas domésticas. Atrás da lareira e em um canto entre os apartamentos havia uma laje, ou mesa, apoiada em colunas. Nele havia um belo pedestal perfurado em todos os lados com buracos e coberto com um pequeno teto ornamental de folhas e folhagem. O pedestal sustentava um ídolo na forma de um cão sentado com uma cabeça grossa e plana. Ele estava apoiado em algumas páginas escritas que eram presos juntos com cordas na forma de um livro, uma de suas patas dianteiras levantadas sobre ele como se atraindo a atenção para si. Acima deste ídolo erguia-se outro, uma figura de aparência escandalosa com muitos braços. Vi sacerdotes que traziam fogo da panela perto do templo e o derramavam sob a figura oca do cão sentado, cujos olhos começaram a brilhar, e de sua boca e nariz imediatamente saíam fogo e fumaça. Duas mulheres conduziram a esposa de Azarias (que sofria de uma hemorragia) até o ídolo e a colocaram em almofadas e tapetes diante dele. O próprio Azarias estava presente. Os sacerdotes oravam, queimavam incenso e ofereciam sacrifício diante do ídolo, mas tudo isso sem propósito. De lá saíam chamas, e da densa fumaça negra saíam horríveis figuras parecidas com cães que desapareciam no ar. A mulher doente tornou-se perfeitamente miserável. Ela afundou desmaiada e exausta como alguém em estado de morte, dizendo: "Esses ídolos não podem me ajudar! São espíritos malignos! Eles não podem mais ficar aqui, estão a fugir do Profeta, o Rei dos Judeus, que está entre nós. Vimos a sua estrela e o seguimos! Só o Profeta pode ajudar-me! Depois de proferir estas palavras, ela caiu para trás imóvel e, aparentemente, sem vida. Os transeuntes ficaram cheios de terror. Tinham tido a impressão de que Jesus era apenas um emissário do Rei dos judeus. Foram imediatamente à cabana isolada em que Ele e os discípulos estavam celebrando o sábado, e respeitosamente rogaram a Ele que fosse até a mulher doente. Disseram-Lhe que ela havia clamado a Ele somente para que a ajudasse, e informaram-Lhe igualmente da impotência de seus ídolos.
Jesus ainda estava em Seus trajes de sábado, e os discípulos também, quando eles foram até a mulher doente, que estava deitada como se estivesse prestes a morrer. Com palavras fervorosas e veementes, Jesus conjurou os ídolos e sua adoração. Ele disse: "Eles são servos de Satanás, e tudo neles é mau". Ele censurou Azarias por isso, que depois de seu retorno de Belém, onde como um jovem ele havia acompanhado os Reis, ele havia novamente mergulhado tão profundamente nas abominações da idolatria. Ele concluiu dizendo que, se eles cressem em Sua doutrina, obedecessem aos Mandamentos de Deus e se permitissem ser batizados, Ele em três anos enviaria Seu Apóstolo a eles, e que agora ajudaria a senhora. Então ele perguntou a ela e ela respondeu: "Sim, eu acredito em Ti". Todos os presentes deram-Lhe a mesma garantia.
As cortinas haviam sido retiradas ao redor da tenda, e uma multidão de pessoas estava de pé. Jesus pediu uma bacia de água, mas mandou que não a trouxessem da sua fonte sagrada. Ele só queria água comum, nem usaria o aspersor de água sagrada. Tinham de lhe trazer um ramo fresco com folhas finas e estreitas. Tinham de cobrir igualmente os seus ídolos, o que faziam com finas tapeçarias brancas bordadas em ouro. Jesus pôs a água no altar. Os três discípulos estavam em volta dele, um de cada lado, à direita e à esquerda, e o terceiro atrás dele. Um deles entregou-Lhe uma caixa de metal da carteira que sempre levavam consigo. Várias dessas caixas de óleo e algodão foram colocadas uma sobre a outra. No que o discípulo entregou a Jesus, havia um pó fino e branco, que me pareceu sal. Jesus aspergiu um pouco dela sobre a água, e inclinou-se sobre ela. Ele orou, abençoou-a com Sua mão, mergulhou o ramo nela, aspergiu a água em torno Dele, e estendeu Sua mão para a mulher com a ordem de se levantar. Ela obedeceu instantaneamente, e levantou-se curada. Ela se ajoelhou e quis abraçar os pés de Jesus, mas ele não a permitiu tocar-lhe.
Esta cura efetuada, Jesus proclamou à multidão que havia outra senhora presente que estava muito mais indisposta do que a primeira e que, não obstante, não pediu Sua ajuda. Ela não adorava um ídolo, mas um homem. Esta senhora, de nome Ratimiris, era casada. Sua doença consistia em que, ao ver, o nome, ou mesmo o pensamento de um certo jovem, ela caía em uma espécie de febre e ficava doente até a morte. A jovem, entretanto, era perfeitamente ignorante do seu estado. Ratimiris, ao chamado de Jesus, avançou muito confusa. Jesus a levou para um lado, apresentando-lhe todas as circunstâncias tanto de sua doença como de seus pecados, tudo o que ela reconheceu livremente. O jovem era um dos servidores do templo, e sempre que ela trazia suas ofertas, que ele era encarregado de receber, ela caía nesse estado triste. Depois de Jesus ter falado com ela durante algum tempo, levou-a novamente à frente do povo e perguntou-lhe se ela acreditava nele e se seria batizada quando Ele enviasse Seu apóstolo para lá. Quando ela, profundamente arrependida, respondeu que acreditava e que seria batizada, Jesus expulsou o diabo dela. O maligno partiu na forma de uma coluna espiral de vapor negro.
O nome do jovem era César, e havia algo de João em sua aparência. Ele era puro e casto, um descendente de Ketura e um parente de Eremenzear, que também era daquele lugar. Foi por esta razão que, ao recebê-los, Jesus lhe havia dado primeiro o ramo da paz. César falou com os discípulos, pois há muito tinha pressentimentos secretos de salvação. Contou-lhes vários sonhos que tinha tido, entre outros, um em que sonhou que tinha transportado muitas pessoas através da água. Os discípulos pensaram que talvez significasse que ele converteria muitos. Vi que ele acompanhou Jesus na sua partida. Três anos depois da Ascensão de Cristo, quando Tomé batizava naquelas regiões, ele voltou com Tadeu. Mais tarde, foi enviado por Tomé ao bispo de um certo lugar onde, embora inocente, foi, para a grande alegria de sua alma, crucificado como ladrão e criminoso.
Jesus ensinou ali até o amanhecer e as lâmpadas ardentes se apagaram. Ele ordenou ao povo que destruísse suas imagens do diabo, e os censurou por adorarem a mulher sob uma figura diabólica, e ainda assim tratarem suas mulheres pior do que cães, animais que eles consideravam sagrados. Ao amanhecer, Jesus retirou-se novamente para a casa solitária, a fim de celebrar o sábado.
Disseram-me porque é que Jesus manteve esta viagem tão secreta. Lembro-me de que Ele disse aos Seus apóstolos e discípulos que Ele iria embora por pouco tempo, a fim de que o público O perdesse de vista, mas eles não sabiam nada da viagem. Ele havia levado com Ele aqueles rapazes inocentes, porque não se escandalizavam com Sua relação com os pagãos, e não observavam as coisas com muita atenção. Ele também os havia proibido estritamente de falar da viagem, e um deles disse com toda simplicidade: "O cego a quem proibiste de falar de sua cura, não ficou em silêncio, e ainda assim não o castigaste". Jesus respondeu: "Isso aconteceu para a glória de Deus, mas isso traria frutos de escândalo". Acho que os judeus, e até os próprios apóstolos, teriam ficado um pouco escandalizados se soubessem que Jesus tinha estado entre os pagãos.
Quando o sábado passou, o Senhor chamou-os novamente e lhes ensinou. Ele abençoou a água para eles e disse-lhes para prepararem para Ele um cálice como o usado por Mensur. E ali, como no lugar anterior, Ele os abençoou com pão e vinho tinto. No copo em que Eremenzear em sua chegada tinha colocado o ramo, a fim de mantê-lo fresco, havia uma substância verde-amarelada, algo como papa, que consistia na polpa de uma planta a partir da qual o suco tinha sido extraido. Este suco os nativos bebiam como algo sagrado. Vi Jesus a noite toda entre sábado e domingo ensinando em frente ao templo. Ele mesmo ajudou a quebrar os ídolos, e disse aos pagãos como eles deveriam distribuir o valor do metal. Vi-O também, como na terra de Mensor, impondo as mãos sobre os ombros dos sacerdotes, ensinando-os a dividir o pão abençoado, e aqui e ali preparando a bebida. O vaso usado ali, porém, era maior.
Azarias mais tarde tornou-se sacerdote e mártir. As duas mulheres também que Jesus curou ali, foram depois martirizadas como Cuppes. O Senhor falou contra a multiplicidade de esposas, e deu instruções sobre o estado casado. A esposa de Azarias, bem como Ratimiris, queriam que Jesus as batizasse imediatamente. Ele respondeu que sim, mas que não seria oportuno. Ele devia primeiro retornar ao Pai e enviar o Consolador, após o qual Seus Apóstolos viriam e os batizariam. Eles deveriam, disse Ele, viver no desejo do Batismo e na submissão à Sua vontade, e tais disposições serviriam, para aqueles que pudessem morrer no ínterim, como Batismo. Ratímiris foi de fato batizada sob o nome de Emily por Tomás quando, três anos após a Ascensão de Cristo, ele visitou aquele país acompanhado por Tadeu e César. Eles vieram de uma direção mais do sul do que Jesus, e foi então que os Reis e seu povo foram batizados.

Jesus vai a Sicdor, Mozian e Ur

De Átomo, Jesus foi primeiro para o sul, depois para o leste, através de uma região muito fértil, cortada por rios e canais e plantada com árvores frutíferas de vários tipos, especialmente pêssegos, que cresciam em longas fileiras. Ouvi os nomes de Eufrates, Tigre, Caldeia, e acho que Ur, a terra de Abraão, e o lugar onde Tadeu sofreu o martírio não estavam muito distantes. Por volta do anoitecer, Jesus chegou a uma fileira de casas de telhado plano ocupadas por caldeus. Ouvi dizer que Sikdor era o nome do lugar em que foram estabelecidas duas escolas, uma para os sacerdotes do país e a outra para as moças. O povo não estava tão bem vestido como os da cidade real das tendas. Eles usavam apenas cobertores sobre suas faixas, mas eram bons, e tão humildes que pensavam que apenas os judeus eram os escolhidos para a salvação. Eles tinham em uma colina uma pirâmide cercada por galerias, assentos e imensos tubos apontados para o alto através dos quais observavam as estrelas. Também prediziam eventos futuros a partir do curso dos animais e interpretaram sonhos. Seu templo, com seu pátio e sua fonte, era de forma oval e ocupava o centro do lugar. Ele continha inúmeras estátuas metálicas de requintado trabalho. O principal objeto de se notar era uma coluna triangular sobre a qual descansavam três ídolos. O primeiro tinha muitos pés e braços, o primeiro não com forma humana, mas como as patas de animais. Em suas mãos, ele segurava um globo, um círculo, uma grande maçã costelada em um caule e cachos de ervas. O rosto da figura era como o sol, e seu nome era Mytor, ou Mitras. O segundo era um unicórnio, e chamava-se Asphas, ou Aspax. Este animal era representado no ato de usar seu chifre em uma luta contra uma besta selvagem que estava de pé no terceiro lado da coluna. Tinha a cabeça de uma coruja, um bico gancho, quatro patas com garras, duas asas e uma cauda, cujo último apêndice terminava como o de um escorpião. Acima desses dois animais, a saber, o unicórnio e a besta selvagem, e projetando-se de uma das arestas afiadas da coluna, ficava outra figura, que representava a mãe de todos os deuses. O nome dela era Mulher, ou Alfa. Ela era a mais poderosa de todas as suas divindades, e quem desejasse obter alguma coisa do deus supremo era obrigado a implorar por intermédio dela. Chamavam-lhe, igualmente, o Grão. Da figura saia um grande feixe de trigo, aparentemente crescendo, que ela agarrava com as duas mãos. A cabeça estava inclinada, e no pescoço, abaixado entre os ombros, descansava um vaso de vinho. Acima da figura estava pendurada uma coroa, e acima da coroa estavam inscritas na coluna duas letras, ou símbolos, que me pareciam um O ou um W. A lição ensinada por estas ilustrações era que o trigo se tornaria pão e que o vinho embebedaria toda a humanidade.
Havia além no templo um altar de bronze, e o que foi a minha surpresa de ver sobre ele, sob uma cúpula giratória, um pequeno jardim circular com trilhos de fio de ouro como uma gaiola de pássaro, e acima dela a imagem de uma jovem virgem! No centro do jardim, coberto por um pequeno templo, havia uma fonte com várias bacias seladas, uma sobre a outra. Na frente da fonte erguia-se uma videira verde com um cacho de uvas vermelhas, que se inclinava sobre uma prensa cuja forma me lembrava de uma cruz. Do extremo superior de um caule alto projetando um funil em forma de, auto-abertura, bolsa de couro com dois braços móveis, através do qual o suco das uvas colocadas nele poderia ser pressionado para fora e deixado fluir para baixo sobre o caule. O pequeno jardim tinha cerca de um metro e meio de diâmetro. Era plantada com delicados arbustos verdes e pequenas árvores, que, como a videira e suas uvas, pareciam perfeitamente naturais. Eles deviam este símbolo ao seu olhar para as estrelas, e eles tinham muitos outros que refletiam seus pressentimentos da Mãe de Deus. Sacrificavam animais, mas tinham um horror especial ao sangue, que sempre deixavam correr pela terra. Eles também tinham seu fogo sagrado e água, seu cálice de suco de vegetais, e seus pequenos pães, como o povo de Atom. Jesus os repreendeu por sua idolatria e por misturarem previsões e prognósticos celestiais com erros satânicos. Ele disse: "Os seus símbolos tinham algo de verdade, mas eles discordavam e eram conduzidos pelo demônio". Ele explicou-lhes o símbolo do jardim fechado. Disse-lhes que Ele mesmo era a videira cuja seiva, cujo sangue, vivificaria o mundo, que Ele mesmo era o grão de trigo que devia ser enterrado na terra para de lá ressuscitar. Jesus falou ali muito mais livremente, muito mais significativamente do que entre os judeus, pois estas pessoas eram humildes. Ele os confortou dizendo-lhes que Ele tinha vindo por toda a humanidade, e ordenou-lhes que destruíssem seus ídolos e dessem seu valor aos pobres. Mostraram sinais de profundo sentimento quando ele estava prestes a sair deles, e lançaram-se aos seus pés do outro lado do caminho, a fim de impedir sua partida.
Algum tempo depois, vi Jesus com os quatro discípulos descansando sob uma grande árvore cercada por uma cerca. Estava em frente a uma casa, da qual lhes fora fornecido o pão e o mel que comiam. Eles viajaram durante toda a noite. Eu os vi numa planície caminhando às vezes sobre pedras brancas, às vezes sobre prados cobertos de flores brancas. No caminho, eles encontraram inúmeras árvores de pêssego. Às vezes, o Senhor pausava, apontava em volta e dizia alguma coisa aos discípulos. O país era atravessado por numerosos riachos e canais. Em geral, Jesus viajava com extraordinária rapidez. Às vezes viajava vinte horas sem interrupção. Seu caminho de volta à Judéia descrevia uma curva muito grande. Sempre tive a impressão de que Eremenzear escreveu alguns detalhes desta viagem, embora apenas alguns fragmentos de seu relato tenham escapado ao fogo que destruiu o resto.
Na tarde do segundo dia da partida deles de Sicdor, vi Jesus e os discípulos aproximarem-se de uma cidade fora da qual se erguia uma colina coberta de jardins circulares. A maioria deles tinha uma fonte no centro e eram plantados com belas árvores ornamentais e arbustos. O caminho tomado pelo Senhor ia para o sul; Babilônia ficava para o norte. Parecia que alguém teria de descer por um país montanhoso para chegar a Babilônia, que ficava bem abaixo. A cidade era construída sobre o rio Tigre, que passava por ela. Jesus entrou em silêncio e sem parar nos portões. Era tarde, mas poucos dos habitantes eram vistos, e ninguém se preocupava com ele. Logo, porém, vi vários homens em longas vestes, como as usadas por Abraão, e com lenços enrolados em volta da cabeça, vindo ao Seu encontro e inclinando-se humildemente diante d'Ele. Um deles estendeu para Ele uma vara curva. Era feita de cana, algo semelhante à que depois foi apresentada a Cristo em zombaria, e era chamada de vara da paz. Os outros, dois a dois, seguravam, do outro lado da rua, uma faixa de tapete sobre a qual Jesus andou. Quando Ele passou do primeiro para o segundo, o primeiro foi levantado e estendido antes do último para estar novamente pronto para uso, e assim por diante. Desta forma, chegaram a um pátio, sobre cuja entrada de grades com seus ídolos ondeava um estandarte sobre o qual estava representada a figura de um homem segurando um cajado torto como aquele apresentado a Jesus. O padrão era o padrão da paz. Eles levaram o Senhor através de um edifício cuja galeria flutuava outro estandarte.
Parecia ser o templo, pois em todo o seu interior havia ídolos velados, e no centro havia outro velado da mesma maneira, o véu sendo reunido acima dele para formar uma coroa. O Senhor não fez uma pausa ali, mas prosseguiu através de um corredor, em ambos os lados dos quais haviam apartamentos para dormir. Por fim, Ele e Seus assistentes chegaram a um pequeno jardim fechado plantado com delicados arbustos e plantas aromáticas, seus caminhos pavimentados em figuras ornamentais com diferentes tipos de pedra colorida. No centro erguia-se uma fonte sob um pequeno templo aberto por todos os lados, e ali o Senhor e os discípulos sentaram. Em resposta ao pedido de Jesus, os idólatras trouxeram água numa bacia. O Senhor primeiro abençoou-o, como se quisesse anular a bênção pagã, e então os discípulos lavaram os pés dEle e Ele os deles, após o que derramaram o que restava na fonte. Os pagãos então conduziram o Senhor a um salão adjacente aberto, no qual havia sido preparada uma refeição: grandes maçãs amarelas, costeletadas e outros tipos de frutas; favos de mel; pão na forma de bolos finos, como bolos; e outra coisa em pequenos bocados quadrados. A mesa em que estavam espalhados era muito baixa. Os convidados comiam de pé. A vinda de Jesus fora anunciada a estas pessoas pelos sacerdotes da cidade vizinha. Consequentemente, eles o esperavam o dia todo e finalmente o receberam com tanta solenidade. Abraão também havia recebido um bastão de boas-vindas, tal como fora apresentado a Jesus.
O nome desta cidade era Mozin, ou Mozian. Era uma cidade sacerdotal, mas mergulhada na idolatria. Jesus não entrou no templo. Vi-O ensinar uma multidão de pessoas numa colina de graduação cercada por uma parede. Estava em frente ao templo e perto de uma fonte. Ele os repreendeu severamente por terem caído na idolatria ainda mais profundamente do que seus vizinhos, mostrou-lhes as abominações de sua adoração e disse-lhes que haviam abandonado a Lei. Ouvi-O referindo-se à destruição do Templo no tempo de seus antepassados, e falando de Nabucodonosor e Daniel. Ele disse que deviam separar os crentes dos cegos espiritualmente, pois havia entre eles algumas almas boas, e a estas Ele indicou para onde deviam ir. Muitos dos outros eram teimosos. Havia um ponto que não compreendiam, e era a necessidade de abolir a poligamia. As mulheres viviam em uma rua para si no extremo da cidade, a qual, no entanto, havia comunicação por caminhadas sombreadas. Elas pareciam ser mantidos em grande desprezo, e depois de uma certa idade as meninas não ousavam aparecer em público. Nenhuma mulher daquele lugar viu a Jesus. Apenas os rapazes estavam presentes com os homens.
Jesus usou palavras severas para com essas pessoas. Eram, disse Ele, tão cegos, tão obstinados, que, quando o Mensageiro que Ele ia enviar aparecesse, os acharia despreparados para o Batismo. Jesus não ficaria mais tempo com eles. Ao sair da cidade, uma procissão de moças o encontrou na porta, cantando hinos de louvor em sua honra. Eles usavam calças brancas, tinham guirlandas em seus braços e pescoços, e flores em suas mãos.
De Mozian, Jesus foi com Seus companheiros através de um grande campo para uma aldeia de tendas de pastores. Ele sentou-se perto da fonte, os discípulos lavaram-lhe os pés, e alguns homens do lugar se aproximaram com um ramo de boas-vindas e o receberam alegremente. Eles estavam vestidos com roupas longas, mais parecidos com Abraão do que qualquer outro que eu já tivesse visto, e possuíam uma pirâmide astronômica. Não vi nenhum ídolo. Estas pessoas pareciam ser puros adoradores da estrela e pertencer àquela raça de quem alguns haviam acompanhado os Reis a Belém. Pareciam-me ser apenas um pequeno grupo de pastores, dos quais apenas o superior tinha uma morada permanente. Jesus comeu pão e frutas em sua casa de pé, e bebeu de um vaso especial. Ele depois ensinou no poço. Quando ele estava saindo deles, a multidão o cercava e suplicava-lhe que ficasse com eles.
Saindo daquele lugar, Jesus andou por toda aquela noite e pelo dia seguinte. Uma vez, vi-O com os discípulos a descansar um pouco junto a uma fonte, debaixo de uma grande árvore de sombra. Era um lugar de descanso público para viajantes, e ali Jesus comeu um pouco de pão e tomou uma bebida. A cidade para a qual Ele ia estava a trinta horas ao sul de Mozian, mas ainda no Tigre. Chamava-se Ur, ou Urhi. Jesus chegou lá naquela noite, antes do início do sábado. Abraão era da região. Jesus foi a um poço fora da cidade, que estava cercado por grandes árvores de sombra e bancos de pedra. Ali os discípulos lavaram os pés do Senhor e depois os seus próprios, baixaram as vestes, e entraram na cidade, cuja arquitetura me pareceu diferente de qualquer outra que eu tivesse visto naquelas partes. Os homens e as mulheres não pareciam viver tão separados. Havia muitas torres providas de galerias e tubos para a observação das estrelas, e a elas conduziam degraus tanto dentro como fora. As pessoas sabiam das estrelas da vinda do Senhor, por isso esperavam por Ele e aceitavam todo estranho por Ele. Portanto, quando alguns notaram a entrada de Jesus na cidade, apressaram-se para uma grande casa de telhado plano, que ficava em um grande espaço aberto, a fim de dar aviso de Sua chegada. Daquela casa, que parecia ser uma escola e da qual se agitava uma bandeira, saíram dalí vários homens em longas vestes de uma só cor, e foram ao encontro de Jesus. Estavam cingidos com cintos cujas extremidades penduravam longas e soltas, e usavam bonés redondos delimitados por um rolo de lã, ou pequenas penas, cujas tiras se juntavam no topo e formavam uma pluma. Os cabelos podiam ser vistos através deles. Os homens prostraram-se diante de Jesus, e então levaram-no a Ele e a Seus companheiros de volta à escola, que consistia num imenso salão. Para lá se ajuntavam multidões de pessoas. Jesus ensinou por um curto período de tempo de um assento elevado no topo de uma série de degraus, após o que foi conduzido a outra casa, na qual havia sido preparada uma refeição. Mas Jesus tomou apenas alguns bocados de pé, e então foi sozinho com os discípulos em um apartamento retirado onde eles celebraram o sábado. No dia seguinte, ensinou junto a uma fonte, num lugar aberto, sobre o qual havia um assento de pedra usado para ensinar. Todas as mulheres do lugar estavam presentes, e tão envoltas em suas roupas estreitas que mal podiam andar. Os seus chapéus eram como conchas, dos quais penduravam dois lençóis. Jesus falou de Abraão, e fez alguns comentários severos sobre o fato de que estavam afundados na idolatria. Havia templos idólatras ali, mas os ídolos eram velados. O Senhor não entrou em nenhum deles. Tomé não batizou estas pessoas na sua primeira visita a elas.
Quando Jesus saiu de Ur, as pessoas o acompanharam, espalhando ramos no caminho. Ele viajou em direção ao oeste por um longo tempo, sobre uma bela planície que no final tornva-se arenosa, e por último era coberta com vegetação rasteira. Por volta do meio-dia, chegaram a um poço junto ao qual sentaram-se para descansar. O restante da viagem foi feito através de uma floresta e por terras cultivadas, até que, ao anoitecer, chegaram a um grande edifício redondo cercado por um pátio e um fosso. Ao redor, haviam casas de telhado plano que pareciam pesadas. A do grande edifício estava coberta de vegetação e até mesmo de árvores, enquanto na parede maciça do pátio estavam as moradas de algumas pessoas pobres. Na fonte no pátio, Jesus e os discípulos lavaram os pés, como de costume. E alí, da casa redonda saiu dois homens em roupas compridas abundantemente cortadas com laços e fitas, e vestindo bonés de penas em suas cabeças. O mais velho dos dois carregava um ramo verde e um pequeno feixe de bagas, que apresentou a Jesus, que com os discípulos o seguiu até o prédio. No centro da casa havia um salão, iluminado do telhado, cuja lareira era alcançada por degraus. A partir deste apartamento circular, eles procediam ao redor através de quartos de forma irregular abertura um para o outro, e cuja parede final, côncava em forma, tinha tapetes pendurados, atrás do qual todos os tipos de utensílios eram mantidos. O chão era plano, e como as paredes cobertas com tapetes grossos. Em um desses apartamentos, Jesus e Seus companheiros comeram um prato simples e beberam algo de vasos nunca antes usados. O que era a bebida, eu não sei.
Depois do jantar, o dono da casa levou Jesus ao redor e mostrou-lhe tudo. O castelo inteiro estava cheio de ídolos lindamente forjados. Havia figuras de todos os tamanhos, grandes e pequenas, algumas com cabeça como a de um boi, outras como a de um cachorro, e o corpo de uma serpente. Um deles tinha muitos braços e cabeças, e em suas mandíbulas podiam ser colocadas todas as espécies de coisas. Havia também algumas figuras de bebês enrolados. Sob as árvores no pátio, estavam ídolos em forma de animais, por exemplo, pássaros olhando para cima, e outros animais em pé ao redor. Essas pessoas sacrificavam animais, mas tinham horror ao sangue, que sempre deixavam correr pela terra. Tinham, também, o costume de distribuir pão, do qual os mais distinguidos entre eles recebiam uma porção maior.
Jesus ensinou na fonte no pátio, e falou fortemente contra a sua adoração diabólica, embora Suas palavras não foram tomadas em boa parte. Vi que o chefe deles era particularmente obstinado em seus erros. Ele ficou irritado com Jesus, e até mesmo o contradisse. Então ouvi Jesus dizendo ao povo que, como prova da verdade de Suas palavras, na noite do aniversário da estrela aparecendo aos Reis, os ídolos cairiam em pedaços, os que representavam bois bramariam, os cachorros latiriam e os pássaros gritariam. E, quando os ouvissem, se mostrariam arrogantes e incrédulos. Isto foi o que Jesus disse a todos os que Ele visitou naquela viagem. Em todos os lugares em que parou no caminho para a terra dos gentios, predisse que isto aconteceria. Na noite santa de Natal, tive uma visão de toda esta viagem da cidade pagã perto de Quedar até a cidade das tendas dos Três Reis, e daí até este último castelo pagão; e em toda a parte eu vi os ídolos se desfazerem em pedaços, e ouvi bramidos, latidos e gritos daqueles que representavam animais. Os reis que vi em oração no seu templo. Numerosas luzes queimavam em torno do pequeno berço, e pareceu-me que agora havia a figura de um burro de pé perto dele. Eles, é verdade, já não reverenciavam seus ídolos; mas os que tinham a forma de animais gritavam como sinal de que Jesus era realmente Aquele a quem a estrela os havia conduzido, fato que talvez ainda fosse duvidoso por alguns fracos na fé.

Jesus vai ao Egito, ensina em Heliópolis e volta à Judéia pelo deserto

Do castelo dos ídolos, a rota de Jesus agora era para o oeste. Ele viajou rapidamente com Seus quatro companheiros, sem parar em lugar algum, mas sempre apressando-se. Primeiro, atravessaram um deserto de areia, subiram lentamente um íngreme cume da montanha, seguiram seu caminho por um país coberto de vegetação, depois atravessaram arbustos baixos como arbustos de zimbro, cujos galhos, juntando-se no alto, formavam uma caminhada coberta. Depois disso, chegaram a uma região pedregosa cheia de hera, de lá através de prados e bosques até que chegaram a um rio, não rápido, mas profundo, sobre o qual eles cruzaram em uma balsa de vigas. Ainda era noite quando chegaram a uma cidade construída em ambos os lados do rio, ou em um de seus braços, ou em um canal. Foi a primeira cidade egípcia em sua rota. Ali, sem que ninguém os observasse, Jesus e Seus companheiros retiraram-se para a varanda de um templo, onde havia alguns aposentos para os viajantes. A cidade pareceu-me muito arruinada. Vi grandes e grossas muralhas, enormes casas de pedra e muitos pobres. Tive uma percepção interior de que Jesus tinha viajado até ali pelo mesmo lado do deserto pelo qual os Filhos de Israel tinham vindo.
Na manhã seguinte, quando Jesus e os discípulos saíam da cidade, crianças corriam atrás deles, gritando: "Aí vão os santos!" Os habitantes estavam muito animados, visto que na noite anterior havia ocorrido grande agitação. Muitos dos ídolos haviam caído de seus lugares, e as crianças haviam sonhado e proferido palavras proféticas sobre certos "santos" que haviam entrado na cidade.
Jesus e os discípulos partiram apressadamente e mergulharam nas profundas ravinas que atravessavam a região arenosa. Naquela tarde, eu os vi, não muito longe de uma cidade, descansando e tomando alimento na fonte de um riacho, os discípulos tendo lavado os pés de Jesus. Perto de lá, em uma grande pedra redonda, estava estendida a figura de um cachorro em uma postura deitada. Tinha uma cabeça humana, a expressão do rosto bastante amigável. Ele usava um boné, como o usado pelas pessoas do país, uma faixa com lapelas penduradas entalhadas nas extremidades. A figura era tão grande como uma vaca. Sob uma árvore fora da cidade, ficava um ídolo cuja cabeça era como a de um boi. Tinha furos no corpo e vários braços. Cinco ruas conduziam da porta para a grande cidade, e Jesus tomou a primeira à direita. Corria ao longo da muralha da cidade, que era como uma muralha em cima da qual havia jardins e um caminho de carro. Na parte inferior das paredes havia moradias fechadas por portas leves de vime. Jesus e Seus discípulos atravessaram a cidade à noite sem falar com ninguém, nem ser notados por ninguém. Também ali haviam vários templos idólatras, e muitos edifícios maciços, em ruínas, em cujas paredes viviam pessoas.
A uma boa distância desta cidade, o caminho conduzia por uma imensa ponte de pedra, que atravessava o rio mais largo (o Nilo) que eu tinha visto naquela viagem. Fluía do sul para o norte, e dividiu-se em muitos braços que corriam em direções diferentes. O país era baixo e plano, e longe na distância eu vi alguns edifícios muito altos na forma dos templos dos adoradores de estrelas, embora construído de pedra e muito mais alto. O solo era extremamente fértil, mas apenas ao longo do rio.
A cerca de uma hora de distância daquela cidade em que Jesus, enquanto criança, morara com Sua mãe (Heliópolis), ele tomou a mesma estrada pela qual, com Maria e José, havia entrado nela. Estava situada no primeiro braço do Nilo, que flui na direção da Judéia. Vi aqui e ali, no caminho, pessoas cortando cercas, transportando vigas e trabalhando em valas profundas. Era quase noite quando Jesus se aproximava da cidade. Tanto Ele como os discípulos haviam tirado as suas vestes, algo que eu nunca os tinha visto fazer antes de chegarem ao seu destino. Alguns dos trabalhadores, ao verem Jesus, cortaram ramos das árvores e correram para o receber, prostraram-se diante dele e ofereceram-lhe. Depois de os ter tomado pela mão, espalharam-nos pelo chão ao longo do caminho. Não sei como reconheceram Jesus. Talvez eles soubessem por suas roupas que ele era judeu. Eles esperaram e esperaram que Ele viesse e os libertasse. Eu vi outros, no entanto, que pareciam indignados, e que corriam de volta para a cidade. Cerca de vinte homens cercaram Jesus quando ele entrou na cidade, diante da qual haviam muitas árvores.
Antes de entrar, Jesus parou perto de uma árvore que estava deitada de um lado de tal maneira que suas raízes estavam sendo arrancadas da terra, e em torno delas havia uma grande poça de água preta. Esta poça estava cercada por uma grelha de ferro alta, cujas barras estavam tão próximas que não se podia passar a mão. Neste lugar, um ídolo havia afundado na época da fuga de José e Maria com o Menino Jesus para o Egito, ocasião em que a árvore também havia sido arrancada. As pessoas conduziram Jesus à cidade. Diante dela havia uma grande pedra, quadrangular, perfeitamente plana, na qual, entre outros nomes, estava inscrito um que fazia referência à cidade e que terminava na sílaba polis. Dentro da cidade, vi um templo muito
 grande cercado por dois pátios, várias colunas altas que se afunilavam em direção ao topo e ornamentadas com numerosas figuras, e muitos cães enormes com cabeças humanas, todos em uma postura reclinada. A cidade mostrava evidentes sinais de decadência. As pessoas levaram a Jesus sob a projeção de uma parede espessa em frente ao templo, e chamaram vários dos cidadãos da vizinhança. Então se ajuntaram muitos judeus, jovens e velhos, entre estes últimos alguns homens muito idosos, com barba comprida. Entre as mulheres havia uma, alta e avançada em anos, que me agradou especialmente. Todos receberam Jesus respeitosamente, pois tinham sido amigos da Sagrada Família na época da sua estadia ali. Na parte de trás da parede que se projetava havia um espaço, agora ornamentado em estilo festivo, no qual São José tinha preparado uma morada para a Sagrada Família. Os homens que tinham em sua infância vivia neste bairro com Jesus, apresentou-Lhe a ele. O apartamento era iluminado por lâmpadas penduradas.
Naquela noite, Jesus foi escoltado por um judeu muito idoso até a escola, que era muito habilmente dirigida. As mulheres tomaram sua posição de volta em uma galeria de grades, onde elas tinham uma lâmpada para si mesmas. Jesus orava e ensinava, pois eles reverentemente O priorizavam. No dia seguinte, voltei a vê-lo ensinar na sinagoga.
Os habitantes daquela cidade usavam faixas brancas em volta da cabeça, suas túnicas eram curtas, e apenas uma parte de seus ombros e peito era coberta. Os edifícios eram extraordinariamente largos e maciços, construídos de imensos blocos de pedra sobre os quais eram esculpidas numerosas figuras. Vi também grandes figuras que carregavam pedras prodigiosas, algumas no pescoço, outras na cabeça. O povo desse país praticava a idolatria mais extravagante. Em toda parte se encontravam ídolos em forma de bois, cães deitados com cabeças humanas e outros animais mantidos em peculiar veneração em lugares especiais. Quando Jesus, escoltado por muitos dos habitantes, saiu de Heliópolis, levou consigo um jovem da cidade, que agora se tornara seu quinto discípulo. Seu nome era Deodato, e o de sua mãe era Mira. Ela era aquela velha senhora alta que, na primeira noite da chegada de Jesus, estava entre os que O receberam sob o pórtico. Durante a estadia de Maria em Heliópolis, Mira era sem filhos; mas, pela oração da Virgem Santíssima, este filho lhe foi dado depois. Ele era alto e magro, e parecia ter cerca de dezoito anos de idade. Quando a sua escolta voltou para a cidade, vi Jesus a caminhar pelo deserto com os seus cinco discípulos. Ele tomou uma direção mais a leste do que a tomada pela Sagrada Família na sua fuga para o Egipto. A cidade em que Jesus acabara de estar era chamada Eliópolis (Heliópolis). O E e o L estavam unidos um atrás do outro, algo que eu nunca tinha visto antes, pelo que pensei que havia um X na palavra.
Por volta do anoitecer, Jesus e Seus discípulos chegaram a uma pequena cidade no deserto habitada por três tipos diferentes de pessoas: judeus, que moravam em casas sólidas; árabes, que moravam em barracas construídas com galhos cobertos de pele; e ainda outro tipo. Essas pessoas haviam ido para lá quando Antíoco devastou Jerusalém e expulsou muitos de seus habitantes. Eu vi o caso todo. Um velho sacerdote piedoso matou um judeu que tinha ido para a frente para sacrificar ao ídolo, derrubou o altar, convocou todas as pessoas boas e, como um herói, manteve a Lei e o testamento de Deus. Foi durante esta perseguição que estas boas pessoas fugiram para lá. Eu vi também o lugar em que eles viveram. Os árabes, tendo-se juntado a eles, também foram expulsos com eles. Em um período ainda posterior, eles, os árabes, caíram novamente na idolatria. Como de costume, o Senhor foi à fonte, onde foi recebido por algumas pessoas e conduzido a uma de suas casas. Ali Ele ensinou, pois eles não tinham escola. Jesus disse-lhes que estava próxima a hora em que ele deveria voltar ao Pai, que os judeus o maltratariam, e ele falou como tinha feito em toda parte nesta viagem. Mal podiam acreditar no que ouviam, e queriam muito mantê-lo com eles.
Quando ele saiu de lá, dois novos discípulos o seguiram, os descendentes de Matatias. Os viajantes agora mergulhavam mais fundo no deserto e continuavam apressadamente dia e noite, com apenas breves intervalos de descanso. Eu os vi em um local adorável de belos cercados de bálsamo tomando algum descanso naquela fonte que tinha brotado para a Sagrada Família em sua fuga para o Egito, e com cujas águas Maria tinha se refrescado e banhado seu filho. A estrada pela qual Jesus voltou do Egito para lá cruzava a estrada tortuosa que Maria tomara na sua fuga para lá. Maria tinha vindo por uma rota indireta do lado ocidental do deserto, mas Jesus tinha tomado a rota oriental, que era mais direta. Em Sua viagem da Arábia para o Egito, Jesus podia divisar à Sua direita o Monte Sinai que estava à distância.
Quando Jesus chegou a Bersabée, ensinou na sinagoga. Ele declarou formalmente a Sua identidade, e falou do Seu fim iminente. De lá também ele levou com ele alguns jovens em sua partida. Era cerca de quatro dias de viagem de Bersabée até o poço de Jacó, perto de Sicar, o lugar designado para Jesus e os Apóstolos se encontrarem novamente. Antes de começar o sábado, Jesus chegou a um lugar no vale de Mambre, onde celebrou o sábado na sinagoga e ensinou. Ele também visitou as casas dos habitantes e curou os doentes. Dali até ao poço de Jacó, devia ser no máximo vinte horas. Jesus agora viajava mais de noite, para que a notícia de Sua volta à Judéia não fosse ocasião de algum repentino levantamento entre o povo. Ele tomou a rota através dos vales de pastores perto de Jericó até o poço de Jacó, onde Ele chegou durante o crepúsculo da noite. Ele tinha agora dezesseis companheiros, uma vez que alguns outros jovens O haviam seguido do vale de Mambre. Na vizinhança do poço havia uma pousada onde, em um lugar trancado, era armazenado tudo o que era necessário para contribuir para o conforto do viajante quando ele parasse para descansar. Um homem teve o cuidado de abrir a pousada e o poço. O território que se estendia de Jericó até Samaria era de indescritível beleza. Quase toda a estrada era cercada de árvores, os campos e prados eram verdes, e os riachos fluíam suavemente. O poço de Jacó estava cercado por belos campos de grama e árvores de sombra. Os apóstolos Pedro, André, João, Tiago e Filipe estavam ali à espera de Jesus. Elas choraram de alegria ao vê-lo novamente e lavaram os pés dele e dos discípulos.
Jesus estava muito sério. Ele falou da aproximação de Sua Paixão, da ingratidão dos judeus e do julgamento que os aguardava. Era agora apenas três meses antes de Sua Paixão. Eu sempre vi que a festa da Páscoa cai na hora certa quando acontece no final da estação. Jesus foi com Seus dezesseis novos discípulos visitar os pais de Eliud, Silas e Eremenzear, que moravam numa aldeia de pastores não muito longe. Os apóstolos, porém, foram a Sicar para o sábado.